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sexta-feira, 12 de junho de 2015

Mosteiro da trindade - centro da religiosidade russa





Serguiev Possad, a 70 quilômetros de Moscou, é o centro da religiosidade russa. Ali fica o belíssimo Mosteiro da Trindade, sede central da Igreja Ortodoxa, cujas bases foram assentadas pelo mais venerado dos santos russos, Sérgio de Radonej, que é também patrono do país. Ele nasceu em Rostov, em 1314, filho de família nobre e poderosa. Tinha tudo para viver tranquilo na riqueza mas, preferiu pregar pelo país. Em 1345, em Possad, ergueu a primeira igreja em honra da santíssima trindade, toda em madeira. Mais tarde outros mosteiros se somaram e hoje formam uma maravilha arquitetônica da fé ortodoxa.  Sérgio morreu em 25 de setembro de 1392 e suas relíquias estão na Catedral da Santíssima Trindade.

Em 1408 todo o mosteiro foi devastado durante uma invasão tártara, mas em 1422, quando São Sérgio foi declarado padroeiro da Rússia, começou a ser levantada a primeira catedral de pedra. Os mais importantes pintores de ícones da Rússia, Andrei Rublev e Daniil Chyorny, foram chamados para decorar a nave central. Em 1476, Ivan III chamou vários mestres de Pskov para construir a Igreja do Espírito Santo, famosa até hoje por seus sinos. 

A Catedral da Assunção levou 26 anos para ser construída, e foi  encomendada por Ivan IV, em 1559. Ela é bem maior que a Catedral da Dormição, que fica no Kremlin em Moscou. No final do século XVII, quando Pedro I se refugiu dos inimigos no mosteiro, várias construções já tinham sido adicionadas ao local. A Igreja da Natividade de João Batista, com cinco cúpulas, foi encomendada pelos Stroganovs.

Durante mais de quatro séculos aquele foi o mosteiro mais rico de toda a Rússia, atraindo milhares de pessoas para rezar e ver seus manuscritos medievais. Mas, em 1917, com a revolução russa, os monges forma presos, os mosteiros e igrejas foram fechados, sendo os de Possad transformados em prédios públicos e museu. Em 1930 vários dos famosos sinos foram destruídos, embora os seguidores da fé tenham conseguido salvar alguns, que hoje já estão de volta no local. 

Em 1945, durante a grande guerra, Stalin permitiu que os mosteiros voltassem para as mãos da igreja, tornando-se então sede do Patriarcado (moradia do Patriarca, grau maior dos monges da igreja ortodoxa). E, finalmente, em 1993, o complexo tornou-se patrimônio mundial da humanidade. 

Hoje, é intenso o fluxo de fiéis e turistas. Vivem ali 300 monges e 700 estudantes. Todos os prédios foram restaurados e o conjunto fulgura na paisagem como uma joia. Para boa parte dos russos, se há algo que se configura imperdoável ao regime soviético, é justamente o fato de terem destruído, desprezado ou subutilizado as igrejas e mosteiros. A religiosidade é um dos elementos mais presentes na vida do povo russo.

Mesmo antes da chegada da igreja ortodoxa, em 988, os russos adoravam vários deuses. Muitos deles ainda permanecem no imaginário cultural e a população os cultua mesmo sem saber. Um exemplo disso é o costume de ornamentar as janelas da frente das casas para impedir a entrada de maus espíritos. É que no passado, os ídolos e símbolos da velha religião eram colocados nos batentes, justamente para afastar as coisas ruins. Também o galo que se vê em quase toda casa russa tem origem nas antigas tradições espirituais. Ele desperta o sol e dissipa a escuridão.  

Com a entrada da fé cristã, pela via ortodoxa, a partir de missionários vindo da Estônia, os velhos deuses foram sumindo e com a ajuda das famílias reais a igreja foi abrindo espaço e poder. A tal ponto de nos kremilins ( cidadelas fortificadas onde fica o centro do poder russo) ficarem, juntas, a residência do príncipe e do patriarca. 

Hoje, na Rússia pós-soviética, há uma retomada do poder da igreja e da fé. O Mosteiro da Trindade, em Possad, é um exemplo vivo de tudo isso. Tão movimentado quanto o Vaticano, ele é atualmente destino prioritário para os peregrinos russos. E ninguém sai de lá sem alguma relíquia de São Sérgio.


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