Era uma manhã de domingo, em Passo Fundo. Um encontro de ex-colegas da TV Umbú, uma turma que marcou época na cidade, na década de 1980, tanto na publicidade quanto no jornalismo. Era uma manhã de festa, mas também de tristeza, porque poucos dias antes tínhamos recebido a notícia de que um de nossos mais queridos companheiros havia morrido. Naquela manhã em meio aos risos e a alegria do reencontro, encontramos um momento para, de mãos dadas, rezar e chorar pelo nosso amigo morto. Depois, abrimos os trabalhos com a mais gelada, porque essa era também uma parceira do amigo que pranteávamos.
O morto era o Gildo Lima, moleque magricela e risonho, que fizera parte da nossa vida de maneira indelével. Um Saci Pererê de duas pernas, uma explosão de alegria, um dançarino inigualável, um parceiro de noitadas e de segredos. Cada um de nós tinha uma boa história com o Gildo. No que me dizia respeito eu perdia um irmão, porque naqueles tempos em Passo Fundo construímos uma amizade profunda e imorrível. Com ele, Bozó, Kapa e Gilmar, formávamos um quinteto inseparável no dia a dia da TV. Depois, quando a mão descia o cartão-ponto já no começo da noite, partia o quarteto – sem o Gilmar, que não era da farra – para a noite passofundense. O ritual era diário. Trabalhávamos 12, 15 horas, e de noite saímos para comer X-burger . Depois, íamos beber no Bar do Osvaldir. Lá, a dupla Osvaldir e Magrão, oferecia suas canções em apresentações ao vivo. E nós emborcávamos todas, cantando as maravilhas do nosso Rio Grande do Sul. Quando lá pela madrugada o bar fechava, a gente se mandava para a boate Chaplin, onde tomávamos conta da pista dançando até quase morrer. Nunca pude saber como a gente conseguia, na manhã seguinte, estar serelepes e renovados para mais um dia de trabalho.
Nos finais de semana, como se não fora pouco, a gente fazia parte do grupo que ia jogar futebol nos bairros da cidade ou em cidades do interior, próximas a Passo Fundo. De novo, a farra e a bebedeira. Eram os anos 80, vida louca total.
Assim que a notícia da morte do nosso amado simplesmente nos derrubou.
Mas, pouco tempo depois surge a notícia: “o Gildo não morreu, ele tá vivo”. Bah, loucura total. Partiu todo mundo a procurar pelo magrinho, saber onde ele estava, que papo fora aquele de morte e tal... Não demorou muito e finalmente encontramos o Gildo, lindo e vivinho da silva muy campante em Ponte Serrada, Santa Canarina. O negro-gato, nosso saci Pererê, moleque de sete vidas. Vivaço. Foi uma explosão de felicidade.
Agora, há menos de um mês, ele e o Menguetti decidiram criar um grupo no uatizapi só com a velha turma da Umbú. E foi como se tivéssemos voltado aos anos 80 numa surpreendente máquina do tempo. Pois nosso ex-morto-agora-vivo é o dínamo que mantém o ritmo alucinante do grupo, com 800, 900 mensagens por dia, muitas vezes avançando a madrugada, tal como fazia nas noites calientes de Passo Fundo. Segue moleque, segue magrinho, segue cheio de risos e encantamentos. Nosso menino-feiticeiro. Vivo, para nossa alegria.
Te amo, meu irmãozinho... E agradeço aos deuses por termos compartilhado caminhos.