Alzheimer/Velhice

sábado, 19 de dezembro de 2020

Conselho de Saúde do Campeche alerta



O Campeche é um bairro que tem tradição de luta e de organização. Por isso, na manhã desta quarta-feira o Conselho Comunitário de Saúde se reuniu para discutir a situação relacionada à pandemia. O relato é de que estamos vivendo agora, neste mês de dezembro, um dos momentos mais dramáticos do processo, bem mais grave do que no início, em março. Praticamente já não há mais sequer um leito nas UTIs da cidade e os Postos de Saúde estão sobrecarregados ao máximo, com os trabalhadores arriscando a vida todos os dias. Por isso mesmo não é hora de relaxar. Mesmo aqueles que não acreditam que haja uma pandemia, precisam saber que os serviços de saúde estão em colapso. O que significa que se tiverem um infarto, ou precisarem de cirurgia ou qualquer outro tratamento mais complexo – que não tenha nada a ver com a Covid – tampouco conseguirão espaço nos hospitais.

Agora, com a chegada da temporada de verão e a liberação de 100% das vagas de hotéis, a situação tende a piorar ainda mais. Por conta disso é preciso que a comunidade saiba como está a situação do Posto de Saúde, para evitar choro e ranger de dentes depois.

O novo Posto de Campeche foi inaugurado pelo prefeito Gean Loureiro com a promessa de colocação de quatro equipes, com médicos, enfermeiros e todos os profissionais necessários para o atendimento. Mas, isso não aconteceu. Apenas outra nova equipe foi alocada. Desses trabalhadores um número bastante expressivo está em trabalho remoto por conta de serem do grupo de risco. Isso significa que a equipe encolheu ainda mais. Apesar de ter quatro médicos atendendo, as equipes estão limitadas a duas. Nesses meses de pandemia o atendimento presencial ficou focado apenas nos casos de Covid. As demais demandas são resolvidas por telefone.

O Posto tem atualmente seis números de celular ativos para receber as chamadas. Cada um deles recebe mais de 450 mensagens por dia. É praticamente impossível dar vazão aos pedidos na velocidade necessária. Isso estressa os trabalhadores e também a comunidade, que se sente abandonada. Isso leva a cenas de agressão e gritaria no posto, o que deixa os profissionais ainda mais esgotados, pois ninguém quer saber dos problemas. Só querem atendimento.

Outro problema enfrentado pelos trabalhadores são as pessoas que omitem os sintomas da Covid e buscam atendimento no posto e só depois de terem esperado e sido atendidos é que vai se descobrir que podem estar infectados. Aí já podem ter espalhado o vírus para muito mais gente. “Quando sabemos de antemão que a pessoa tem sintomas todo o atendimento é diferenciado, inclusive os equipamentos de proteção da gente. Omitir os sintomas expõe todo mundo ao risco”.

O tempo todo em risco os trabalhadores do Posto também enfrentam a demora dos resultados dos exames para confirmação de Covid. “Se alguém apresenta sintoma, logo é afastado e faz-se o teste. Mas os resultados demoram demais e muitas vezes o trabalhador  retorna ao trabalho e ao convívio sem saber se teve ou não o vírus. O teste deveria ser rápido para que pudéssemos isolar imediatamente toda a rede de contato”. Essa é na verdade uma das formas mais acertadas de cuidar das pessoas. No Uruguai, por exemplo, onde um infectologista criou um teste rápido, nacional, e a testagem foi massiva, e as mortes não dispararam. Porque ao ser testado e comprovado a Covid, a pessoa pode ser isolada e toda a sua rede de contatos detectada. Aqui no Brasil nada disso acontece e a proliferação do vírus segue a todo vapor.

Agora, com a temporada e a circulação de milhares de turistas, a perspectiva é de caos. E é preciso relembrar: o posto de saúde não atende apenas Covid. São todas as doenças.

A reunião do CCS juntou além dos conselheiros, diversas lideranças comunitárias e entidades para discutir um plano conjunto. A intenção é massificar a informação sobre prevenção e vigiar para que as pessoas tomem o máximo de cuidado nos espaços públicos. Não há medicamento para prevenir a Covid. A melhor estratégia ainda é o isolamento social, a máscara e o lavar as mãos.

É certo que nosso verão é lindo, nossa praia também. Mas, é melhor que estejamos vivos para curtir. É muito importante que a comunidade entenda que o trabalho dos profissionais de saúde do posto local tem sido árduo e arriscado. Há que protegê-los também, pois quanto menos gente tiver no posto para fazer o atendimento, pior é a situação. Estamos vivendo um momento dramático e a linha entre a vida e a morte é ténue.

Os meios de comunicação estão sempre divulgando o número de pessoas recuperadas, como se isso fosse uma grande vitória contra o vírus. Não é. Todos aqueles que têm contato com o vírus e desenvolvem sintomas podem ter graves problemas de saúde. Há pessoas que perdem olfato, paladar, desenvolvem problemas cardíacos, respiratórios. O sofrimento é grande, mesmo depois de ser “curado” da Covid. Então, não dá para vacilar. Essa doença não é brincadeira.

Cuidado, cuidado e cuidado. Essa é a orientação. Não aglomerar, seguir realizando a limpeza de tudo o que tocar e apostar no isolamento no tanto que for possível. Não sendo, usar a máscara e o álcool gel.

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