Alzheimer/Velhice
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quarta-feira, 10 de outubro de 2018
As pequenas ternuras do pai
Os dias tem sido tristes, de muita amargura e solidão. Cuidando do pai, acabo entrando ainda mais para dentro de mim. A vida se move entre o trabalho e depois o cuidado com o pai e com tudo o mais: a casa, os cachorros, os gatos, as flores, a horta, a compostagem. Tudo tem de estar limpo e seguro pra que o pai possa transitar tranquilo. A carga de trabalho triplicou e depois da UFSC o tempo é todo pra ele. Cuidar de um velhinho exige não apenas o trabalho braçal, mas toda uma carga de esforço emocional que esgota. Por exemplo: não posso demonstrar tristeza. Porque se ele sente que estou triste, se preocupa e fica sem chão. Então, entrando no portão, o espírito precisa ficar leve. E como é duro encontrar leveza nesses dias tristes. Mas, seguimos em frente, tentando tornar, pelo menos a vida dele, feliz.
Ontem, surpreendentemente, cheguei a casa e ele já estava no banho. Bem alegre sob o chuveiro. Estranhei, já que o banho é sempre uma grande e penosa tarefa. Mas, tudo bem. Beleza. Segui a rotina, limpando banheiro, casa, comida para os animais, roupa no varal, pano no chão. Seis horas fui preparar a janta. Rotineiramente enquanto estou no fogão, dou a ele um copo de vinho, para “abrir o apetite”. Fiz como sempre. Ele estava vendo televisão.
Mexia nas panelas, bem concentrada, quando ouvi sua voz cantarolando: tan tan tan lalalala... Ora, que surpresa! Virei-me para acompanhar sua cantoria e pasmei: ele não apenas estava cantando como dançava, erguendo os pezinhos e mexendo os braços. Minha alma se abriu numa torrente de alegria e todo aquele peso que andava carregando desde o domingo sumiu. Larguei as panelas e fui abraçá-lo, apertando-o por longos instantes. Coração a coração. Talvez, lá no fundo, ele soubesse o quanto eu precisava daquela ternura. Depois, comecei a dançar e cantarolar com ele. Rimos muito.
A vida e sua imanência....
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