Alzheimer/Velhice

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

A aranha


Na minha casa mora uma aranha. E já vai pra mais de dois anos. Ela fica num canto da parede, dentro de uma espécie de casulo. É bonita, grande e com uma cor delicada. Durante o dia tu olha pra lá e ela está lá, quietinha, como morta... No final da tarde ela desce, devagar e começa a tecer uma teia. Imagino eu que é onde ela prende os bichinhos voadores que lhe servem de alimento. Aquilo me encanta.

Nunca tive coragem de limpar o lugar. Olho para a teia e imagino que aquilo ali deve ser um universo para a aranha. Seu pequeno mundo é aquele espaço entre o casulo e a teia. Não deixo ninguém mexer. A aranha me faz pensar na vida da gente. E sempre que me aperta a angústia dos dias que passam quase sem propósito, na rotina do prosaico, eu vou ali bater um papo com ela. Aconteça o que acontecer ela tece sua teia. Todos os dias ela vai ali e remenda. Por vezes a teia está maior, outras menor, mas está ali, o seu universo. 

Então eu penso que com a gente pode ser assim também. Mesmo quando nada parece fazer sentido, é preciso percorrer os caminhos da nossa teia, remendar, costurar, agrandar. Talvez esse seja o sentido mesmo: simplesmente viver. Sei que não sou uma aranha, mas dias há em que me consola pensar que sou como ela, apenas tecendo, tecendo e tecendo...