As eleições na UFSC sempre que termina um processo eleitoral na UFSC fica aquele
gosto amargo. E não faltam as tentativas de buscar culpados para a derrota. Não
creio que seja o caso. Não se trata de culpa, mas de posições diante da vida, e
responsabilidades perante o futuro.
Meu candidato era o Irineu, assim como já fora na eleição
passada. E o meu voto era dele não porque ele é um cara generoso, humano,
competente, sensível e gentil. Essas qualidades do Irineu são adoráveis, mas
não foi o que determinou meu voto. O que fez eu apertar o 85 foi o projeto de
universidade que a chapa Irineu e Mônica estava disposta a defender.
A candidatura do Irineu não nasceu do “movimento” da UFSC,
bem como nenhuma outra nasceu daí. Esses movimentos de estudantes, técnicos e
professores andam fracos, batem em questões particularistas, e expressaram sua
fraqueza na incapacidade de propor e construir uma proposta totalizadora para a
UFSC. Assim, foi a partir de sua
vivência de universidade que Irineu assumiu as pautas mais corajosas e
progressistas – também defendidas pelo movimento - numa UFSC cada dia mais na direção do
atraso.
Durante a greve das 30 horas realizada pelos técnicos em
2014, ele esteve nas assembleias e acompanhou o processo. Não é da natureza
dele fazer alarde sobre suas posições, mas sua presença constante deixava claro
que ele apoiava o movimento. Por isso soa tremendamente desonesto dizer que ele
não se importou com a greve das 30 horas. Ele não só se importou como
acompanhou cada passo e foi dali que nasceu sua proposta mais polêmica: a de
defender de maneira radical a aplicação das 30 horas para todos. Não é sem
razão, portanto, que sua derrota entre os professores tenha sido significativa.
Qualquer trabalhador técnico-administrativo sabe o terror que a ideia das 30
horas causa na categoria docente, em sua ampla maioria. Para grande parte dos
professores, técnico não está aqui para pensar ou decidir e isso se expressou
muito bem durante a greve do ano passado.
Irineu também ousou defender a democracia na UFSC, portanto,
bem longe da tendência cada dia mais reacionária da aplicação dos 70/30 para a
tomada de decisões sobre quem pode ser reitor ou reitora. E mais, Irineu
apontava para a democratização das demais instâncias, discutindo a mudança na
porcentagem da representação. Outro terror para a categoria docente. Imaginem
permitir que técnicos e estudantes tenham voz paritária nos colegiados e
conselhos. Heresia! Heresia.
Irineu igualmente se colocou frontalmente contra a proposta
de privatização da universidade e do seu Hospital Universitário. Mas, na semana
em que o Congresso votou a liberação da cobrança da pós-graduação nas
universidades públicas, quem acreditaria que a maioria docente votaria num
candidato que se colocava contra isso? Ilusão. Havia ainda a postura firme
contra a polícia no campus e a discussão de outra proposta de universidade, no
âmbito da universidade necessária, não necessariamente brigando com o privado,
mas firmemente pública e de qualidade.
Por isso que, para mim, o que parecia muito claro era que a
disputa aqui no campus não se tratava de observar quem era o mais queridinho,
mas sim quem estaria à altura de defender o vertiginoso processo de
privatização das universidades, cada dia mais perto. Para os professores, que
votaram em massa no candidato De Pieri, representante do CTC e dono de um Curriculo Lattes bem gordinho, não poderia
haver dúvidas. O Irineu era o cão chupando manga. Claro que o fato de ele ter sido técnico pesa, mas a coisa não foi tão prosaica assim. Foi
política, e muito bem pensada. Tanto que das campanhas, a menos visível foi a
de Dei Pieri. Nem precisava ser visível. Os votos estavam seguros por conta do
perfil conservador dos professores e de boa parte dos alunos, que também
votaram nessa proposta. E como o voto dos docentes vale mais do que o dos
técnicos e dos estudantes, o resultado não poderia ser outro. De Pieri era
também o candidato da Apufsc, a associação dos professores que resolveu fazer
uma votação paralela, para registrar que, para aquele grupo, valeria o 70/30. E
na sua votação venceu De Pieri.
No campo mais progressista entre os técnicos, estudantes e
professores a discussão também foi muito rasa. Houve pouco engajamento dos
grupos organizados, étnicos, de gênero, estudantis e dos técnicos, alguns
chegando a mais confundir mais do que esclarecer seus membros. A campanha “não
empolgou”, diziam. As pautas particularistas não conseguiram alcançar a
totalidade e não houve a percepção de que o futuro privatizante era o que
estava em jogo.
O resultado agora está dado, duas chapas que tem posições
muito parecidas sobre os temas mais quentes tais como a Ebserh, o 70/30, as trinta
horas, o fechamento do campus e o modelo de universidade. Qualquer um deles
levará adiante a proposta definida pelo Banco Mundial.
A nós, resta seguir na luta, apesar de todas as divisões,
arestas e divergências que se mostraram transparentes nessa eleição, mas que
precisam ser pensadas e superadas para que nós mesmos possamos avançar no rumo
da universidade que necessitamos.
Quanto ao segundo turno, não há opção. Voto nulo!