Alzheimer/Velhice

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Da Serra ao Seridó - um documentário de Fernando Leão








Sempre guardo na memória aquelas manhãs, no curso de Jornalismo, quando adentrava pela sala de aula uma criatura auroreal, dessas que parece estar sempre nascendo: Gilka Girardello. Era professora de redação. Por ser também contadora de histórias, ela sempre achava um tempo, entre o ensino das técnicas, para uma narrativa. E a gente ouvia, embevecido. Com ela aprendi que o jornalismo é isso mesmo: uma contação de histórias. E que aquele que se dispõe a contar tem de ter olhos de lâmpada, capaz de captar toda a beleza que se expressa no humano. O cuidado com os detalhes, com o singular. Ser sempre humano, demasiado humano. Cuidar do personagem narrado como se fosse um cristal.

Hoje terminei de ver o documentário do jornalista Fernando Leão, “Da Serra ao Seridó – vivências em um Brasil de Contrastes”, e enquanto a viola da trilha final ia serpenteando, deixei que as lágrimas caíssem mansinho. De alegria e de assombramento. Alegria, por ver, no documentário, essa vida imanente. Histórias de pessoas singulares. Humanos que são mundos inteiros. E assombramento por saber que ainda há quem seja capaz de pegar a vida do outro com tamanha delicadeza.

Fernando expõe duas realidades tão diversas. O seco e árido Seridó, no Rio Grande do Norte, a exuberante  e verde serra catarinense. Em cada um desses espaços geográficos - tão distintos - ele encontra pessoas dispostas a abrir suas casas e vidas. A prosaica existência, carregada das belezas cotidianas. 

Impossível não se emocionar diante da fala do seu Deca, contando que trabalha desde os quatro anos. Impossível não gargalhar com a senhorinha de Florânea, ao descobrir que vive 63 anos, com o marido, “numa paz de deus”.

As vidas que passam pelo documentário de Fernando são essas histórias com as quais nos deparamos todos os dias, muitas vezes sem notar, a vida das pessoas comuns. Mas, o jornalista de verdade, esse não pode passar impune. Ele tem de ser capaz de ver o invisível. E é o que Fernando faz. Eterniza no vídeo esses universos de belezas.

O vídeo é espaço fértil de memórias, fazeres, encantos, arte. Junta pessoas de lugares tão distantes que fazem as mesmas coisas: uma benzedura, um bordado, uma pintura, a lida do campo, a superação de deficiências. Cada um de um jeito único, como único é o humano.

E o que fica, ao final, é certeza de que a melhor coisa que podemos fazer, como jornalistas, é mesmo contar histórias. Porque elas revelam os universos que vivem em nós.

Da Serra ao Seridó é esse registro seguro, da vida das gentes, dessa imensa mátria: Brasil. Parabéns Fernando e equipe! Tá lindo!


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