Alzheimer/Velhice

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Quem controla os meios controla a vida


No filme, como na vida, os trabalhadores são os desgraçados

Tem um desses filmes bobos, de roliúdi, bem antigo, estrelado pelo canastrão Arnold Schwarzenegger, que sempre me impactou, desde a primeira vez que eu o vi. Por acaso, me deparei com ele outra vez nesse final de semana e fiquei a matutar sobre o domínio que os que manejam o sistema capitalista de produção têm sobre nós. Eles nos mantém no limite da vida, para que possamos gerar, com nosso trabalho, a riqueza da qual eles desfrutarão.  É um grotesco jogo, no qual os trabalhadores são as peças mais frágeis, porque só tem a força de trabalho para vender.

O filme, produzido em 1990, do qual falo, é “O Vingador do Futuro”. Conta a história de um cara que viaja para Marte, planeta que naqueles dias já está ocupado pelos terráqueos. É um filme tolo, com muitos tiros e força bruta, afinal, é Schwarzenegger.

A cena que me impactou é a do momento em que os dirigentes da colônia de terráqueos desligam o ar. Como todos sabem, em Marte não tem oxigênio. Todos que ali vivem dependem do suprimento de ar que é liberado por quem controla/dirige o lugar. Então, como eles não conseguem parar o herói, decidem punir a colônia inteira, para ver se o cara se entrega. É assustador. Sem o ar, as pessoas vão asfixiando, iniciando um processo de morte horrível.

Pois no capitalismo é assim. Os caras vão privatizando tudo, tirando da gente inclusive aquilo que nos é vital, como a água, por exemplo. Quantos milhões de pessoas vivem hoje em luta por conta da água? E como todos nós naturalizamos o fato de que a água é uma mercadoria, tendo cada um sua garrafinha? Como se ter a garrafa, garantisse a água. Não garante. Se tu não tiveres dinheiro, não terá a água. Logo, logo eles encontrarão um jeito de privatizar o ar. Imaginem como será?

É o que acontece agora com a reforma trabalhista. É o núcleo duro do capital asfixiando os trabalhadores até o limite do suportável. Como naqueles jogos sexuais em que um amante leva o outro até o limiar da morte, e depois goza sobre ele. Assim faz o capital. Aperta, asfixia, leva ao limite, depois goza. E o gozo é só para uns poucos, sempre. Para a maioria resta esse agoniante esperar. Quando virá o próximo momento de tortura? Como colocará comida na mesa? Como salvará o filho doente? Como cuidará do pai velho? Não sabe. Não saberá. Tudo o que sabe é que as coisas vão ficando sempre pior. 

No filme de roliúde tem um herói que, enfrentando todo o poder, com a ajuda de uma mocinha, consegue liberar o oxigênio para todos, exatamente naquele momento em que a morte escorrega seu manto sobre as gentes. No filme, as maiorias estão apáticas, apenas suportando o domínio e a tortura impostos por um grupo minúsculo que está no poder. É o herói que as salva. 

Mas, a vida real não é um filme de roliúdi. Não há heróis, nem heroínas que, sozinhos, possam liberar o oxigênio. Essa batalha, aqui e agora, contra o capital, tem de ser uma construção coletiva, das gentes conscientes, organizadas e em luta. Somos sete bilhões de almas contra um grupo muito pequeno de gente que domina o sistema de produção. O poder é nosso.

Então, porque não o liberamos? 

A historiadora Virgínia Fontes diz que as pessoas tem medo de enfrentar algo novo. Não sabem o que pode vir com um novo modo de produção, como o socialismo, por exemplo. Temem o que não conhecem. Pensam que a vida vai se desarrumar. Mas, como bem diz Virgínia, o capitalismo já desarruma a vida, sempre e a toda hora. Por que, então, não arriscar? 



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