Alzheimer/Velhice
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quinta-feira, 26 de dezembro de 2019
O pai e o banho
A parada do banho é uma das mais difíceis. Não sei porque essa implicância. Basta falar a palavra e o pai já começa a resmungar e ficar nervoso. Ou diz que não quer mesmo, ou diz que já tomou. É uma dança louca e demorada que temos de empreender até acabar no box. Tem dias que não tem jeito mesmo. Há que pular o banho. O que é bem complicado porque limpar "as partes" pode ser ainda mais difícil. Levo horas nesse ritual, tentando encontrar o caminho. Nunca é o mesmo. Cada banho é uma descoberta. Quando ele finalmente diz "sim" eu faço a maior festa, dançando, pulando e carregando ele para dentro do banheiro.
Hoje foi assim. No natal não teve jeito. Pulou o banho. Mas, nessa quinta calorenta eu comecei a ensaiar já de manhã.
- Bora banhar?
- Não mesmo.
E assim vamos, pelo dia afora.
Quando deu cinco horas topou. Fiz a festa. E dá-lhe banho. Uma alegria.
Depois, saímos para a nossa caminhada diária. Eu ia conversando, mostrando os passarinhos, até que arrisquei.
- Coisa mais boa tomar um banho, ficar bem limpinho, né?
E ele, virando a cabeça, fez um muxoxo e respondeu.
- Sinceramente? Não vejo diferença. E seguiu, pitando seu cigarro apagado.
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