Alzheimer/Velhice

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Chegando o natal



Vai chegando dezembro e com ele todo o frisson do natal. Criada por uma mãe cristã o natal sempre foi um dia bonito pra mim. Hora de estar com a família, participar da missa do galo e depois voltar para casa, onde estariam os presentes deixados pelo bom velhinho. Mas, apesar de ganhar presente ser bom, lá em casa, o que sempre ocupou o centro da cena foi o presépio. A mãe gostava de montar a cena do nascimento de Jesus logo no fim de novembro e toda família participava. Por isso, ao longo da vida, me fiz presepista, e o natal para mim é celebrar o aniversário de Jesus.

Tenho horror a ideias totalitárias de povo escolhido, que nos dividem e matam. Penso que os deuses nada mais são do que redes que nos amparam quando tudo a nossa volta desaba. E não é sem razão que os criamos, afinal, somos tão frágeis, tão afeitos a desmoronamentos e tão precisados de muletas que nos ajudem a andar nessas horas noas.

Assim, nesse universo do sagrado, gosto de Jesus. Encantam-me as parábolas contadas pelos evangelistas, encantam-me seus ensinamentos sobre o amor, o perdão, a alegria, a partilha. Pouco se me dá se existiu ou não. Gosto de ler suas palavras e o tenho como um bom amigo imaginário, com o qual entabulo longas conversas.

Assim que no natal eu preparo seu dia, como um dia mesmo de aniversário. Não espero Papai Noel, muito menos presentes. Espero o gurizinho palestino, possivelmente tão igual a esses que hoje vivem lá naquelas terras, com graúdos olhos de azeviche e pedras na mão, enfrentando tanques. Monto o presépio e o deixo ali, em meio aos bichos, deitado na caminha de palha, com os pezinhos pra cima, balançando no ar.

Mas, outro dia ouvi de um amigo sobre outra tradição que existe na cidade vizinha, Santo Amaro, e me encantei. Diz ele que lá, na noite de natal,  o povo deixa, do lado de fora da casa, um pouco de capim para alimentar o burrinho que vem, conduzido por José, trazendo Maria com o bebezinho dentro dela. Achei de uma delicadeza abissal. Pensar que alguém, diante da cena tão grandiosa do nascimento do Cristo, tenha se preocupado com o bem estar do burrinho, faz assomar em mim profunda ternura.

Assim que esse ano, além de montar o presépio, também vou deixar o capim, incorporando à tradição esse cuidado com o animalzinho. E tal como o riso do menino, que sempre escuto, esperarei ouvir ainda o mastigar cadenciado do burrinho que permitiu que Jesus chegasse em segurança até a manjedoura. Essa criatura doce que trouxe até Belém o casal de refugiados, os fugitivos. E, para o meu deusinho vou contar do Maicon, esse guri de Santo Amaro que me contou essa linda história e que agora partilha comigo o sonho da Pátria Grande. E, juntos, entre vinhos e risadas, vamos vibrar no amor e na ternura, para que venham bons e alegres dias para todos nós.

Que venha o natal...  

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