Acompanhei a polêmica dos feirantes que vendiam produtos
ditos “normais” como se fossem orgânicos. Um crime contra a economia, contra as
pessoas. Uma fraude. Bom que tenham denunciado, evitando assim que pessoas
comprem – e paguem caro – por um produto que, apresentado como saudável, não o
é. Mas, o ponto de fundo, que definitivamente toca meu coração e meu corpo, é
que poucos falam dos produtos cheios de agrotóxicos que são empurrados para nós
em todos os mercados e feiras. O fato inexorável é: comemos veneno, e comemos
muito veneno.
As feiras de orgânicos que começaram timidamente e agora já
são encontradas com mais facilidade na cidade são uma alternativa boa, mas ainda para
poucos. Como a produção é pequena e todo o processo de distribuição é difícil,
os preços cobrados pelos produtos saudáveis são altos e a maioria das gentes
não tem como pagar. Também é bom que se diga que mesmo comendo alguns produtos orgânicos,
ainda sobra muito produto contaminado na nossa alimentação.
O agrotóxico, e isso já foi cientificamente provado, provoca
uma série de doenças nas pessoas, sendo o câncer a que tem tido maior incidência.
No Brasil, ingerimos, no mínimo, nove litros de veneno por ano. Que corpo pode
resistir a isso? Todos nós estamos
morrendo envenenados, e da pior maneira possível, com doenças malucas que nos
exigem o uso de uma infinidade de remédios.
A lógica perversa é a lógica da produção de mercadorias, para
que se alimente a roda da indústria e do comércio. Cria-se a ideia da
agricultura ultra-produtiva, que precisa de muito agrotóxico, e esse agrotóxico
produz centenas de doenças, que movimentam os laboratórios farmacêuticos. E
assim, vamos, presos à roda de um consumo induzido e criminoso. E não há
escapatória. Quem pode manter uma alimentação orgânica? Quem pode fugir dos
transgênicos?
A maioria da população, que passa o dia na dura faina de
garantir o pão daquele dia, como pode se proteger? Não pode! Esse é o ponto.
Apesar de todas as pesquisas e alertas sobre os males dos transgênicos e dos
venenos na agricultura esses produtos seguem sendo produzidos e vendidos. Até
bem pouco tempo ainda havia a rotulagem, que pelo menos nos informava o que
estávamos comendo. Agora, por conta dos lobistas do “agrotóxinegócio” – Kátia Abreu,
atual ministra da agricultura à frente - até isso nos é negado. Não há o que
fazer.
O leite que chega na caixinha, tem de tudo, menos leite, e
abundam as pessoas com reação à lactose, coisa que nem acredito, pois lactose
deve ser o que menos tem na caixa. Certamente deve ser algum veneno. O trigo
que comemos em profusão, nos pães, bolos e biscoitos típicos da nossa cultura,
estão modificados e refinados e “quimicalizados” de tal forma que passam a nos
fazer mal. Polenta é coisa que nunca mais podemos pensar em comer, uma vez que
a farinha de milho que nos vendem é sabe-se lá que monstruosidade genética. Carnes e comidas enlatadas, embutidas, ensacadas. Mas, ainda assim, lá vai a procissão ao supermercado pagar por veneno. E é
porque não tem jeito. Vamos fazer o quê? Nossa única chance é estarmos também nós
tão profundamente modificados geneticamente que possamos resistir a essas
drogas e venenos que nos empurram diuturnamente. Mas, mesmo assim, ainda
estaremos alimentando a indústria dos remédios, tomando pílulas para dor de
estômago, náuseas, dor de cabeça, mal estar. O festival dos horrores.
A ministra da Agricultura do Brasil, Kátia Abreu, que é
representante dos grandes fazendeiros nacionais, declarou há pouco tempo que essa
gritaria sobre os males do agrotóxico é puro preconceito e que o Brasil não usa
produtos que causam câncer. O que explica então, o fato de latifundiários
estarem jogando agrotóxico nas fontes de água dos indígenas – para exterminá-los
- em algumas regiões do país? O que explica o índice elevado de doenças nas
áreas rurais? Se é preconceito, o que explica instituições idôneas como a
Fiocruz e o Instituto Nacional do Câncer insistirem para que se elimine o agrotóxico
das plantações? Ou seja, o cinismo é moeda corrente entre aqueles que nos
empurram veneno goela abaixo.
Bueno, mas se tudo é assim, então não há mesmo saída? Sim,
saída há. Mas ela não é individual. Precisa ser coletiva e massiva. Uma nova
organização da vida, as gentes mobilizadas contra o massacre cotidiano que
envolve não apenas a comida que comemos, mas todo o resto. A saída não pode ser
encontrada isolada na questão alimentar. Ela diz respeito a grande política,
aos desafios estruturais. Vamos caminhando e, enquanto não alcançamos o grande
meio-dia, bradamos e lutamos!
Elaine, só uma observação: isto não é polêmica, é pura denúncia comprovada da ação de picaretas, sendo que o tal de Mauro já tinha sido denunciado conforme nos informa Eros Mussoi ( https://www.facebook.com/erosmarion.mussoi/posts/10208591086045057?fref=nf ). A solução definitiva é claro que só virá com transformações profundas, mas é claro que não se pode conformar e ficar esperando de braços cruzados aquele redentor "dia que virá". Existem sim diversos movimentos em todo o país, Florianópolis incluída, que na prática, com cultura orgânica, hortas comunitárias e outras ações vão enfrentando mais esta mazela que o capital nos impõem.
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