Alzheimer/Velhice

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Quem é teu advogado?


A impunidade no Brasil para aqueles que têm dinheiro e podem pagar bons advogados está tornando a violência gratuita uma coisa bastante comum entre os jovens da classe média alta. Os casos de avolumam e os resultados práticos só fortalecem a idéia de que eles podem fazer tudo, que nada de mal vai lhes acontecer. Entediados com suas vidinhas boas, esses garotos saem por aí dando “porrada” em qualquer um que lhes apareça na frente. Na última semana foi bastante falada a agressão de um grupo de jovens contra homossexuais em São Paulo. Tudo violência bárbara, gratuita, ao melhor estilo “laranja mecânica”. Em Florianópolis já tivemos o caso do garoto menor de idade, filho de gente rica, que estuprou uma menina com requintes de crueldade e saiu livrinho da silva, pagando pena comunitária, que ninguém sabe exatamente qual é. Ou seja: impune.

Outro dia, duas garotas foram agredidas de maneira selvagem por um jovem estudante de medicina numa casa noturna da cidade, a Vecchio Giorgio, na Lagoa da Conceição. Uma delas teve a testa afundada por um soco. O cara só foi parar na polícia porque um policial civil estava no bar e impediu que o dono da casa livrasse a cara do agressor. Ainda assim, não foi lavrado flagrante e o cara foi liberado. Nunca vai prestar contas deste ato.

E, na semana passada, dentro do Campus da Universidade Federal, dois estudantes e um professor - Vinicius de Mendonça (odonto), Luiz Felipe Prazeres (professor) e Daniel Bernardo de Souza Alves - bateram covardemente num garoto que vinha tranquilamente de bicicleta para uma comemoração depois da vitória no DCE. Eles só foram pegos porque, vistos pelos companheiros do garoto, tentaram fugir num carro e foram apedrejados. Então, os agressores também foram para o hospital onde já estava o garoto agredido. Os amigos reconheceram os dois e chamaram a polícia. Um deles é aluno da Odontologia. Outro disse atuar numa entidade como educador, o que parece ainda mais paradoxal. O que ensinará este jovem?

Para os agredidos fica uma perplexidade. As pessoas andam por aí batendo nas pessoas, cometendo atos de selvageria e nada acontece. Basta que apareça um bom advogado e lá estão eles fora da prisão, coisa que não acontece com os pobres, negros ou os identificados como “marginais” simplesmente por sua aparência.

Então, a gente vê na televisão os psicólogos, antropólogos e outros tantos estudiosos da violência falando sobre o que acontece com essa gente saciada que agora decidiu praticar seus atos de violência às claras, sem medo de nada. Porque é obvio que essas violências sempre aconteceram em todas as classes sociais, apenas que até pouco tempo os chamados “bem-nascidos” não andavam por aí à luz do dia batendo na cara das pessoas com lâmpadas. Agora eles fazem isso sem pudor. Mas, já se parou para pensar no que está para além das aparências? Será isso apenas uma patologia passageira e passível de cura?

Defendo a tese de que não, não é passageiro e não é uma doença do sistema. É, ao contrário, a natureza do sistema capitalista se explicitando, mostrando mais uma face de violência e exploração contra os sem poder. Essa agressão se dá no momento em que um capitalista suga a mais-valia de um trabalhador, quando a acumulação de riqueza faz com que um tenha muito e a maioria não tenha condições nem de reproduzir a sua vida. Essa violência aparece nas regras de produção que matam e adoecem milhões de pessoas todos os dias nas grandes fábricas e indústrias. E chega ao ápice quando sai do círculo produtivo e passa para a vida fora do trabalho. Como é o caso dos garotos riquinhos que queimam índios, que batem em mulheres negras e pobres porque julgaram ser uma “prostituta”. Ou seja, essa classe de gente nasce e cresce dentro de um ambiente em que se configura coisa normal explorar e violentar as gentes, ainda que seja na lógica produtiva do capital. Então, fazer isso no dia-a-dia não deve lhes parecer errado.

Tem um filme de terror muito conhecido que se chama “O Albergue”, e mostra como os ricos pagam fortunas para irem até uma cidade perdida de algum lugar no leste europeu (é óbvio) praticar um esporte radical: matar pessoas com requintes de crueldade. Um esporte, uma brincadeira, um passatempo divertido. É a metáfora perfeita destes tempos da fase tardia do capitalismo. Aos ricos, tudo! Mesmo no tal do estado de direito. Afinal, têm os advogados e dinheiro...

5 comentários:

  1. Nota de esclarecimento.

    A equipe do Vecchio Giorgio vem, através desta, esclarecer o incidente ocorrido na madrugada de domingo 21/11. Conforme constam em nossos arquivos, bem como depoimentos de testemunhas presentes no local, o agressor entrou em nossa casa exatamente 1h, não consumiu nada e em cerca de 20 minutos cometeu uma série de agressões físicas contra mulheres clientes do estabelecimento.
    No mesmo momento em que foi informado das agressões, o segurança retirou o agressor do local não com o intuito de liberá-lo, conforme foi divulgado, e sim de impedir que outras brigas ocorressem e de que o mesmo escapasse impune antes da chegada de policiais ao local, que foram prontamente chamados pelo estabelecimento, bem como ambulância para socorrer as vítimas.
    Portanto, as acusações de que a equipe e o proprietário defenderam, e mais, foram coniventes com o agressor não são verdadeiras. Infelizmente não havia como evitar que o lamentável episódio ocorresse, pois como em qualquer outro ambiente, estamos sujeitos a atos de violência como este. Porém, estamos certos de que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para deter o criminoso, encaminhá-lo as autoridades e prestar socorro às vítimas chamando uma ambulância, que não chegou a tempo pois as vítimas foram de imediato socorridas pelos amigos que se encontravam na casa.
    De fato, tanto o proprietário quanto toda a equipe de funcionários também estavam tão chocados quanto todos os presentes, com tamanha violência ocorrido no nosso local de trabalho, idealizado para diversão e entretenimento das pessoas que são, sem dúvida, sempre muito bem recebidas.
    Estamos profundamente consternados e pedimos sinceras desculpas às vítimas e a todos os nossos clientes, e informamos que as medidas judiciais e operacionais necessárias, que aumentem a segurança de todos e que evitem que outros acontecimentos como esse voltem a acontecer, estão sendo tomadas.

