Alzheimer/Velhice

terça-feira, 27 de março de 2012

Curitiba




Eu tenho um profundo amor pelas cidades. Talvez porque elas sejam o berço das gentes, lugar onde se esconde a dor e beleza dos que buscam uma vida digna. Caminhando pelas ruas citadinas vive-se um profundo encontro humano. Encontra-se desde o yuppie sem coração até o varredor de rua, limpando o lixo dos outros com um sorriso na cara. Ou a vendedora de flores, o empresário que saiu para almoçar, a dona de casa, o estudante, o operário, a prostituta. Cada um desses personagens, no ri e vir, vão tecendo o imenso e diversificado tecido social que ora aparece como calmaria, ora como rebelião.

Esta semana ando flanando por Curitiba. Lugar delicioso de largas ruas, espaçosas calçadas, floreiras e bancos nos calçadões. Caminhando pelas ruas do centro, coração pulsante da cidade, me encontro e me perco, assombrada com tantas formas, belezas, delícias. Uma virada de esquina e ali está um espaço que parece ter saído de um livro de história, outra esquina e nos salta um prédio futurista, mais um pouco e lá está o mercado público, maravilhoso, cheios de formas, curvas e gentes. No meio da rua, um vagão, cheio de livros.

O fervilhar da rua XV é puro encantamento. Bares, cadeiras na calçada, gente conversando, espaço de encontro mesmo. Tão diferente do calçadão da Felipe, em Florianópolis, onde não há bancos, nem lugares de parada. Tudo é feito para que a pessoa passe, correndo. Em Curitiba não. Os mais velhos se espalham pelas dezenas de bancos e praças, com chafarizes e flores. O comércio não briga com as gentes. Espera, apenas. E as pessoas, ainda que descansem, também entram nas lojas e consomem, como é comum num mundo capitalista. Mas, vê-se claramente que a vida é mais humanizada, pelo menos no centro, onde tudo pulsa.

Em dois dias, eu já andei quilômetros, descobrindo os segredos de cada rua, os menores bares, os cafés, as padarias, as casas de vinho, os sebos, as livrarias, as bancas de artesanato, as comidas de rua. Numa das tantas praças há um feira de páscoa e misturam-se ali as culturas de vários países representados nas barracas. Imagino que devam ser os imigrantes mais representativos em Cutiriba. Comi doces poloneses, salteñas bolivianas, pizzas italianas, enfim... coisas demais. As pessoas são cálidas e sorridentes. Só o tempo está frio.

E agora à noite, enquanto me empanturrava com algum tipo de iguaria japonesa, me deu certa culpa. É que em Florianópolis acontece a batalha do Plano Diretor e eu não estou lá. Mas, sei que bravos compas estarão e, afinal, não estou na terra de Leminski a passeio. Então aproveito. Por aqui ando em missão de saber e pelas ruas sigo, olhando, sorvendo a vida, repetindo, assombrada, o poeta: “saber é pouco, como é que a água do mar, entra dentro do coco...

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