Alzheimer/Velhice

terça-feira, 10 de junho de 2014

A Banda Parei




















Poucas coisas ainda mexem com o meu coração no que diz respeito aos Sintufsc. Uma delas é a Banda Parei. Ainda vivem na minha memória aquelas noites da greve de 2001, com os trabalhadores acampados no NPD, envoltos em cobertores, o Assis em alvoroço, a Mida cozinhando,  e a gente pensando sobre o que fazer. Eis que, então, tivemos a ideia de criar uma banda, sem muita pretensão, apenas para infernizar a vida da administração e dos colegas que ainda não tinham parado. A proposta veio da incansável guerreira Ângela Dalri. Nosso modelo eram as caminhadas do povo argentino, sempre barulhentas e alegres.  Discutimos no comando e a assembleia aprovou. Em poucos dias lá estavam os tambores, os pratos, as tarolas e, sob o comando do Pepê, a Banda foi se construindo. O Moisés Eller deu o nome: Parei! Não demorou muito e as gentes estavam incorporadas. Cada um queria aproveitar e fazer o barulhão. Eu, a Terezinha, a Nilza, o Ivalter, a Valdete, o Marlove, o Eduardo, o Batinga e tantos outros companheiros queridos.

A Banda Parei começou a circular pelo campus, e sua batucada meio desarticulada chegou a levantar a ira do professor Espíndola, porque passávamos pelo laboratório de som e perturbávamos as pesquisas. Foram dias de muito conflito, mas de muita beleza. Depois, a Banda começou a ser levada para Brasília quando tinha caravana e, em pouco tempo, já era uma referência nacional. A Banda Parei liderava as caminhadas e dava  colorido para as lutas, normalmente sérias demais. Marcava presença, inclusive, nos Gritos dos Excluídos, puxando as marchas  e alegrando os atos de protesto.

A Banda Parei foi uma das coisas que permaneceu ao longo do tempo, mesmo depois que o sindicato passou para as mãos de outro grupo. Venceu a beleza e a alegria, sem dar lugar a sectarismos. E é assim, que desde aquele vitorioso ano de 2001, essa banda tem sido a sentinela de toda a luta que se trava aqui na UFSC. Basta que se anuncie a rebelião e lá vem ela, com seu barulho infernal, ora desarranjado, ora arrumadinho, mas sempre arrasador.

Hoje, na assembleia, na qual esperávamos a vinda da reitora, a Banda Parei, mais uma vez, derreteu meu coração. Antes dos trabalhos, a alegre banda passou em revista, circulando pelo auditório, como fazendo um chamado para a luta. O toque firme do tambor é como o toque do coração. Ele vibra na corda mais profunda e nos mostra que passe o que passar, a vida segue brotando. Entre os "tocantes" muitas carinhas novas, misturadas às "velhas". A certeza da renovação.

Lá no longínquo 2001, quando, entre lágrimas,  realizamos a última assembleia com o desmonte do acampamento do NPD, foi a Banda Parei que abriu o caminho para aquele dia de vitória. E desde então, o batuque do tambor tem se misturado a essa batida vital que mantém acesa a luta de todos nós.

Tenho certeza de que passe o que passar, nossa universidade manterá vibrando esse som, que é o som da força, da valentia, da resistência, da alegria, do compromisso. Depois, quando minha pressão subiu a 15, ao final da assembleia, eu vim andando, pensando: "Y bueno, se eu passar dessa pra melhor, que seja a Banda Parei a fazer a batucada da minha semeadura".

Para além de todas as divergências, a Banda Parei é dona do meu coração.


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