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  2. Apenas reproduzindo o post que acabei de ler em um blog:

    "Aonde vamos parar?

    Ontem cheguei em casa as 4 horas da manhã me perguntando: onde nós vamos parar?

    Explico.

    Eis os fatos: Fomos eu e mais duas amigas ao Vecchio Giorgio, um barzinho aqui em Floripa que fica na Lagoa da Conceição. Jantamos e subimos para o segundo andar, onde estava tocando uma banda de samba rock. O ambiente estava superlotado, insuportável. Decidimos que iríamos embora, e ainda não passava da 1 da manhã. De repente um rapaz começou a nos empurrar. Uma menina foi pedir para ele parar e ele imediatamente começou a agredi-la. Minha amiga foi separar e ele deu um soco em sua testa. Afundou a testa no mesmo momento. Algumas pessoas foram segurá-lo e ele começou a jogar garrafas nas pessoas. Uma outra menina foi atingida e levou sete pontos.

    Questões importantes a serem consideradas:

    1- Ninguém conhecia o rapaz. Ele saiu agredindo gratuitamente. Depois voltou dançar como se nada houvesse acontecido;

    2 - O segurança do Vecchio só apareceu depois, quando eu fui chamá-lo e levá-lo ao agressor;

    3 - Perceberam que eu falei no singular? É que no Vecchio há apenas UM segurança;

    4 - Os funcionários do bar em nenhum momento prestaram auxílio às vítimas. O proprietário do bar em momento nenhum subiu ao segundo andar para ver como estavam as vítimas; [...]

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  3. [...] 5 - O segurança carregou o agressor e o levou para o andar de baixo, querendo liberá-lo. Como o pessoal do térreo não sabia o que estava acontecendo, tive que me colocar na frente do segurança e começar a gritar para impedir que o agressor fosse liberado;

    6 - O proprietário do bar, que como eu disse, em momento nenhum foi verificar a situação das vítimas e não chamou a ambulância, mandou-me calar a boca, porque eu estava exagerando e fazendo tempestade num copo de água (palavras suas);

    7 - O agressor ria e debochava da minha cara o tempo todo, dizendo que também me bateria;

    8 - Dois meninos conseguiram trazer minha amiga para baixo e um policial civil presente impediu que o dono do bar e seu único segurança liberassem o criminoso. Fomos tentar sair com ela para levar ao hospital (lembrando que ela estava com a testa afundada), mas o dono do bar nos impediu de sair porque não havíamos pago as comandas;

    9- Voltei ao caixa, paguei as comandas e saí com a minha amiga (precisavam ver a cara de alívio do dono do bar, que em momento algum ofereceu ajuda, só nos mandou parar de fazer escândalo desnecessário);

    10 - Fomos ao hospital, minha amiga tevea testa afundada, um osso do crânio fraturado. Em momento algum apareceu alguém do bar para prestar assistência;

    11 - Foi identificado o agressor, Lucas Felicíssimo, natural de Belo Horizonte, estudante da oitava fase de Medicina da UFSC. Dizem que chegou na Delegacia parecendo outra pessoa, aquele sorriso debochado fez-se lágrimas de crocodilo, acompanhados do velho jargão 'sou inocente'. Quem viu disse que chegava a ser comovente tão brilhante atuação;

    12 - O agressor, já acompanhado de advogados, foi liberado. Muitos dos presentes sentiram-se com medo de divulgar seu nome e ser ameaçado de crime de calúnia e difamação;

    13 - Lucas Felicíssimo, não tenho medo da verdade. Você deve ter, eu não. Dezenas de pessoas te viram agredindo mulheres, quebrando a cabeça da minha amiga. Não tenho medo de você, seu covarde.

    14 - Negligene ou conivente? Qual o adjetivo que melhor se coaduna com o proprietário do bar? E a omissão de socorro? E a falta de humanidade? Seu único interesse foi o de manter a imagem do seu bar, o tempo todo. E a falta de seguranças? E se ele tivesse uma arma? Teria nos matado a todos porque não há nenhuma espécie de controle na entrada. Ah, hoje fiquei sabendo que uma briga muito parecida ocorreu lá no Vecchio no feriado (nem isso levou o dono do bar a contratar mais seguranças);

    15 - E o bandido, que em breves tempos será médico? Que tipo de médico é esse, que ao invés de salvar vidas manda duas mulheres que sequer conhecia, sem motivo, para o hospital?

    As perguntas permanecem irrespondidas. Espero que a nossa Justiça possa responder algumas delas. Que mundo é esse? Onde vamos parar? Ah, o bandido e o dono do bar a essas alturas devem estar na praia; minha amiga está em casa aguardando uma cirurgia na cabeça."

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