Alzheimer/Velhice

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Um dia a mais com dez reais

Por Leonardo Tolomini Miranda

O seu salmão é o meu feijão com arroz

O seu carro a sua beleza, a rua a minha amiga

Não há nada que você queira, eu quero tudo

Tudo para mim, só para mim

Quero que meus olhos não vejam mais miséria

Que não vejam mais fome e tragédias imbecis

Não quero mais nenhuma mãe ser ter com que alimentar seu filho

Sou egoísta, quero isso para mim, para mais ninguém

Meus olhos e ouvidos não aguentam mais, não é pinico

Minha vida não é joguete se vou ser feliz ou miserável

Quero ter a felicidade, desconstruir a infelicidade

Quero um mundo só para mim, sem você que me perturba

Que dirige esse maldito carro importado, que está na política por dinheiro

Empresário que explora sua mão de obra faminta

Sou egoísta, sou ruim, tenho pesadelos e entro no sonho daqueles malditos

Que assombram meus olhos, que me trancam em quatro paredes

Não quero mais você miséria, muito menos você riqueza

Vocês duas são estúpidas e só andam de mãos dadas, uma dá a porrada

A outra o falso sorriso

Vocês são o caos, o fim do mundo, quero a igualdade só para mim

Para poder descansar um pouquinho à noite e achar que vale a pena viver

Diante da estupidez da miséria passiva e da riqueza brilhante

E um bom foda-se a indústria cultural do pão e circo

Novela e futebol

E enquanto isso o mundo é assim mesmo, a droga está em qualquer esquina

É o meu mundo, porque o mundo é meu, antropocêntrico

Fode-se a cada dia, a cada instante que olho um miserável capitalista ignorante

Que acha que o mundo é seu através das moedas, dos juros, dos bancos, das gerências

O mundo não é deles, o mundo é meu e o meu mundo é igualitário

Declaro guerra a esta gente podre de sentimentos, vazias de qualquer esperança

Pois já possuem tudo, possuem o meu suor em seu copo de vinho

Minha saudade em sua cama

Minha filha em sua esquina

Meu filho de roupas rasgadas

Quero que eles se acabem instantaneamente, assim como o mundo irá se acabar

Se eles continuarem a ditarem as regras

Que regras? Há regras? Nenhuma.

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