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Nessa quinta, às 9h, no Curso de Jornalismo, o querido
Rubens Lopes defende seu trabalho final, depois de cumprir uma longa caminhada
para chegar ao jornalismo. Nascido em Santa do Alegre, no interior de Minas
Gerais, seu destino poderia ser o de quase toda a gente trabalhadora dali: o
campo. Tanto a vó, Rita, como a mãe, Edna já tinham trilhado esse caminho. Mas,
ele era curioso demais e seus olhinhos vívidos estavam sempre procurando a
vereda das gentes.
Vendendo picolé nas ruelas da cidade ele foi percebendo que Santana
era um lugar cindido. Pobres e ricos muito bem demarcados. As camionetas dos
latifundiários fazendo sombra às velhas bicicletas da gente rural. Depois,
trabalhando numa floricultura, ele adentrou aos casarios da pequena burguesia e
pode compará-los às moradias humildes daqueles que eram como ele. Na fábrica de
leite, o contato com os demais trabalhadores lhe deu a verdadeira ideia do que
é ser explorado até a última gota de sangue e ainda ser agradecido ao patrão. Histórias
e histórias que lhe saltavam na cara, e que se remoíam dentro dele, sem saber
como sair.
E foi para fazer esse parto que ele decidiu fazer o curso de
Letras, que chegou à cidade justo quando ele terminou o segundo grau. Quem
sabe, nos livros, ele não encontrava um jeito de fazer brotar aquela angústia
que lhe tomava. Os estudos começaram, mas a inquietude não parava.
Foi então que ele se deparou com o exemplar do primeiro
número da Pobres e Nojentas, uma revista de reportagem produzida em Florianópolis,
pela tia do amigo Renato. Os textos que saltaram das páginas encontraram lugar
no seu coração e ele soube que era aquilo que queria fazer. Narrar a vida das
gentes que, como ele, andavam pelos caminhos fora do centro de poder.
Por essas coisas da vida o amigo Renato saiu de Santana,
indo para Florianópolis seguir o seu sonho que era o de estudar música. Esse
passo levou Rubens a também buscar o seu desejo maior. E ele embarcou de mala e
pão-de-queijo para a capital catarina. O propósito era passar na Federal, no
Curso de Jornalismo. E foi um duro processo. Mas, ele enfrentou cada pedra com
fibra e decisão. Cabeça nos livros, pré-vestibular popular no Campeche,
professora particular conseguida em permuta e lá foi ele. Tentou e não
conseguiu. Tentou de novo e de novo. Então, passou.
Não foi um aluno comum. Bem antes de entrar no curso já
tinha se engajado no Instituto de Estudos Latino-Americanos, onde foi
realizando um lindo trabalho. Filmagens, fotografias, assistência técnica, carregador
de mesas e livros. Cada pequena oportunidade de aprender ele agarrou, apaixonando-se
cada dia pela América Latina. Também embarcou na viagem da Rádio Campeche, atuando como produtor e repórter do programa Campo de Peixe.
Como não podia deixar de ser, seu primeiro texto
jornalístico foi publicado na revista Pobres e Nojentas. Falava de um
trabalhador de Santana, sua gente nunca esquecida, então imortalizada pelas
suas palavras. Ele encontrara seu lugar. Demorou para terminar o curso, não por
mandrião. Mas, por excesso de vontades. Viajou pela Pátria Grande, fotografando
as gentes, andou o Brasil todo no projeto Indígena Digital, fotografando e
ensinando, querendo para os meninos e meninas que encontrava pelo caminho o
mesmo destino que tivera: força para buscar o sonho. O jornalismo vibrava dentro
dele e tudo aquilo que queria dizer e não sabia como, agora encontrava o
caminho de se fazer.
Nesse dia 23 de novembro o Rubens encerra essa pequena
jornada apresentando seu trabalho final de Jornalismo. É uma monografia sobre a
revista Pobres e Nojentas, a publicação que orientou seu mundo. Na convivência
com as jornalistas que conformam a revista ele solidificou seu projeto de ser e
com elas tem caminhado em projetos diversos, sempre à margem, no jornalismo
libertador. É um companheiro, um pobre e nojento como nós.
O menino de Santana agora tem o título com o qual sonhou por
noites a fio. Mas sabe que o homem que ele se tornou é mais do que o título que está chegando.
Forjado nos caminhos vicinais ele prepara os alforjes para novas aventuras, sempre posicionado do lado certo da história,
com os trabalhadores, com os seus.
Eu, que por caminhos tortos acabei tendo participação nisso
tudo, só posso me alegrar e compartilhar amorosamente desse momento estelar. Vai
ser uma grande festa.
O ciclo termina, mas outro vem. E eu sei que lá irá o
gafanhoto construir belezas.
Parceiros da vida, estaremos juntos.
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