Fotos: rubens lopes
E, então, a marcha Guarani, proposta pelas comunidades
indígenas para protestar contra a RBS e sua política de desinformação, também
se fez negra. No dia 22 de agosto, quando em todo o Brasil o povo negro se
levantava na Segunda Marcha Nacional contra o genocídio da população negra, em
Florianópolis, militantes se uniram a caminhada indígena em solidariedade e em
luta. Os negros e negras se manifestaram
potencializando a mensagem daqueles que, mesmo sendo maioria, seguem excluídos
da vida digna nesse país. E, não bastando isso, ainda são submetidos a um
sistemático processo de genocídio, com a morte cotidiana de sua juventude. Não passa um dia sem que um negro tombe nessa
batalha sem quartel de criminalização, preconceito, racismo e opressão.
Santa Catarina é conhecido como o estado que tem o menor
índice de negros no Brasil (11% da população) e, por conta disso, é comum se
ouvir que por aqui não há nenhum problema de racismo ou de violência contra o
povo negro. Isso não é verdade. Assim, a comunidade precisa fazer o combate em
duas frentes. Primeiro, mostrar que existem negros por aqui e, depois, mostrar
que sofrem o racismo e a violência, exatamente como em todos os estados do Brasil.
Apesar de a escravidão ter chegado mais tarde nas terras do
sul ela veio com todas as mazelas e, ao terminar, também deixou uma população
negra na margem da vida. Livres, mas nem tanto, uma vez que como nos demais
estados do país, não houve políticas de inclusão. Assim, em lugares como Florianópolis,
o destino do povo negro foi a periferia da cidade, mas com a expansão do
comércio e o surgimento de famílias abastadas logo foram empurrados para os
morros. Sabe-se que desde a metade do 1700, bem antes da abolição, já havia
famílias de negros, a maioria formada por fugitivos da escravidão e recém
libertos, vivendo no maciço do morro da cruz. Logo, por aqui também vicejaram
os quilombos, espaço de liberdade e resistência.
Com o crescimento da cidade, mais e mais famílias foram
subindo as encostas e formando comunidades. Hoje, muitos destes espaços são
considerados “perigosos” e recebem frequentes visitas da polícia, no mesmo “estilo”
que as comunidades de periferia das grandes cidades do país. Tanto que desde
alguns anos formou-se um movimento de mães de jovens assassinados clamando por
justiça, denunciando a política racista que sistematicamente liga a figura do
negro à marginalidade. A cor é motivo de suspeição.
E, não bastasse a violência do estado, o racismo também se
expressa nos lugares mais inauditos. Com a política de cotas que agora existe
na Universidade Federal, até nesse que deveria ser um centro de respeito aos
direitos, de criação do saber e de vanguarda, o racismo aparece com força. Há
poucos meses um estudante branco postou a foto de um casal negro, na qual o
homem entregava um cacho de bananas à mulher. Isso gerou uma reação imediata dos
estudantes negros da UFSC, que agora já são em um bom número, tornando-se
visíveis. Esses estudantes realizaram protestos e abriram uma frente de luta
importantíssima dentro do campus, mostrando que agora eles estão ali e querem
muito mais do que integrar-se a uma cultura universitária eivada de
preconceitos e discriminação. Hoje, eles circulam afirmando sua identidade, com
elementos da sua cultura e, principalmente, atentos ao racismo – sempre recorrente
- prontos para o combate.
E foi para dar visibilidade à luta e denunciar o genocídio que
os militantes negros marcharam junto com o povo Guarani, com os quilombolas,
com os sem-terra, os sindicalistas e militantes sociais, mostrando que o povo
negro existe, é forte, é unido e tem direito à cidade. Na luta contra o racismo
e a discriminação e contra a matança sistemática da juventude negra, aqui e em todo
o Brasil.
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