Alzheimer/Velhice

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Medalha Zumbi dos Palmares





















Homenagem e luta, sempre.

A honraria, concedida pela Câmara de Vereadores de Florianópolis, foi instituída pelo primeiro vereador negro da casa, Márcio de Souza, e homenageia as pessoas que se destacam na luta contra o racismo, a discriminação e na luta pela cultura popular. Assim, todos os anos, aquela que deveria ser a casa do povo todos os dias, se enche de gente para reivindicar uma vida boa para todos, sem discriminação. 

Esse ano, o vereador Lino Peres, em reconhecimento a intensa e dolorosa luta do povo Guarani pela demarcação das suas terras, indicou o nome da Cacica Kerexu Yxapyry, da comunidade do Morro dos Cavalos. Segundo ele, homenagear essa mulher de garra e firmeza, é também apontar para a sociedade a necessidade de se reconhecer a terra indígena e o direito dessas famílias de viver em paz no seu território.

Nos últimos anos, a comunidade da aldeia Itaty tem sido alvo de sistemática campanha discriminatória e racista por parte de alguns meios de comunicação e famílias da região. A Cacica Kerexu já foi ameaçada de morte várias vezes, a aldeia já foi invadida e o medo ronda a aldeia cotidianamente. Mas, apesar de tudo isso, os Guarani resistem e insistem em lutar pelo território que lhes é de direito.

A homenagem à cacica, num espaço quase sempre reservado ao negro, abre também uma vereda para que se pense a tragédia vivida pelos povos originários, irmãos na dor com as comunidades que foram escravizadas, raptadas de suas terras e trazidas à força para a América. Esses dois povos tem, na verdade, uma história entremeada por violência, dor e destruição.  Por isso, esse ano, a entrega da medalha Zumbi dos Palmares foi um momento único. Entre vários negros e negras que se destacam na luta contra o racismo e pela valorização da cultura brasileira, ali estava, ornada com flores e delicadezas, a guerreira Kerexu, filha originária dessa terra.

No plenário, seus parentes, meninos, meninas e jovens, acompanhavam orgulhosos. E de suas mãos brotavam os cartazes contra a PEC 215 que pretende mudar a Constituição entregando para as mãos dos deputados a tarefa de demarcar terras, um desejo dos latifundiários para se adonar do território indígena. A luta contra a PEC é a batalha mais dura dos povos originários esse ano e os Guarani do Morro dos Cavalos tem sido incansáveis na peleia.

Irmanadas com o povo negro, as gentes originárias sabem muito bem o que é o racismo e a discriminação. Juntos, eles caminham, tecendo dia a dia o difícil manto do bem-viver. Foi uma tarde memorável, misturada de Axé e de Eco Porã.



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