Alzheimer/Velhice

domingo, 8 de outubro de 2017

Perfecto Romero, o fotógrafo da revolução cubana


Ernesto Guevara, médico argentino e guerrilheiro cubano, é considerado o homem mais importante do século XX. Sua capacidade de amor pela América Latina, seu comprometimento com a luta dos povos oprimidos o levou a lutar na Guatemala, em Cuba, no Congo, em Angola e na Bolívia. À libertação das gentes ele dedicou sua vida. Capturado na Bolívia em 8 de outubro, foi executado na manhã do dia 9, entrando para a história. Sua morte, ao contrário do que pensavam seus algozes, não fez desaparecer suas ideias. Elas voaram e seguem pairando por todos os lugares onde há povo em luta contra a opressão. 

Nesses dias em que lembramos dos 50 anos de sua semeadura apresentamos uma pessoa que foi parte da vida de Ernesto, durante a revolução e no tempo em que ele atuou como ministro na Cuba já libertada: o fotógrafo Perfecto Romero. Ele registrou um número expressivo de imagens do revolucionário cubano, já que partilhou com ele o cotidiano da luta.

Um número muito grande das fotos que hoje conhecemos sobre a revolução e sobre Che são obra de Perfecto. Ele ainda vive em Havana e lembra com respeito o homem que ajudou Fidel e Raul a garantir a liberdade para e com o povo cubano. 

Perfecto foi encontrado pela fotógrafa argentina Laura Lavergne nas ruas de Havana. Ela fazia registros em Cuba quando foi abordada por um senhor, querendo saber o que ela buscava para registrar. Ele conversou com ela sobre fotografia, disse que era fotógrafo também e a convidou para ir até sua casa ver seu trabalho. Deu o telefone, o endereço, como é comum aos cubanos, sempre hospitaleiros. Laura não sabia quem ele era, nem do incrível arquivo que ele possuía. Dias depois ela resolveu ir até a casa do fotógrafo, curiosa que sempre foi com as coisas de Cuba. Seu pai, Néstor Lavergne, havia sido o único argentino que trabalhara com Ernesto Guevara no Ministério da Indústria e Comércio, e Cuba sempre fora sua segunda pátria. Estava ali justamente para isso, levantando imagens e informações sobre o tempo em que seu pai passara ali e o trabalho que fizera. Vai fazer um video documentário sobre esse período da vida de Néstor.

Chegando à casa do homem que encontrara na rua, ele abriu seus arquivos para que ela visse o trabalho feito ao longo de décadas. Pois, ali, na mesa da cozinha, foram estendidas praticamente todas as fotos conhecidas de Che Guevara, Camilo Cienfuegos, Raul Castro e outros. Perfecto Romero tinha sido o fotógrafo que acompanhara as lutas, ele mesmo um combatente, e, depois, a caminhada dos principais líderes da revolução. 

Foi um encontro emocionante, com a memória da revolução, com Che e com Perfecto Romero. 

Ele contou que nasceu em Cabaiguán, no dia 25 de janeiro de 1936 e ali começou sua carreira como fotógrafo em 1955. Filho de uma família de camponeses, bastante numerosa, ele também trabalhou vendendo pão e lustrando sapatos. Ainda bem jovem, durante a ditadura de Batista, começou a participar do Movimento 26 de julho, liderado por Fidel Castro. Quando veio a revolução ele foi para as montanhas do Escambray para atuar como combatente e como correspondente de guerra. Era um soldado da Coluna 8 Ciro Redondo, então comandada por Ernesto Guevara.  

Assim, foi na lida cotidiana da guerra que ele conheceu Che e participou como uma testemunha privilegiada das campanhas de Las Villas e da tomada de Santa Clara. Foi Che Guevara quem lhe pediu pessoalmente para que fosse o fotógrafo oficial dos combates finais que levaram ao triunfo da revolução. 

Naqueles dias ele era um jovem de 20 anos e com Che aprendeu muito mais do que guerrear e fotografar. Ele foi um dos fundadores e o primeiro fotógrafo da revista Verde Olivo, criada em 1959, por iniciativa de Che, Raul e Camilo.

A partir daí foi registrando a vida do país que se erguia com as próprias pernas, tornando-se hoje o guardião de imagens históricas inesquecíveis. Hoje, com 81 anos de idade, segue trabalhando, sendo parte da equipe da revista Palante. Na sua casa, mantém viva a memória da revolução, uma memória colhida por suas próprias retinas, plasmada na fotografia.

O encontro com Perfecto fez com que Laura ampliasse seu foco para além do vídeo que está produzindo sobre seu pai, Néstor Lavergne. Agora ela também está trabalhando no projeto de um livro-ensaio sobre a obra desse incrível fotógrafo cubano, Perfecto Romero, que também será constituído por entrevistas gravadas. O vídeo que apresentamos é uma parte do trabalho e da pesquisa que vem sendo feita junto com Vera Bandeira (fotógrafa brasileira ) e com assessoria do também fotógrafo Pepe Pereira dos Santos. 

O IELA pode participar da finalização do trabalho, com a jornalista Elaine Tavares e o fotógrafo Rubens Lopes ajudando na edição. 

Aqui, disponibilizamos parte desse trabalho de Laura Lavergne  que é também uma homenagem a Che Guevara.

Perfecto Romero tornou-se o fotógrafo que é por conta do incentivo e da confiança que Che depositou nele naqueles duros tempos de guerra. Hoje, passado tanto tempo daqueles dias de profunda alegria na grande revolução que mudou a cara do mundo, o velho fotógrafo, através de sua própria história, mostra mais uma face desse homem incrível que foi Ernesto de la Serna, el Che. 

Com Perfecto, el Che. Perfeito! 


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