No jornal El Heraldo, de Honduras, a manchete de hoje não podia ser mais intrigante: "EUA felicita o TSE pela contagem profissional". Referia-se, é claro, a contagem dos votos que estão dando a vitória ao candidato oficialista Juan Orlando Hernández. Depois, a reportagem traz o conteúdo de uma nota emitida pela Embaixada dos EUA na qual saúda os hondurenhos e reafirmava a sua alegria pelo processo ter sido transparente. Diz ainda que reconhece a vantagem irreversível conquistada pelo candidato do partido Nacional. Não bastasse isso ainda apresenta as declarações da embaixadora Lisa Kubiske, que afirma ter recorrido os lugares de contagem de votos, podendo garantir que não existe possibilidade de fraude.
Com esse destaque todo da "aprovação" dos Estados Unidos a mídia pretende deixar os hondurenhos seguros de que o país do norte segue sendo amigo, o que vai viabilizar o progresso do país. Nenhuma nota sobre manifestações e lutas das gentes que bradam contra a fraude.
Já o La Prensa dá como manchete uma notícia que só reafirma o servilismo da imprensa local: "Não houve crime de lesa-humanidade em 2009". A matéria se refere ao golpe militar que depôs Manuel Zelaya e abriu um vertiginoso processo de perseguições, desaparições e assassinatos. Mas, o jornal se refere ao fato como uma "crise política". Bem a calhar esse tipo de informação num momento como esse.
O partido Libre, de Xiomara Castro, segue não aceitando o resultado das eleições, de 34% para Hernàndez, e 28% para Xiomara. Insistem que houve fraude e exigem a recontagem dos votos. É bom que se saiba que até hoje ainda não foi finalizada a contagem oficial. Entre as irregularidades já levantadas pelo Partido Libre estão as pessoas que não puderam votar por terem sido consideradas mortas, a realocação de mesas de votação em lugares mais distantes, impedindo que as pessoas tivessem acesso, compra de votos comprovadas em vídeos e fotos, atas de votação nos lugares onde o partido de oposição é mais forte foram tiradas do processo e submetidas a auditoria, com os votos não sendo computados. Enfim, são dezenas de pequenas coisas que formam o grande mosaico da fraude. Tudo isso sendo negado pelo TSE, que é composto por gente que deu e apoiou o golpe de 2009. Sem falar na descarada intervenção da embaixada estadunidense.
Em meio a tudo isso, estudantes universitários iniciaram um processo de resistência, com atos massivos na capital, Tegucigalpa, e foram violentamente reprimidos pelas forças policiais. Mas, a luta não ficou só no âmbito estudantil, trabalhadores de várias categorias têm se somado ao movimento que pede a recontagem.
O que se vê é que o virtual presidente de Honduras já começa a ser aceito pelos países vizinhos e o país deverá voltar a "normalidade". Bom frisar que a normalidade para aqueles que sonham com uma Honduras independente e livre do controle estadunidense significa mais mortes, desaparições e violências. Ou seja, a luta do povo de Honduras está bem longe de arrefecer.
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