O dia começa tenso. Muita coisa pra fazer e as horas parecem não dar conta. Trabalho demais, estrutura de menos, demandas excessivas, encheção de saco por parte de quem não faz nada, TPM, dores pessoais. Tudo conspira para uma grande explosão. O tempo vai passando e a pressão aumenta. O coração dispara, a mente desatina, o corpo enrijece.
Então aquele mais importa joga a última gota, a que faltava. O mundo desaba. O dia escurece, a ira aflora, a mágoa rói. Mas, é preciso reprimir, afinal, ninguém tem culpa das nossas misérias. Esse é o destino de quem se faz tanque de guerra. Por fora, lago sereno. Por dentro, vulcão.
Na hora de ir embora a chuva aparece. Jorra forte, intensa, parece zombar do turbilhão que assoma lento, mas furioso. Vou para a parada do ônibus, cheia de bolsas, carregada do peso dos livros. O horário falha. O ônibus não vem. Um carro passa sobre a poça de água e a roupa encharca. Os minutos se arrastam. Passam-se 45 minutos e eu molhada feito um pinto. Quando vem, o buzão está lotado, pois pulou um horário. Não há lugar para sentar.
Lá vou eu, o peito ardendo, segurar a onda de enfrentar o trajeto até o Rio Tavares, em pé, com duas sacolas, espremida feito sardinha. Com a chuva, o trânsito está mais lento do que o normal, sinal de que será uma longa jornada. Uma hora e quarenta minutos para fazer menos de 30 quilômetros. Algumas mulheres gritam para que se abra a janela. Tem medo da gripe suína. Outros não querem nem saber de se molhar. O ônibus parece uma panela de pressão. Todos se olham com raiva.
Quando chega ao terminal, lá se vai o Castanheira. Por um minuto perco o segundo buzú. Toca esperar mais 30 minutos no vento frio. Sinto que se alguém me tocar, explodo! Então, finalmente sigo para casa. Mais 30 minutos pelas ruas do Campeche. Quando salto no ponto a chuva está torrencial. Prioridade para os livros. Tiro o casaco e embrulho nele as bolsas. Um avião passa baixinho, descendo para o aeroporto. A bomba finalmente detona. Só então, sob a chuva, começo a chorar. Foi um dia duro. E, às vezes, até mesmo um tanque de guerra precisa um pouco de ternura. É o meu cachorro, todo pureza, quem me recebe, serelepe. Suas patas barrentas na minha blusa branca mostram que pelos menos, para ele, faço a diferença. Meu Steve Biko salva o dia.
Eles (os cachorros) sempre salvam o dia!
ResponderExcluirbjos
Eu não tem cachorro!!!
ResponderExcluirQuando li esta tua crônica, eu achei demais.
ResponderExcluirRecortei do jornal A Notícia e reproduzi no meu blog. Tem dia que me sinto exatamente como sentisse naquele dia... ainda bem q os cães nos salvam