Alzheimer/Velhice

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Valdir Agostinho é festa


Então eu que vivo "tatuirada" (entocada) decidi sair na noite dessa terça-feira só para ver o Valdir Agostinho. E isso não é qualquer coisa. O Valdir é uma entidade, a consubstanciação da alma ilhoa, é menestrel, é poeta, roqueiro, menino, é pé descalço na areia da barra, é pandorgueiro, de coração sempre voando nas altas paragens. Valdir Agostinho é fantasia, é água do mar, é peixe, é homem, é aracuã. Seu canto reverbera a vida simples de uma Florianópolis que continuamos buscando. Sua pureza evoca o jeito doce da criança que ainda não foi tocada pelo mal. “Eu sonhei que chegava aqui e não tinha ninguém”, confessou ele, encantado com o teatro cheio de gente.

Cercado das suas bugigangas recicladas, Valdir Agostinho tomou conta do palco do TAC. As roupas coloridas, os chapéus malucos, os instrumentos feitos com lata e papelão, tudo ali forjado em encantamento e alegria. Impossível ouvir a “sereia manezinha” e não se deixar levar pelas profundezas do mar sem fim que rodeia essa ilha bela. Um mar que Agostinho joga em nós, no delicioso ritmo das canções, ora rock, ora balada, ora baião, ora qualquer coisa agostiniana de sabor salgado com cheiro de viração.

“Se o Martin fizer balaio, eu vou querer comprar um”, diz, desvelando a ilha profunda, que vive nos cantões da Lagoa, do Ratones, do Ribeirão. Em cada personagem, em cada letra, Valdir vai apontando homens e mulheres, coisas boas, procissões, festas de divino, carnaval, bruxas, Cascaes. Toda essa cultura rica e poderosa que poucos ainda conseguem amar. Valdir Agostinho ama, como o Peninha ama, como um tanto de gente que encheu o teatro também ama.

A noite com a música e a poesia de Valdir é uma festa sem fim, deixa o coração da gente cantando. Bruxólico, criança, moleque, erê. Guri sapeca da Barra que cuida do planeta, que enche o céu de pipa, que brinca com as almas que voejam pelos caminhos arenosos dessa cidade amada. Feiticeiro, ele cria um caldeirão de magias que saltam como sons e cores. Um show do Valdir é um mergulhar na cultura popular, recheado com o dizer chiado do povo daqui. É comer robalo, siri, camarão, tainha, marixco, corvina, é voar nas vassouras das bruxas, é banhar nas águas claras do mar e sair com o cabelo cheirando maresia.

“Eu quero você na minha, minha sereia manezinha. Vou te fisgar na minha linha, e enquanto isso eu vou cantando o reggae da tainha”...Ele canta e a gente sai, vestida de festa, pela rua afora, também dançando o reaggae da tainha...

Valdir Agostinho, eu marixcolhi você...

Veja o clip do Reggae da Tainha

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