Alzheimer/Velhice

sábado, 1 de março de 2014

Tarrafa elétrica - uma beleza!

Fotos: Leandro Pellizzoni



Aquele que canta sua aldeia, canta o mundo. Está no rumo do universal. E assim é o Tarrafa Elétrica, um grupo de músicos de Itajaí que está há dez anos dizendo das coisas da cultura do litoral de Santa Catarina. É tarrafa porque nasce na beira do mar da cidade dos contêineres, vigiando a sardinha e os sentimentos cheios de pureza da gente praieira. E é elétrica porque, além de incorporar a guitarra numa pegada bem boi-de-mamão, acende uma beleza profunda em qualquer um que escute suas canções cheias de simplicidade e de raiz.

E foi para esse encantamento que o Teatro Alvaro de Carvalho se abriu no último dia 25 de fevereiro. Recebeu os garotos de chapéu de palha e sotaque litorâneo para um passeio no barco da cultural local. Um espécie de risoto de marisco com caldo de peixe. Foi hora de mergulhar nas letras que nascem da vida mesma, da observação sistemática da vida das gentes que trabalham e sonham na beira do mar, que contam das alegrias e tristeza de pessoas reais. E foi hora de viajar na música que mistura ritmos de todas as partes desse imenso brasil, de coloridos gostos, mas sempre fincada na raiz de um povo que decidiu enfrentar as idas e vindas do rio Itajaí, no seu eterno romance com o mar.

Assim que uma hora de música com o Tarrafa Elétrica é esse balançar nas ondas, esse gingado da brincadeira do boi, essa malemolência da gente do mar. É respiro dessa mistura índia, branca, negra, capira, que nos faz quem somos. Na percussão, sente-se o chamado vital, telúrico, que sobrevive na cultural litorânia, a despeito de tanto colonialismo cultural e mental.

O Tarrafa Elétrica  traz a gente de volta para a beira da praia, para o princípio dos tempos e, num átimo, nos atira para o futuro, misturado e mestiço. É beleza, é balanço, é riqueza.

Nesses dez anos de estrada, cantando as coisas do litoral, a banda pouco toca nas rádios movidas a jabá ou dominadas pela indústria ideológica. Mas, vai avançando através daqueles que a conhecem e que, fatalmente, se apaixonam pela música peixeira. Das cordas, metais e percussão vai se desfiando uma linha que eles lentamente soltam pelo mar da vida, e da tarrafa saltam aos borbotões toda a sorte de  belezas que não apenas o que vivem nessa terra podem apreciar. “É um pouco do tarrafa que é linhada, é linhada de cultura”....

Ouçam, que maravilha...

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