Alzheimer/Velhice
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sexta-feira, 23 de agosto de 2019
Os jogadores do Figueira
Foto: Guto Marchior
O figueirense é meu time do coração. Eu trabalhei lá como setorista, na editoria de esportes do jornal O Estado e foi amor a primeira vista. Era torcedora de estádio, todos os domingos, com camiseta, bandeira, almofada, toalha e tudo mais. Depois, com as vísceras do futebol catarinense abertas na minha frente fui perdendo o gosto pelo estádio. Era osso. Mas, o amor seguiu. Não tem explicação para isso. É coisa que bate e pronto.
Assim, mesmo conhecendo a merda toda dos bastidores, não consigo deixar de ouvir os jogos e ainda torcer. Na minha casa os símbolos vivem e a bandeira tremula. Quando em 2017 a diretoria resolveu vender o clube para uma empresa privada jurei não mais derramar uma lágrima pelo Figueira. Sabia que ia dar merda. Como misturar o capitalismo com a paixão? Mas, a promessa não se cumpriu. Meu coração é vagabundo. E eu amo aquela camisa alvinegra. Mesmo com o time entregue a mãos mercenárias, cada jogo ainda me agarra e eu sigo os campeonatos, ouvido colado no rádio.
E é justamente esse amor profundo que sinto pelo Figueira que fez com que meu coração se derretesse com a ação desesperada dos jogadores, que decidiram não entrar em campo se não recebessem seus salários. Sei bem o que é ficar sem salário, as contas acumulando e a gente sem saber o que fazer. Vejo as carinhas na televisão, constritas, assustadas, e torço para que essa ação tenha sido pedagógica. Para os jogadores, que são trabalhadores e como tal precisam assumir sua condição de classe explorada. Podem ganhar altos salários, mas são assalariados como todos nós. E para os patrões, que precisam entender que ninguém ali está jogando por amor. É trabalho. E trabalho exige pagamento. E pagamento de salário é sagrado.
Hoje li que os jogadores entrarão em campo amanhã, apesar de não terem recebido os salários ainda. Entrarão por respeito a nós, torcedores. E eu fico ainda mais enternecidas com esses garotos. Agradeço, mas ainda assim penso que a parada tinha de ser outra. Nós, os torcedores é que deveríamos respeitar esses caras. Porque eles dão o que tem de melhor, que é sua força de trabalho, sua garra, sua mais-valia. Nós é que deveríamos entrar em campo, defendendo esses guris com nossos corpos e nossos corações. Porque são eles os que nos dão alegria e não esses sanguessugas dirigentes. Infelizmente não o fizemos, E eles fazem isso por nós.
Na pessoa do José Antônio Pereira , o Zé Antônio, que assumiu a liderança desse pessoal, eu reverencio todo o grupo. Estou com vocês.
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