O governo golpista de Honduras está dizendo ao mundo que o país “volta à tranqüilidade” uma vez que já estão convocadas as eleições presidenciais para 29 de novembro e se inicia a campanha política. Mas, para as gentes que lutam pela volta do presidente Manuel Zelaya, este processo chamado pelo governo golpista não tem o menor respaldo e tampouco garante a volta da “paz” ao país. Um dos dirigentes da resistência, Rafael Alegría, confirma que o povo em rebelião não aceita a idéia de eleições sem a volta de Zelaya ao seu posto de presidente. “Não vamos aceitar nenhuma imposição dos golpistas. O povo não vai participar desta farsa”. Também alguns partidos de esquerda se recusam a participar do processo. Em Honduras, dizem, assim como aconteceu em muitos outros países da América Latina, é o próprio sistema político que está em questão. Essa democracia de votar a cada quatro anos em candidatos com velhas práticas está morta. Há que surgir novas práxis.
Por outro lado, há lutadores sociais que insistem não ser a abstenção às urnas a melhor solução para o conflito. Acreditam que a população poderia dar um sonoro não ao governo golpista e colocar no poder gente capaz de tirar o país da lama onde está. Mas, sem a participação de candidatos mais ligados às causas populares, como garantir isso?
Para os partidos políticos que legalmente disputarão as eleições de 29 de novembro se apresentam novos desafios. Já não bastarão as mesmas promessas de sempre, pois a população deu um salto de qualidade nestes dias de resistência e mesmo aqueles que decidirem participar do pleito estarão de alguma forma já impregnados do novo clima político que se inaugurou com o golpe.
Disputarão as eleições cinco partidos formalmente constituídos. A coalizão “Compromisso por Honduras”, traz, na disputa para deputados, nomes conhecidos que sempre estiveram na luta por uma Honduras melhor, tais como Matías Funes, Efraín Díaz Arrivillaga e Enrique Aguilar Paz e tem como candidato à presidência Bernard Martínez do Partido da Inovação e Unidade Social-Democracia.
A Democracia Cristã tem à cabeça a candidatura de um líder sindical também muito conhecido, Felicito Ávila, e este tem se proposto a caminhar pelo país, ouvindo os eleitores no cara-a-cara, marcando uma prática diferenciada.
O Partido Liberal apresentou a candidatura de Elvín Santos e o Partido Nacional a de Porfírio Lobo, mas como estes são os partidos tradicionais de Honduras, que representam visceralmente a situação golpista que hoje se instaura, é bem provável que tenham de trabalhar bem mais do que com suas velhas práticas assistenciais ou abuso de poder econômico. Há uma nova Honduras aí.
O favorito das eleições, e no qual parte da esquerda está colocando peso é o candidato independente Carlos Reyes, destacado líder popular e sindical que, inclusive, aparece palatável às elites locais. Ele é o primeiro candidato independente da história de Honduras nos últimos 28 anos e participou ativamente das manifestações pró volta de Zelaya coordenando uma Frente Nacional contra o golpe.
Sobre o movimento que luta pelo retorno de Zelaya os analistas falam da existência de três forças: uma que é a do setor liberal, outra de extremistas de esquerda e outra de um setor popular que não aceita a forma como Zelaya foi tirado do processo. Com três vertentes tão díspares ainda não se sabe como o movimento vai se comportar durante a campanha e as eleições, embora já tenha havido declarações de algumas lideranças pelo não comparecimento às urnas.
Entre os populares que não se filiam nem à esquerda radical, nem aos liberais, há o receio de que ao aceitar o jogo imposto pelos golpistas, a candidatura de Carlos Reyes acabe sendo a opção das elites moderadas que querem pôr um fim aos protestos e voltar a “normalidade”. Assim, se por um lado, não votar pode acabar dando a vitória aos velhos políticos de sempre – uma vez que o candidato liberal tem dito que qualquer cem votos elege o presidente - eleger alguém que aparece como “tragável” pela elite pode configurar a queda numa armadilha. A mesma na qual já caíram outros países, de colocar no poder uma esquerda que se direitiza. Optando pelo “menos pior”, o que pode esperar o povo em luta?
Esta é uma batalha que só o povo hondurenho pode travar.
*Com informações da Telesur
*Com informações da Telesur
Acredito que quando mais a esquerda,melhor para povo.
ResponderExcluirDe facto, uma batalha que só o povo hondurenho poderá ganhar, com muita luta.
ResponderExcluirAs iniciativas diplomáticas nada estão a conseguir de eficaz para a expulsão dos fascistas golpistas. E não se vislumbram acções ditas da "comunidade internacional" para repor a legalidade democrática nas Honduras como aquelas que, a mando do imperialismo, vêm ocorrendo noutros países e cujos exemplos já são vários.
Recordemos:Bósnia,Jugoslávia,Haiti,Sudão, Somália,Iraque,Afeganistão, aos quais se somam as agressões no Líbano, na Palestina, na Geórgia/Ossétia, etc, chacinando muitas centenas de milhares de vítimas civis, tudo em nome da "democracia" (a deles). Mas nas Honduras, nada se faz. Também aqui se coloca a questão dos "critérios".
Mantenhamos activa a solidariedade com a luta do povo hondurenho, pela liberdade, pela dignidade.