Alzheimer/Velhice
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terça-feira, 7 de janeiro de 2020
Das lealdades
Tenho essa prática: onde sou bem tratada, me demoro e me mantenho leal. Assim tem sido com esse homem incrível que corta meus cabelos. Logo que cheguei à Florianópolis, em 1997, trazia o cabelo bem curtinho, usei por muito tempo assim. Era um cabelo difícil, pois exigia cortá-lo a cada mês. Mas, como amarguei mais de um ano de desemprego por aqui, a saída foi deixar crescer as melenas. Finalmente quando pude ir a um cabeleireiro minha amiga Roseméri Laurindo indicou um salão bem famoso que tinha na ilha: o Studio 7, na Felipe Schmidt, afinal, depois de mais de ano sem cortar era preciso um profissional de qualidade.
Naquele dia fomos as duas. Rose cortou com o mais famoso, de nome Dico, se não me engano. A mim coube outro profissional, bem jovenzinho, o Edson. Gostei dele na hora. Alegre, simpático e cheio de novas ideias para o cabelo. Desde aí, sempre que precisava tosar o pelo lá ia eu para o Studio 7, marcando hora com o Edson. Um belo dia ele não estava mais. Opa, onde foi? E lá fui eu atrás dele no novo salão. Até que finalmente ele montou o seu próprio negócio.
Pois assim tem sido desde o final dos anos 1980. São 33 anos de parceria, sem eu nunca ter mudado. No geral vou cortar o cabelo sempre quando estou muito triste, ou estressada demais, ou com algum problema grande. É bom quando a gente está assim receber um carinho, porque é exatamente isso que significa visitar o Edson. Carinho, cuidado, ternura. Conversamos, rimos, ele lava meu cabelo, conta histórias, faz perguntas, corta, orienta, oferece cremes. E toda vez insiste para a gente pintar, colocar uma cor, uma hena. E eu sempre digo não. É quase um ritual. Assim, posso estar vivendo a dor mais profunda, mas invariavelmente saio de lá com a alma leve, sorrindo. Ele é um bálsamo, um respiro.
Hoje, olhando para trás, vendo passar esses mais de 30 anos de encontros capilares, me emociona pensar o quanto conseguimos estabelecer laços tão profundos com pessoas com as quais não convivemos diariamente. O Edson é assim, como alguém da família, essa família extendida que a gente vai formando na existência real. A família que não se forja no sangue nem na obrigação, mas na genuína empatia.
Obrigada, meu amigo, por essas três décadas de encontros, de alegria, de carinho e de cuidado. Melhor cabeleireiro do mundo, o mais querido. Te amo grande, grande...
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