Hoje, por
toda a coluna vertebral dos Andes é dia de festa, hora de dar oferendas a
grande mãe (pacha), elemento central na filosofia dos povos andinos. Pacha não
é apenas a terra, mas significa o universo – não só o físico - ordenado em
categorias espaço-temporais. Pacha é o ser, o que é, o existente, a realidade, embora
o conceito englobe também o invisível. Pois, para os povos dos Andes tudo é
relacional e faz parte da mesma realidade. Não há separação entre o mundo
físico e o mundo transcendente.
Na racionalidade ocidental o ente é o ser-em-si-mesmo, há o
indivíduo e a autonomia do sujeito. Para o runa (ser humano) quéchua o universo
é um sistema de entes inter-relacionados, dependentes um do outro. Não existe o
ser-em-si-mesmo, não há seres absolutos, tudo está em correspondência. Isso
determina inclusive a organização social das gentes, onde o “nós” ou a ideia de
comunidade é indissociável da realidade do entorno. Por isso, a ideia de Pacha
Mama é unificadora da concepção de mundo. A terra, como mãe, se relacionando
com tudo que vive. Assim, para um povo originário andino, a exploração da
natureza aos moldes do capitalismo – que esgota e destrói – é incognoscível.
O dia primeiro de agosto é chamado de “dia de pago à terra” e
durante todo o percursos das 24 horas, as gentes fazem festas e oferecem comida
a essa mãe que tudo provêm. É a maneira originária de agradecer pelo alimento e
pela vida.
“No hay nada sobre la tierra que no sea producto de la
tierra. Nosotros también, Dios nos hizo de tierra y nos dio el soplo de
vida, luego al morir ella nos acoge para el eterno descanso. Por eso hay que
respetarla y venerarla.”
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