Fotos: Sinte e da Internet
A Assembleia Legislativa de Santa Catarina deu ontem mais um show, colocando a repressão para cima dos trabalhadores, exatamente como fez na sessão que alterou a previdência dos trabalhadores públicos. A votação dessa semana, também realizada em regime de urgência, garantiu ao governador Raimundo Colombo mais uma retirada de direitos dos professores e novo arrocho sobre a categoria que cuida da educação dos filhos desse estado.
Numa sessão tumultuada pela presença da Polícia Militar, os
deputados aprovaram com 26 votos favoráveis e 12 contrários, o Projeto de Lei
Complementar nº 50/2015, enviado pelo governo do Estado, que altera o plano de
carreira dos professores e incorpora a regência de classe. Essa incorporação
faz com que os professores fiquem mais uma vez sem aumento de salário. Na mesma
ocasião, os deputados catarinenses aprovaram o Projeto de Lei nº 517/2015 que
disciplina a admissão de professores por prazo determinado (os ACTs), agora com
a autorização para que o governo contrate de professores horistas, precarizando
ainda mais a situação dos mais de 20 mil professores que atuam como ACTs.
Durante todo o dia a categoria dos professores manteve
mobilização na Assembleia, vivendo situações dramáticas de agressão, violência
e tristeza profunda. Segundo os professores essas mudanças se configuram no maior
ataque da história ao magistério e à educação pública no Estado. "A
jornada de trabalho flexível, a contratação dos ACTs como trabalhadores/as
horistas, a reconfiguração (descaracterização) da hora/atividade, o congelamento
salarial decorrente da incorporação da regência, a farsa da descompactação,
etc., etc., terão impactos profundos na qualidade do ensino oferecido em nossas
unidades e nos nossos níveis de vida. Os ACTs, em particular, poderão ser
empurrados para uma situação de penúria, uma vez que nem mesmo a menor menção à
remuneração mensal mínima será mantida no ordenamento jurídico do Estado",
registraram.
O ataque aos professores é mais um dos passos da reforma
administrativa que está em curso e que já retirou mais direitos dos
trabalhadores. Depois dessa vitória do governo - que tem maioria folgada no
parlamento - é bem possível que possam vir novas propostas que visem retirar
direitos como os triênios, licenças-prêmio e, principalmente, outros que
coloquem em risco o caráter público da educação básica estadual.
Não é segredo para ninguém que as velhas metas do banco
Mundial para a educação seguem sendo as regras balizadoras para os governos da
periferia capitalista, e a proposta mais defendida pelos banqueiros é a da privatização
da educação. Apenas os que puderem pagar poderão aceder ao ensino de qualidade.
Aos filhos dos trabalhadores restará uma educação pública sucateada, gerenciada por organizações
sociais, desligadas do governo e com professores precarizados.
O dramático nessa história é que a mídia comercial - que
funciona como um braço armado do poder instituído, porque despeja informações
mentirosas sobre milhões de pessoas - trata a questão como uma disputa
corporativa: uma batalha dos professores contra o governo. O que é uma meia
verdade. A luta é corporativa sim, porque o trabalhador que tem apenas sua
força de trabalho para vender precisa defender os direitos que, inclusive,
garantiu com luta e sangue. Mas, o que está em questão nesse embate é a
educação mesma, coisa que deveria mobilizar toda a sociedade catarinense.
Essa discussão sobre o Plano de Carreira já tinha sido
motivo de muito debate durante a última greve dos professores, e também foi
tratada com um tema particularista, mesmo entre a própria categoria. É fato que
muitos trabalhadores também ainda não conseguem vislumbrar o caminho muito além
da ponta do nariz e isso acaba enfraquecendo as lutas. A batalha pela educação
de qualidade não é uma luta só dos professores, ela deveria contar com o apoio
concreto de todas as categorias, afinal, se a coisa já está difícil com a
educação que se tem conseguido garantir com a luta renhida, imaginem se tudo
for privatizado ou terceirizado?
Ontem, nas lágrimas dos professores, espelhava-se a dor de
uma gente que tem resistido bravamente para garantir qualidade na educação dos
catarinenses. Enfrentaram a força da polícia, foram feridos, machucados e derrotados.
Agora, voltarão para suas escolas e recomeçarão, porque os que ali estavam,
frente-a-frente com todo o poder (militar, político e econômico) sabem que essa
é só mais uma batalha. Recolher as armas, cuidar dos feridos, avaliar e seguir
em frente. A educação pública, gratuita e de qualidade não é um sonho. Ela é
possibilidade real e vai chegar. Porque existem pessoas como esses educadores que ocuparam ontem a Assembleia Legislativa, os imprescindíveis.
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