Alzheimer/Velhice

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

O Alzheimer avança

Na foto, vendo Rolando Boldrin, e o gato atento...

O Alzheimer tem milhares de fases. Há que viver cada uma delas de maneira profunda porque como é uma doença degenerativa, as coisas só vão piorando. Hoje sinto muita falta daqueles dias em que o pai saia portão afora para ir embora para Uruguaiana. Agora ele não anda mais e pouco a pouco o corpo vai desistindo. Antes ele não dormia de jeito nenhum e era uma confusão durante as madrugadas, com as andanças e mijadeiras. Agora só quer ficar dormindo. Durante a manhã vai até às 10 horas, quando então o Renato o levanta e põe na cadeira de rodas para tomar um sol, um ventinho, uma brisa. Ao meio-dia almoça. Ainda come muito bem, o que é uma benção, porque a fase em que eles não querem mais comer é provavelmente a última. Lá pela uma e meia volta para a cama, para a siesta, e quando eu chego do trabalho ele está ressonando, com um dos cachorros e um dos gatos deitados ao lado, vigiando. Lá pelas três e meia a gente levanta ele de novo, mas é uma missão. Ele não quer levantar e fica duro igual a um pau o que torna o trâmite ainda mais difícil. O Renato já deu tilti na coluna umas três vezes esse semestre. É muito peso. Toca fazer uma fisio para movimentar as pernocas, os braços, as mãos. Vai um eito. 

Bom, acordado outra vez é hora do café, que pode ser um Toddy, uma salada de frutas ou um iogurte, que ele come bem satisfeito. Em seguida, pãozinho doce com manteiga e queijo. Depois é um sem fim de truques para que ele tome água e fique acordado pelo menos até umas cinco e meia da tarde, para poder dar a janta. Mas, tem dias que ele não acorda por nada e temos de colocá-lo na cama sem comer. Dias há que eu vou colocando a comida bem batidinha no liquidificador em pequenas porções na sua boca. E ele, dormitando, vai mastigando e engolindo. Um processo que pode levar horas, porque tem de ser lento. É por isso que ao chegar a casa, nada mais se pode fazer a não ser dar-lhe atenção. Porque tudo demora. Isso sem contar na confusão dos cachorros que ficam em volta também querendo comida. É uma “pequena pauleira” como diria meu irmão. 

Lá pelas seis e meia, quando estão esgotados todos os truques para comer ou beber, levamos para o quarto. Hora de trocar a roupa. Outra função. Nesse momento ele desperta outra vez e começa uma falaceira bem divertida. Colocamos na cadeira de banho para que ele possa fazer xixi e cocô, e aí também temos de esperar e esperar. Limpando e conversando, até que o intestino funcione. Por enquanto está indo muito bem. Todas as noites ele apresenta o “rabo do macaco”, o que denota saúde física. Conversa mais um pouco na sua língua klingon e por fim o colocamos na cama de novo. Basta encostar a cabeça no travesseiro e já está roncando. Só aí conseguimos respirar um pouquinho. Então é tempo de varrer casa, passar pano, arrumar a roupa, comer alguma coisa, esperar o broto, estourar uma latinha e as coisas todas da casa. 

Lá pelas oito horas eu volto para o quarto – durmo com ele - e vejo se está tudo bem. Entram os gatos, aboletam-se na minha cama. E eu fico ali, cuidando ainda por algumas horas...  Aqui em casa a família toda participa das funções com o pai. O Renato é o mais sobrecarregado porque levanta ele todos os dias, mas de noite há escalas. Às vezes a gente perde a fortaleza, porque não é fácil ver o velhinho definhar. Mas, os seus olhos brilham, ele nos reconhece com sorrisos e ainda pode tacar a mão na cara se ficar brabo. Está vivo e coberto de amor. Nós lhe damos nosso melhor.  


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