fotos: rubens lopes
A caminhada dos Guarani em protesto contra a campanha
sistemática do grupo RBS de desinformação e fortalecimento do preconceito, além
de toda a força expressada na união de
vários movimentos de luta da cidade, teve seu momento de singela emoção.
Misturadas às gentes, estavam algumas famílias da Ocupação Amarildo. Essa
ocupação virou a cidade de pernas para o ar, em dezembro de 2013, quando cerca
de 60 famílias entraram em um terreno ocioso no caminho da praia de Canasvieiras,
colocando luz sobre todo um processo de grilagem de terra, envolvendo impolutos
empresários locais.
A ocupação Amarildo também desvelou uma face escondida da
ilha da magia, que muitos preferem fazer de conta que não existe: a existência
de milhares de famílias que não conseguem pagar os altos aluguéis e garantir a
vida de seus filhos. Tanto que em poucos dias de existência a ocupação passou
de 60 para 470 famílias acampadas, arriscando os parcos recursos na luta por
terra, trabalho e moradia.
Durante meses os “amarildos” foram notícia na cidade,
ocupando os espaços públicos, denunciando a grilagem, questionando o sistema,
exigindo respostas da justiça e do estado. Meteram o dedo bem fundo na ferida e
pagaram caro por isso. Em abril de 2014 as famílias acabaram despejadas do
terreno em Canasvieiras. A elite local não queria saber de pobre na praia. E,
no cair de uma noite cálida, lá estavam os caminhões, para retirar as pessoas,
as tralhas e os bichos. Não havia para onde ir.
O braço estendido aos amarildos foi o braço Guarani. Da
terra ocupada eles foram levados para a terra indígena que os abrigou até que conseguissem
se fortalecer e rearticular o movimento. Hoje, as famílias da ocupação estão
numa terra garantida pelo Incra, na grande Florianópolis.
E foi em nome desse braço estendido, de um povo tão sofrido
e oprimido quanto eles, que vieram de suas terras para a caminhada. Aquele era
um compromisso de solidariedade concreta. Um desses momentos únicos de
expressão de gratidão.
A bandeira vermelha dos amarildos tremulou bonita, mostrando
que ainda há ternura na luta e que o povo, unido, avança seguro. Foi uma cena bonita de se ver...
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