O vazamento do óleo ascarel de uma estação desativada da Central
Elétrica de Santa Catarina (Celesc), no bairro Tapera, em Florianópolis, está
sendo considerado gravíssimo pela Federação das Entidades Ecológicas
Catarinenses. Segundo o coordenador geral, Gert Shinke, as autoridades estão
minimizando o problema e é fundamental que a comunidade se ocupe em exigir um
monitoramento contínuo sobre toda a área afetada por pelo menos cinco anos.
Gert afirma que os laudos apresentados pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma),
que apontam não haver contaminação pelo ascarel na baía, não podem ser considerados
conclusivos. “Esse óleo leva certo tempo para se infiltrar e é quase certo que
agora os laudos não apontarão nada. Os efeitos aparecem mais tarde, quando todo
mundo já tiver esquecido o caso”.
O óleo ascarel pertence ao grupo de compostos orgânicos
sintéticos conhecidos como PCBs. Eles não são biodegradáveis e tem efeito
cumulativo nos tecidos vegetais e animais. Esse tipo de produto é usado em
transformadores, desses usados pela Celesc, mas também podem ser usados em
outros equipamentos. A preocupação da FEEC é justamente saber onde mais existe
esse óleo e em que condições ele está acondicionado. No caso desses 12 mil
litros que vazaram, é certo que estavam sem qualquer proteção e sem que se
levasse em conta a periculosidade. “A sorte foi que o funcionário percebeu que
havia algo errado e procurou os técnicos da universidade que trabalham ao lado
do galpão da Celesc. Ainda assim, o produto vazou por mais de dois meses, e os
efeitos disso podem ser muito perigosos para toda a cadeia de vida da região”.
Conforme o coordenador da FEEC a contaminação vai se dando
muito lentamente e, depois, pode se alojar nos animais, nas plantas e
consequentemente nas pessoas que comerem esses produtos. Também pode contaminar
a água e todo o subsolo. “O problema é que esse produto é altamente tóxico e a
ingestão de quantidades microscópicas já é um problema. Isso vai acumulando no
organismo e pode gerar problemas por gerações”.
Está circulando pela internet um alerta da médica Vera Bridi
sobre a necessidade da imediata interdição não apenas do consumo dos moluscos e
peixes das baías, mas também a proibição de banhos. Segundo ela, o produto é
altamente perigoso para a saúde humana. Outro médico, J. Paulo Mello, lembra um
acidente com esse mesmo produto, acontecido no Japão, em 1968. Segundo ele,
pouco tempo depois a população passou a apresentar o depois denominado “Mal de
Yusho”, que tem como sintoma bronquite, entorpecimento dos membros e edema.
Tudo isso foi atribuído à ingestão das PCBs contidas no óleo. Outro caso semelhante
aconteceu nos Estados Unidos quando o produto foi detectado no lençol freático
de uma cidade. O óleo havia sido enterrado Há anos e estava num aterro químico.
Esses fatos mostram o quanto a população está ameaçada, senão
nesse momento, mas a longo prazo. Daí ser considerada uma irresponsabilidade a
liberação da maricultura e a minimização dos efeitos. “O óleo vazou por muito
tempo, e o recolhimento que foi feito não garante de forma alguma que ele não
tenha penetrado na terra, no mangue e se espalhado pela baía. Os órgãos
ambientais têm de ser pressionados pela população a apresentar laudos
sistemáticos. Isso não pode ficar no esquecimento”, diz Gert.
Os médicos do sul da ilha também estão em alerta e convocam a
população a ficar atenta. Segundo eles, os sintomas observados nas pessoas que
sofreram o Mal de Yusho são fadiga, dor de cabeça, dores com inchaço, inibição
do crescimento da dentição, anemia, problema sanguíneos, redução da condução
nervosa, erupções na pele, despigmentação, dor nos olhos e infecção persistente
nas vias respiratórias, entre outros. “Além disso, existe o risco de alterações
genéticas. A coisa não é brincadeira”.
Mas, apesar de todo esse alerta, o juiz federal Marcelo Krás
Borges já liberou a produção e ostras, mariscos e berbigões na região, baseado
no laudo da Fatma de que não havia contaminação. Gert Shinke alerta para a
chamada “guerra dos laudos” que pode acontecer visando proteger determinados
interesses. “Nós já vimos isso quando da tentativa de Eike Batista em fazer um
estaleiro por aqui. Havia laudos para todos os gostos. Nós temos é de exigir
dos órgãos ambientais que haja a medição contínua e sistemática da contaminação”.
O vazamento de um produto altamente tóxico e contaminante
coloca em questão a completa vulnerabilidade da população diante de produtos
dessa natureza. Como esse óleo foi parar num galpão, sem qualquer proteção? Que
outros galpões haverão por aí com produtos desse tipo, sem que se saiba? Como
um produto tão perigoso, usado em equipamentos que estão por aí aos milhares
(como os transformadores) não têm um programa de proteção para descontaminação
em caso de acidente. Pelos estudos levantados, nenhuma das técnicas de
descontaminação em caso de grandes vazamentos existe no Brasil. Há uma, sendo
trabalhada num laboratório de Curitiba, mas ainda em testes, conforme estudo
realizado pelo Ministério do Meio Ambiente. Então, como as autoridades de Florianópolis
vão proteger a população? Isso ainda é uma incógnita.
O certo é que as pessoas precisam agir e manter vigilância
sobre as ações dos governantes. Outros laudos estão sendo feitos e precisam ser
divulgados amplamente. É preciso que o governo estabeleça uma comunicação
transparente, permitindo que a população acompanhe e se proteja. A FEEC promete
manter-se alerta e acompanhando o caso. “Mas é fundamental que as pessoas
estejam com a gente, cobrando. Sem um acompanhamento de longo prazo não podemos
ficar”, finaliza Gert.
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ResponderExcluirhttp://sosriosdobrasil.blogspot.com.br/2013/02/vazamento-de-oleo-toxico-em.html
Incompetencia é geral no BR
ResponderExcluirE impunidade tambem
Para festa e beberagem temos milhões
Para pessoas firmes e responsáveis, surgem muito poucas
Cabe a essas pessoas vigiarem e educarem tudo o que for possível
Há muito pouco carinho com o meio ambiente no BR, um dia vão se arrepender de terem usado este setor para fazerem toda a sorte de falcatruas
Att, Orua, www.institutoanima.org