Eu tinha 17 anos. Tinha
acabado de chegar à pequena cidade de Pirapora, Minas Gerais, para onde fôramos
meio que fugidos da ditadura militar. Não tinha amigos, não tinha nada além de
um velho toca-discos dado pela minha tia Zaíra. Era uma mudança muito radical.
Desde o Rio Grande, onde tínhamos uma vida boa, para Minas, passando todas as
necessidades. Minha mãe tuberculosa, meu pai tentando sobreviver, e nós, os
três filhos, perdidos num universo cultural tão diferente.
Foi ali que eu encontrei o
Belchior. Seu disco “Alucinação” tinha sido comprado por mim quase ao acaso. Saída
da fronteira com a Argentina, gaúcha, charrua e paysana, sua música “Apenas um
rapaz latino-americano” me emocionava demais. Era eu mesma naquela canção. E eu
a cantava entre lágrimas.
Cada uma de suas músicas
atiçava meu coração e minha mente. Viver coisas novas, amar e mudar as coisas,
não ser como nossos pais. Na velha casa da rua Argemiro Peixoto eu sonhava em
sair pelo mundo, feito faca, cortando a carne daqueles que eram os vilões do
amor. Naqueles dias, passávamos as tarde de sol no Xangô, um bar em frente às
duchas do rio São Francisco. E lá também estava Belchior. Olhava aquele rio
cheio de caixões e corredeiras e sabia que a vida era muito mais do que estar
ali, vendo a água passar.
Um dia, então, peguei
minha mochila e saí para o mundo. Nunca mais voltei. Tinha seguido aquela
canção do garoto de Sobral. Sabia que era preciso mudar as coisas.
Belchior incendiou minha
vida, minha mente, meu caminho. E entre as chamas eu segui, esquivando e
esgrimindo as coisas ruins. Toda minha vida teve Belchior como trilha sonora,
sempre... E quando ele andou sumido, fazendo coisas doidas, eu sorri. Ah, Belchior!
Tu podias tudo, poeta, amigo, louco sonhador, mente inquieta, rebelde. Sentia
tua falta, mas tu já eras eterno. Bastava um clique e ali estavas.., Com tua
poesia cortante, nos empurrando para frente.
Hoje, quando enfim entendi
que já não estavas mais nesse plano, chorei sem parar, horas e horas. Vinhas
fazer parte de uma série de perdas que me estão corroendo a alma. Chiquinha, Bartolina
e agora, contigo, minha juventude, parte de minha vida toda. O outono da vida me
pegou, tantas dores, tantas perdas, inclusive a de mim mesma.
Mas é o mesmo Belchior que
nos instiga: Não sou feliz, mas não sou mudo... Hoje eu canto muito mais. As coisas
que nos dilaceram, nos corroem, nos paralisam, são parte dessa vida humana,
demasiado humana. Mas, é preciso seguir...
Tu encantas Belchior... tua
obra gigante fica... E a gente segue, até que chegue nossa hora. Porque a noite
eu tenho um compromisso e não posso faltar...
Brilhando em outras galáxias, Lindo Ser Iluminado, chegou aqui na terra e prossegue seus Caminhos 🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟✨Amiga Silvia😢
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