Alzheimer/Velhice

quinta-feira, 28 de junho de 2018

A dor no futebol



Fui setorista de futebol durante uns bons anos da minha vida de jornalista. Cobri o Caxias, O Juventude, o Passo Fundo e o Figueirense. Para quem não sabe, isso significa acompanhar diariamente a rotina dos jogadores e dos times. Desde os treinamentos em campo como toda a preparação extracampo, as tramoias e negociatas dos cartolas, enfim, tudo. Claro, minha experiência foi com times médios, sem grandes estrelas como as da seleção. Mas, independentemente do salário do atleta, a lógica de quem é jogador de futebol é a do esporte de rendimento. Isso significa que a pessoa é obrigada a forçar o seu corpo ao máximo, para que renda o máximo. 

A rotina de um jogador de futebol é duríssima. Imaginem treinar duro por seis horas inteiras ou mais, diariamente, dando o máximo de si, só na malhação do corpo. Isso sem contar os treinamentos na academia onde os músculos são forçados até o último grau. E ainda tem toda a tensão psicológica de cada jogo, no qual estão colocadas inúmeras expectativas. Imaginem agora isso colocado numa estrela, de seleção, na qual estão apostadas muitas fichas: dos patrocinadores, dos cartolas, dos empresários, da família. É uma barra pesada. Um jogador de futebol, levado a exigir do seu corpo sempre o máximo, quando sofre um estiramento ou uma contratura, o bagulho é louco. A dor é porrada, o dano é grande, tanto corporal como psicológico. 

Lembrem que um jogador vive única e exclusivamente do seu corpo. A mercadoria que produz se mistura com o corpo. É fruto da fortaleza do seu corpo, do ritmo e da potência do seu corpo. Sem o corpo no ponto, ele está perdido. Não tem time, não tem salário, está morto. E cada jogador sabe que ao forçar o corpo ao máximo está sempre na corda bamba. Mas, não há como escapar. Essa é a regra. O corpo é uma máquina perfeita, é verdade. Mas quando forçado ao extremo, qualquer girada da cabeça em mau jeito pode colocar um cara no chão. Pense que seus músculos são todos como uma corda de violino esticada.

O futebol profissional de hoje é um trabalho, um duro trabalho para aqueles que estão no campo exigindo o máximo de seus corpos para a alegria da malta. Ainda que seja um esporte revestido de toda uma aura de glamour, corpos sarados, festa, alegria e fortunas, tem uma pessoa ali que está ultrapassado todos os limites do suportável. 

Eu respeito essa gurizada, seja de time pequeno ou seleção. Porque eles não estão ali brincando, numa pelada de domingo. Estão forçando a máquina, e ganhando o pão. Ainda que uns ganhem mais do que outros. Por isso, expresso todo meu apoio ao Marcelo Vieira. Posso imaginar a dor. Posso imaginar.  Não tripudio. 



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