Alzheimer/Velhice

domingo, 4 de outubro de 2020

O mexe mexe do pai



A nova fase do pai agora é a do mexe-mexe. Quando vai chegando o fim do dia ele começa a confusão. Abre tudo que é armário, gaveta, guarda-roupa, o que for. O seu objetivo, aparentemente, é a busca de comida, mas pode tirar pratos, xícaras, talheres, mantimentos. Se bobear ele abre os sacos de farinhas e fica comendo. Se encontra algum pacote de bolacha, abre e come tudo. E mete a mão no saco do pão  e vai embuchando o que tiver. É quase como um gremmlin, dos filmes de terror. E ai de mim se resolver tirar algo da sua mão. Aí é um deus nos acuda. Fica brabo demais da conta. Agora tenho de preparar pequenos embrulhos para que ele possa encontrar. Então, ponho uma fruta, um pão, uma bolacha, mas em pequenas porções para ele não exagerar. É um trabalhão. Mas, único jeito. Como não tenho despensa nem grandes armazenamentos não consegui encontrar ainda um jeito para defender os saquinhos de farinha, arroz, feijão etc... Aí tenho de esperar que ele se entretenha com os pequenos embrulhinhos. Mas, tem dias que não tenho tempo de preparar as “armadilhinhas” e o bicho pega.

Agora, há dias que ele tem encrencado com o cacho de banana que está no pé. Passas as tardes todas olhando para o cacho e querendo que eu o tire para poder comer. Não adianta dizer que tá verde, que não deu a hora. Não. Ele quer e pronto. Aí o jeito é eu me fazer de salame, desentendida. Mas, ele não desiste. Fica ali, parado, olhando o cacho, um tempão, dá até dó. Não vejo a hora de ficar no ponto para ele desencanar. Hoje, ele ficou embaixo da bananeira por horas a fio, por certo pensando em alguma maneira de alcançar. Se eu descuido ele sobe no tanque. Eita desejo por aquele cacho.

O mexe-mexe não para. Agora, enquanto escrevo ele está ali na porta, abrindo e fechando, abrindo e fechando, entrando e saindo, entrando e saindo, até que eu saia do computador e lhe dê toda a atenção ou ele se depare com algum saquinho de guloseima.

É uma aventura diária esse cuidado.



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