Alzheimer/Velhice

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Entendendo a marca da bolsa




Entrei no ônibus correndo, atabalhoadamente, como sempre. Carregada com livros, casaco e equipamentos de trabalho. Era fim de tarde e o terminal urbano vazava gente pelo ladrão. A fila do Rio Tavares já tinha parado, esperando o outro horário, mas eu estava atrasada e o jeito era ir em pé. Esperar pelo próximo ônibus equivaleria perder uns 20 minutos ou mais, o que me faria também perder a integração e toda aquela ladainha de quem sofre o transporte coletivo desintegrado de Florianópolis. 

Assim, entrei e fui me esgueirando em meio ao povo tentando achar algum lugar que me permitisse segurar no ferrinho do banco porque, como sou pequena, não alcanço o ferro de cima. Tragédia cotidiana. Foi então que percebi uma coisa que me deixou muito intrigada. Na medida em que eu ia avançando pelo corredor ia esbarrando nas pessoas, é claro. Mas o curioso é que as mulheres pareciam estar todas com a mesma bolsa. Era o mesmo modelo, o que variava era a tonalidade. Algumas a tinham na cor bege e outras, marrom. Imediatamente pensei que aquelas bolsas deveriam estar bombando na novela, porque às vezes acontece de um determinado personagem ditar moda. 

O ônibus saiu rumo ao Rio Tavares e fiquei matutando, tentando encontrar algum globo ocular simpático para entabular uma conversa. Lá pela rabeira do ônibus encontrei uma garota que eu conhecia. Observei que ela também estava com uma bolsa igual. Então, observei: - “Gozado, parece que tá todo mundo usando o mesmo modelo de bolsa, né?”. Ela me olhou e riu gostosamente: “É a Louis Vouitton, Elaine. Uma marca famosa, é super moda agora e a gente encontra, baratinha, no mercado público”. Então mostrou a sua, a qual tinha estampada por todo o corpo a tal da marca, um L e um V entrelaçados. Eu então perguntei: “E quanto é que o pessoal ganha para andar com essa bolsa?” E ela, com cara de espanto: “Nada, a gente compra, é moda”. 

Eu fiquei ruminando a informação. As bolsas são como outdoors ambulantes, estampando uma marca, propagandeando. As pessoas deveriam ganhar por isso, afinal, é um anúncio. A menos que fossem apaixonadas pela marca, ou a marca significasse alguma coisa muito legal, como uma campanha para salvar animais, uma mensagem política ou coisa assim. Mas não, fui informada de que o legal é mesmo ostentar a marca, para que os demais vejam o quanto a pessoa é descolada. Entendi. “Essa tua bolsa, por exemplo, é ridícula...”, ela me disse, entre risos. Eu ri também, entendendo que ela era torcedora do Avaí e não que desfizesse da minha “verdinha”. É que a minha bolsa velha de guerra estampa o símbolo do meu time do coração, deliciosa paixão: o Figueirense. De fato, admiti, é brega. Mas não seria tão brega quanto ostentar uma marca só porque ela é marca de descolados?  Ficamos nesse papo, e o povo todo em volta ouvindo. Ela perguntou: “E tu, não tinha que cobrar por levar o brasão do time?” Mas time é amor, respondi.  “Pois é, e Louis Vouitton para nós é amor também”. Putz, me pegou. Como rebater isso? Não dá.  

Assim, de ponto em ponto, lá se foram as moças com suas bolsas em série. E eu, saí serelepe, com minha mochilinha verde, de pelúcia, com o símbolo do furacão do estreito. Cada uma carregava sua própria significância, o seu amor... E vamos combinar, como dizer qual amor é melhor? Não tem como!
 

2 comentários:

  1. A tua bolsa verde é que é muito legal! Não torço pro Figueira, mas não tem problema. O que importa é que a tua verdinha é original e tem jeito de artesanato. As bolsas de todas as outras são "made in China", a maior pirataria falsificada. Uma LV original, em Paris, custa uma baba! Só gente muito rica usa. Pobres meninas... Sem entender, colam na própria testa o selo dos que arregaçam o mundo...

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  2. Concordo com o Clóvis! Também não torço para o Figueira, mas sou muito mais a tua verdinha! Abaixo a ditadura das marcas! Pra mim, amor à marca não é amor... É a ditadura do consumismo! Abaixo o consumismo! E viva a originalidade! Achei tua verdinha bem original!

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