Lá se vão três meses de greve nas universidades e o governo
federal insiste em não garantir, nem reajuste, nem aumento real para os
técnico-administrativos. Desde o início da mobilização, em junho, a proposta
tem sido a mesma: 21% dividido em quatro anos, ou 10% divididos em dois. Nas
duas propostas, o índice anual deverá ficar em torno de 5%, ou seja, abaixo da
inflação. Nesse caso, os trabalhadores já saem da greve perdendo. Não bastasse
isso os trabalhadores ainda tem de ouvir, por parte de jornalistas a soldo do
poder, ou da sociedade mesma, que eles são os vagabundos e os que não querem
negociar.
Na verdade, seria bem legal se as pessoas pudessem
compreender que mesmo na categoria dos funcionários públicos, a luta de classes
se expressa de maneira muito clara. Ou como diria Orwell, há funcionários
públicos que são mais iguais que outros.
Um exemplo: os juízes. Essa categoria é de funcionários
públicos, eles servem à república e são pagos pelo dinheiro público, assim como
os técnicos das universidades. Esse pessoal não faz greve, é considerado gente
de bem e jamais seria colada neles a etiqueta de vagabundos. Mas, veja a
diferença: com dois anos de atividade o cargo de juiz já passa a ser vitalício
e o salário inicial da profissão gira em torno dos 20 mil reais. Só que com
gratificações e outros benefícios - que podem passar de 32 itens - o salário
pode subir para 40 e chegar até 150 mil. Eles tampouco precisam de data-base
porque, na verdade, definem o próprio salário.
Outro exemplo: os deputados. Esses senhores e senhoras que
votam os projetos de lei que definem os salários dos trabalhadores públicos de
vários órgãos também são funcionários públicos. E o salário deles é pago pela
mesma fonte: o tesouro nacional. Assim como os juízes são eles que definem o
próprio salário e esse ano o valor do soldo é de 33 mil reais. Somado a outros
benefícios e penduricalhos que eles mesmos criam, um único deputado pode custar
até 140 mil reais à nação. Também eles não precisam de data-base, pois podem
reajustar os vencimentos quando acharem por bem. Obviamente não fazem greve e
estão no rol das pessoas de bem.
No caso dos técnico-administrativos das universidades o salário
base pode variar de 1.086 reais no nível intermediário até 7.000 reais, em fim
de carreira do nível superior. E ao contrários dos juízes e dos deputados, não
são eles os que definem seus salários. É o governo que diz quanto e quando vai
pagar. Porque tampouco existe uma data-base como no universo privado. Os
trabalhadores precisam mobilizar e fazer greve cada vez que reivindicam
reajuste ou aumento.
Nessa mesma situação estão os professores, os trabalhadores
da saúde, da previdência, da agricultura, enfim, os demais funcionários
públicos. E, tirando as carreiras que o governo considera estratégicas, como a
dos trabalhadores da Receita Federal e da Justiça, todos amargam salários bem
baixos se comparados aos de seus outros colegas juízes e deputados.
Essa gente toda é a mesma que sofre todo o tipo de violência
por parte da mídia e da sociedade, sendo sistematicamente considerada parasita
do dinheiro público. No limite, ainda são condenados pelos colegas juízes que
são os que julgam as greves, no mais das vezes considerando-as "abusivas".
E é assim que caminha a humanidade no reino do funcionalismo
público. Os mais explorados são os que viram vilões.
Na última reunião com o governo, nessa sexta-feira,22, os
trabalhadores técnico-administrativos saíram outra vez com as mãos abanando. No
chamado "diálogo", o governo insiste em não abrir para qualquer
reivindicação que implique dinheiro. Se quiserem, que aceitem os 5% em 2016 e
outros 5% em 2017. Se não, vão ganhar isso mesmo, porque quem decide o quanto é
o governo. Fora isso, aceitam fazer novas reuniões para discutir temas pontuais
que já estão na mesa há anos. Mas é só.
E, assim, enquanto os outros colegas vão definindo seus
soldos e ganhando para mais de 100 mil reais, sem que a sociedade se assombre,
os TAEs seguem sua jornada de luta, batalhando pela vida e pela manutenção da
universidade pública. Sabem que a mídia fabrica o consenso sobre eles, chamando-os
de vilões, mas não se rendem. E é por
causa de gente assim, como esses trabalhadores públicos, que a universidade
ainda se mantém pública, apesar de tantos ataques e pequenas privatizações.
Ótimo texto, parabéns.
ResponderExcluirE X C E L E N T E, ELAINE !!!...
ResponderExcluirPARABÉNS !!!...