Alzheimer/Velhice

terça-feira, 14 de março de 2023

Prefeito não ouve a comunidade

Fotos: Flora Neves Guarani Kaiowá e Kauan Marisco

A prefeitura de Florianópolis tentou passar modificações no Plano Diretor da cidade numa patrolagem. Não deu certo. As comunidades se organizaram, entraram na Justiça e garantiram audiências públicas para que a municipalidade apresentasse a proposta e ouvisse as gentes. As audiências foram feitas, mas com via única. A prefeitura mostrou sua ideia – que basicamente entrega a cidade para os empresários do cimento – e simplesmente fez ouvidos moucos para as falas da comunidade. Em praticamente todas as audiências nos bairros as comunidades rejeitaram a proposta que pretende aumentar o gabarito dos prédios (mais andares) e garantir aos empreiteiros o controle do desenho da cidade. Ou seja, mostra uma prefeitura fraca, rendida aos interesses dos construtores. 

Nas falas dos moradores da cidade, a proposta da prefeitura simplesmente incha a cidade, sem qualquer preocupação com a infraestrutura. Não há proposta para mobilidade, saneamento, espaços de lazer, nada. É só a sanha louca de construir prédios e prédios para render lucros aos empreiteiros. Há os que se iludem com a ideia de que com mais prédios haverá mais empregos (???) e desenvolvimento. Numa cidade como Florianópolis, que vive do turismo, é a natureza o foco principal. Uma praia cheia de merda não pode ser atrativa para ninguém, mas a prefeitura parece não se importar com isso. Tampouco está preocupada com oferecer transporte de qualidade e rápido para os trabalhadores que sofrem cotidianamente com o sistema desintegrado, e mais ainda na temporada, quando a cidade dobra de número de habitantes. Aos moradores, nada. Aos empreiteiros, tudo. Esse é o plano. 




Ontem a prefeitura faria a Audiência Final. Na mesa nenhuma novidade, a não ser a mesma proposta que foi rejeitada pelas comunidades. Insisto. Na maioria das audiências essa proposta foi rejeitada. E foram audiências bastante expressivas em números de moradores. REJEITADA! Mesmo assim, a prefeitura insiste em mandar para a votação na Câmara de Vereadores. Os movimentos sociais se reuniram e constituíram um substitutivo, um Plano Popular. Todos entendem a necessidade de mudanças no Plano, mas é preciso que sejam mudanças para melhor, e não para pior. Assim, depois de muito debate e levando em conta mais de uma década de discussão e construção coletiva de alternativas, o substitutivo ficou pronto e havia a proposta de que ele fosse levado em conta, que se discutisse o plano popular. Como a prefeitura não quis saber de conversa, os movimentos assomaram na Audiência Pública em protesto. 

De novo, sem qualquer capacidade de diálogo, a prefeitura ignorou a organização popular, encerrou a audiência e anunciou que mandará o projeto para votação no próximo dia 20 de março.

A manifestação das comunidades mostrou que a cidade está viva e em luta. Qualquer decisão sobre a cidade precisa da participação popular. Não é possível que um plano rejeitado totalmente seja encaminhado para votação, quando se sabe que a Câmara de Florianópolis também está de joelhos diante dos interesses dos empresários do cimento. Entrando em votação, o plano passa, porque não há preocupação com a cidade por parte daqueles que deveriam proteger e cuidar. Basta lembrar que o plano em vigor foi votado num final de ano, em uma votação marcada por protestos, na qual os vereadores aprovaram mais 600 novas emendas, que não haviam sido apresentadas às comunidades e que nem eles conheciam. Muitos votaram sim sem haver sequer lido as emendas. Assim que dia 20 deve ter mais protestos. 

A articulação dos movimentos sociais nesta terça-feira deixa claro que ainda há muita luta. E não vai parar. 

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