Sempre guardo na memória aquelas manhãs, no curso de
Jornalismo, quando adentrava pela sala de aula uma criatura auroreal, dessas
que parece estar sempre nascendo: Gilka Girardello. Era professora de redação.
Por ser também contadora de histórias, ela sempre achava um tempo, entre o
ensino das técnicas, para uma narrativa. E a gente ouvia, embevecido. Com ela
aprendi que o jornalismo é isso mesmo: uma contação de histórias. E que aquele
que se dispõe a contar tem de ter olhos de lâmpada, capaz de captar toda a
beleza que se expressa no humano. O cuidado com os detalhes, com o singular. Ser sempre humano, demasiado humano. Cuidar do personagem narrado como se fosse
um cristal.
Hoje terminei de ver o documentário do jornalista Fernando Leão,
“Da Serra ao Seridó – vivências em um Brasil de Contrastes”, e enquanto a viola
da trilha final ia serpenteando, deixei que as lágrimas caíssem mansinho. De alegria
e de assombramento. Alegria, por ver, no documentário, essa vida imanente.
Histórias de pessoas singulares. Humanos que são mundos inteiros. E
assombramento por saber que ainda há quem seja capaz de pegar a vida do outro
com tamanha delicadeza.
Fernando expõe duas realidades tão diversas. O seco e árido
Seridó, no Rio Grande do Norte, a exuberante e verde serra catarinense. Em cada um desses
espaços geográficos - tão distintos - ele encontra pessoas dispostas a abrir
suas casas e vidas. A prosaica existência, carregada das belezas cotidianas.
Impossível não se emocionar diante da fala do seu Deca, contando que trabalha
desde os quatro anos. Impossível não gargalhar com a senhorinha de Florânea, ao
descobrir que vive 63 anos, com o marido, “numa paz de deus”.
As vidas que passam pelo documentário de Fernando são essas
histórias com as quais nos deparamos todos os dias, muitas vezes sem notar, a
vida das pessoas comuns. Mas, o jornalista de verdade, esse não pode passar
impune. Ele tem de ser capaz de ver o invisível. E é o que Fernando faz. Eterniza no vídeo esses universos de belezas.
O vídeo é espaço fértil de memórias, fazeres, encantos,
arte. Junta pessoas de lugares tão distantes que fazem as mesmas coisas: uma
benzedura, um bordado, uma pintura, a lida do campo, a superação de deficiências.
Cada um de um jeito único, como único é o humano.
E o que fica, ao final, é certeza de que a melhor coisa que
podemos fazer, como jornalistas, é mesmo contar histórias. Porque elas revelam
os universos que vivem em nós.
Da Serra ao Seridó é esse registro seguro, da vida das
gentes, dessa imensa mátria: Brasil. Parabéns Fernando e equipe! Tá lindo!
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