Alzheimer/Velhice

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

De gatos e zumbis


Na minha casa opera um estranho costume: tudo vai virando gato. Não sei se é bênção ou maldição. Três cachorros moram comigo e todos eles agem como gatos. Um deles, o mais velho, ainda pula o muro exatamente como faz um gato. Pula alto e agilmente, escalando. Para, olha para a rua, vê como estão as coisas e salta para a liberdade. Nada o segura, tal qual os gatos. Os outros dois não conseguem saltar, mas agem, comem e dormem como gatos. E também rejeitam a comida de cachorro, preferem a dos gatos. É uma briga. E também um tal de “estraga-ração”. Prejuízo.

De mim, nem falo. Sou toda gato. Não gosto de multidões, prefiro a solidão. E me escondo quando tudo fica muito tumultuado. Sou desconfiada e difícil de aceitar carinho. Posso me encantar por dias com pequenas coisinhas e fios coloridos. A luz da TV me eletriza e hipnotiza.  Gosto e caixas e só não entro dentro porque não caibo mesmo. E falo a língua de gatos, perfeitamente.

Pois agora o meu pai, que está morando comigo há quase dois anos, estranhamente começa a virar gato. Quando o sol fica a pino nesses quentes dias de janeiro ele desaparece. E fica o dia todo dormitando no sofá, com os gatos ao redor, também dormindo.  É um sonolento quinteto.

Tudo podia ser muito legal se não fosse o fato de que, tal qual os gatos, quando chega a noite, ele também se acende. Fica cheio de energia e não pega no sono de jeito nenhum. Durante a madrugada fica andando pela casa, querendo tomar café ou conversar.

Nessa brincadeira de ser gato, eu vou ficando zumbi. Como me preocupa saber que ele fica andando pela casa ou pelo jardim, eu acordo e tento fazê-lo voltar para cama. Nisso as horas vão passando, e eu não prego o olho. Quando chega a manhã, estou um caco. E vou me arrastando para o trabalho. Nesses dias de verão chego a agradecer aos empresários do transporte coletivo por serem tão gananciosos e termos o pior sistema de transporte público do mundo, porque é só dentro do ônibus que eu consigo dormir. Faço o interminável e engarrafado trajeto do Centro até o Rio Tavares nos braços de Morfeu, meio gato e meio zumbi.

Aí, quando chego, a história se repete. Os gatos, cachorros e o pai estão dormitando, serenamente. E eu, sigo zumbizando. Valamideuzi... A parada é dura!



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