Alzheimer/Velhice

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Um ato de amor!


Há dias em que pertencer à espécie humana me envergonha profundamente. Vi, outra noite, o que aconteceu em Chapecó, quando um grupo de jovens trucidou um rapaz. Os garotos se aproximavam do outro, caído, e chutavam, golpeavam com um capacete e até com uma barra de ferro. E o cara, ali, indefeso e só. Penso em quanta solidão também não haveria dentro daqueles que feriam. Quanto ódio guardado, quanta gana de causar dano... Fico pensando se nós, como humanos, não estamos in-voluindo. Que tipo de gente gesta uma sociedade baseada no egoísmo, no individualismo, no consumismo? Que tipo de gente pode vingar de um sistema em que para que um viva outro tenha de morrer? E é aí que me envergonho. Não por conta do gesto isolado de um grupo de desesperados, mas por este ato coletivo de construir uma sociedade tão pouco solidária e amorosa.

Eu vivo com alguns bichos e eles me dão lições todos os dias. Esta semana foi assim. Achamos uma gatinha perdida no mato. Algum humano havia “jogado fora” o serzinho para que morresse sem incomodar. Resgatamos, acolhemos e trouxemos para casa. Ela miava feito doida e logo todos os bichos da casa estavam ao seu redor. Juanita cheirou e arreganhou os dentes, brava pela intrusão. Zumbi, Tupac e Zé Pequeno também não gostaram da presença. Mas Steve, o cachorro, apesar de ser de outra “espécie” logo tomou para si a tarefa de protegê-la, e, lambendo-a, ia empurrando os demais gatos, bravos, para longe.

Miudinha, a gata cabia inteira na palma da mão. Estava assustada, então tomou leitinho e foi dormir na cama dos humanos, para ficar mais protegida. No meio da noite, o susto. A gatinha sumira da cama. Procura aqui e ali e nada. Então, alguém pensou em olhar dentro da casa do Steve e lá estava ela, encolhidinha, dormindo aconchegada ao cachorro.

No dia seguinte, outra lição. Já familiarizados com o cheiro e o miadinho, os demais gato foram se chegando. Não arreganhavam mais os dentes e até arriscavam umas lambidas. Mas, no fim da tarde, quando o sol despencava na barra do céu, vi a cena que me enterneceu. Buscando a peito de uma mãe, a gatinha parecia perdida sobre o tapete. Então Tupac chegou de manso, deitou ao seu lado e puxou-a com a patinha. Aconchegou no peito e passou a lamber, devagar, como a dizer: “não tema mais. Estou aqui”. Agora nossa Sub Ramona está assim, protegida pelos seus novos irmãos. Quão simples é um ato de amor!

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