Eis que, de repente,
por conta da ação da Polícia Federal, a empresa mais criticada do
estado de Santa Catarina, a RBS, está nua diante dos olhos da
sociedade, pega num musculoso esquema de corrupção. Como é um meio
de comunicação de caráter oligopólico, a RBS tem dominado durante
décadas tudo aquilo que o catarinense vê, lê e escuta. E,
justamente por esse domínio dos meios, acaba sendo a empresa que
define o salário e as condições de trabalho dos jornalistas.
Sempre foi leonina, arrochando e superexplorando, demitindo os
trabalhadores mais velhos sem dó nem piedade. Por conta disso, ao
longo dos anos tem sofrido sistematicamente a crítica dos
sindicatos, movimentos populares e políticos, que fazem discursos
explosivos sobre o quanto essa empresa esconde e manipula a
informação, bem como explora os trabalhadores.
A batalha contra a
RBS sempre foi difícil. Afinal, sem uma unidade real no campo
popular e sindical fica ainda mais difícil combater uma empresa que
se apossou de todos os meios de comunicação mais fortes do Estado,
comprando jornais regionais e reduzindo-os a locais. Ainda assim,
aqui e ali, sistematicamente pipocaram críticas ao monopólio da
informação e a forma como a empresa direciona o tratamento dos
trabalhadores no mercado de trabalho. Ela dá a linha, define, impõe.
Pois agora a RBS
está desnuda, pega com a boca na botija, praticando o crime da
corrupção, coisa que seus porta-vozes condenam com veemência em
todas as suas mídias. E, diante dessa nudez, o que fazem os
sindicatos, os movimentos populares, os políticos de esquerda? Até
agora, concretamente, nada.
Outro dia um colega
jornalista divulgou em algumas listas que eu fico por aqui,
confortavelmente sentada atrás do computador, fazendo críticas aos
sindicatos, mas que não tenho atuação sindical. Tudo o que fiz foi
sorrir. Posso estar sentada atrás da máquina (o que é uma meia
verdade) mas, pelo menos, uso dessa minha singela aptidão, que é
escrever, para denunciar o que penso ser importante para a opinião
pública. Afinal, como dizia Orwell, nada pode ser mais poderoso que
uma opinião pública bem formada.
Escrevo, essa é a
minha contribuição. Penso, analiso e escrevo. Penso que cada setor
da sociedade deve cumprir seu destino. Os sindicatos precisam fazer a
luta para melhorar a vida dos trabalhadores, os movimentos sociais
para melhorar a vida na cidade e assim por diante. Cada um fazendo um
pouco, na união, constroem o edifício da mudança. E, nesse
processo, a crítica à mídia tem um papel fundamental. Desvelar as
entranhas do processo de invenção das notícias, mostrar porquê os
trabalhadores aparecem nos jornais como os “baderneiros”,
enquanto os empresários que roubam a cidade são saudados como
“grandes homens”, essa é a tarefa.
Ontem, no Rio de
Janeiro e em São Paulo, movimentos sociais se reuniram em frente a
Rede Globo. Muita gente. Protestaram contra o domínio do pensamento
único – da classe dominante - que é o pão comido da emissora.
Saíram de suas casas e foram gritar em frente ao prédio da
platinada. Pode parecer pueril, mas não é. É ação legítima de
uma gente que já abriu os olhos e é capaz de sair de sua zona de
conforto para derrubar o ídolo de pés de barro. Tanto bate que um
dia cai.
No caso de Santa
Catarina, a filial da Globo foi pega nas malhas da corrupção, dando
calote em dívidas e surrupiando o Estado. Mas, enquanto isso
fervilha nas redes sociais, na vida real o lago está parado. Nem os
sindicatos, nem os movimentos, nem os políticos, nem mesmo os
jornalistas arriscam ações. Uma nota aqui e ali, coisa tímida. O
rei está nu e não há nenhum garotinho a gritar. O silêncio e a
inação significam o quê? É diante dessa inércia que me ponho a
pensar.
De certa forma, tudo
isso denota uma verdade inconveniente: o sindicalismo, domesticado
pelos anos de aproximação com o poder governamental, perdeu a mão.
Parece não saber como atuar diante da vida real que se expressa –
hoje com muito mais virulência - nas famigeradas redes sociais. Há
um mundo novo se configurando, e há os que insistem entoar a canção
da luta com velhas liras. Como bem diz o companheiro Danilo Carneiro,
do Tortura Nunca Mais, é preciso estudar. Compreender melhor esse
mundo imagético, cibernético, feicibuquiano, e, a partir daí
inventar novas canções em novas liras. Inventar, inventar,
inventar, diria Simón Rodríguez, gritando para um mundo deserto de
imaginação.
Parece que assim
estamos. Depois de tanta lamúria contra a dominação midiática da
RBS a temos fragilizada e nua sob nossos pés. E o que fazemos? Nada!
Não espero notas comportadas divulgadas nos sítios e redes sociais.
Espero ação. E, do meu jeito, já estou agindo… Preciso de
parceiros!
A comunicação é
um campo estratégico na vida política. Quem a domina está em
vantagem. Hoje, em Santa Catarina, enquanto os sofridos professores
vivem mais uma greve, o oligopólio segue firme inventando verdades,
mentindo, escondendo. A classe dominante tem seu Sancho Pança,
aparentemente invencível. Mas, como aconteceu com Al Capone, que foi
pego por uma coisa à toa, eis que o império comunicacional - Globo
e RBS - está sob investigação, com claras evidências de culpa.
O rei está nu. Vamos gritar. Jornalistas, sindicalistas, militantes
sociais… Já não é mais hora de chorar. É tempo de avançar no
rumo da soberania comunicacional. Uma comunicação do povo, para o
povo, com o povo.
Ah, essas utopias!…
E a louca esperança de que os políticos, o sindicalismo e os
movimentos sociais encontrem o caminho da luta renhida. P´alante,
diria Chávez, P´alante!!!
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