Este é um trabalho único. Fala das gentes que caminham pelo
país, pela América grande, Latina, pelo mundo. Fala de pessoas que decidiram
dizer não a ciranda capitalista, que voltam as costas para o mercado, para a
competição, o egoísmo. São homens e mulheres que vivem uma vida próxima da
natureza, que escolheram proteger o planeta, amar o próximo e o distante,
com-partilhar, com-viver na harmonia e na cooperação. Um povo sobre o qual pesa
o preconceito.
Vistos como loucos, hippies, marginais, através das lentes
do fotógrafo Ricardo Casarini Muzy adquirem outra forma. Aparecem aqui
imortalizados em instantes de perpétua beleza: o da partilha amorosa com todos
os seres viventes, em cenas do cotidiano dos encontros que realizam para trocar
experiências e saberes. O trabalho de Ricardo, que projeta em preto e branco a
vida dos viandantes já é, em si, uma escolha do caminho do próprio fotógrafo.
Ele poderia ter preferido retratar a vida que se faz em salas acarpetadas, nas
estradas asfaltadas, nas paisagens turísticas. Mas não, ele mesmo um homem de
caminhos vicinais, decidiu percorrer a vida que viceja às margens, que anda
pelos caminhos de terra, que se mostra nas veias internas do grande Brasil.
O livro Seres do Bem diz dessas escolhas. É um memorial
poético que se faz na imagem e nos pequenos textos, retratando a prática de
vida de homens e mulheres que decidiram viver já, agora, no presente, a ideia
de um tempo solidário e amoroso. Cenas do Encontro Nacional de Comunidades
Alternativas, no meio da floresta amazônica. Imagens do Rainbow, encontro de
caminhantes de todo o mundo, no interior da Bahia, e do Fórum Social Mundial,
em Porto Alegre. Momentos rituais de trocas e de comunhão. Uma vida que muita
gente não conhece. Uma opção, uma decisão sem volta. Agora cabe a você,
conhecer, saber, respeitar e, quem sabe, partilhar.
Seres do Bem, editado em 2004, é um poema de amor à vida, ao planeta, aos
seres viventes. É um presente, uma bênção. Um olhar generoso sobre os
viandantes, os que semeiam, a despeito de todos os horrores do mundo
capitalista, sementes de paz e de amor. Sentimento tão antigos quanto a própria
vida, tão esquecidos, mas que revivem em cada cena cristalizada por Ricardo.
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