Livro que conta a vida da freira franciscana que organizou as mulheres prostituídas de Lages será lançado dia 28 de março, na Praça Joca Neves
“Faz calor em Vacaria, interior do Rio Grande do Sul. São pouco mais de duas da tarde e, talvez por ser ainda tão cedo, os bares estejam vazios. Dois deles estão quase em frente à famosa Casa do Povo, um projeto arquitetônico de Oscar Niemayer. São modestos. Um balcão de madeira velha, algumas mesas de lata, cortinas de pano desbotado. Ali “se faz a vida” como diz a Irmã Olímpia, freira franciscana que desde os anos 80 se dedica a organização das mulheres marginalizadas. E é bem em frente a eles que a irmã para o carro e desce para uma visita. Do fundo do balcão os olhos de Sabrina se acendem. Ela abre os braços e corre para a porta pronta para enlaçar o corpo da freira num apertado abraço. Olímpia pergunta da família, das outras moças, conta histórias, dá boas risadas e se deixa ficar. Sabrina pergunta das reuniões, do encontro que vai acontecer em Caxias, para o qual ela e outras mulheres já estão se preparando. Elas combinam coisas, trocam informações e lá se vai Olímpia de novo, para outro bar”.
Essa é parte da vida da freira franciscana que a jornalista Elaine Tavares registra no livro “Olímpia Gayo visita o diabo”, lançado pela Companhia dos Loucos, editora independente de Florianópolis. Olímpia é reconhecidamente uma das mulheres mais importantes no âmbito da luta de classe do estado de Santa Catarina. Numa cidade conservadora, como Lages, na serra catarinense, ela ousou organizar as empregadas domésticas, os negros e as prostitutas. Nos anos 80, quando a Aids faz sua aparição no mundo, ela está mergulhada no processo de organização das mulheres prostituídas e acaba sendo fundamental na batalha pela proteção das mulheres no sexo e contra a discriminação.
Sua história começa na pequena comunidade de Nova Roma, onde nasceu, mas é em Ipoméia, Santa Catarina, que aos 13 anos decide ser freira. A partir daí toda sua existência vai sendo marcada pela entrega ao outro, no amor e na compaixão. Bem mais tarde, será em Lages que ela vai consolidar o trabalho de organização das mulheres, abrindo portas para a emancipação feminina em todo o estado. Seu nome já está eternizado como uma precursora e mesmo com todas as adversidades que encontrou dentro e fora da igreja, ela nunca se dobrou. Hoje, vivendo em Vacaria, Olímpia segue seu trabalho junto aos marginalizados.
Toda a rica história dessa vida de comunhão com o oprimido está agora também eternizada em livro. E a cidade de Lages poderá, finalmente, conhecer a intimidade dessa mulher que foi como um farol a iluminar a vida de tantas mulheres. Será também o momento de a cidade se ver desnuda na sua relação com as mulheres prostituídas. Um olhar para dentro. Um mergulho que vale a pena ser feito.
O livro “Olimpia Gayo visita o diabo” - cujo título evoca os “diabos” que precisaram ser enfrentados ao longo da caminhada - será lançado no Salão do Livro da Serra Catarinense, evento promovido pela Fundação Cultural de Lages, nesse dia 28 de março, sexta-feira, às 18h, na Concha Acústica da Praça Joca Neves, no centro de Lages, com a presença da autora – jornalista Elaine Tavares - e da irmã Olímpia Gayo.
Vale a pena conferir essa história que é parte da história da cidade de Lages.
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