Nunca tive coragem de limpar o lugar. Olho para a teia e imagino que aquilo ali deve ser um universo para a aranha. Seu pequeno mundo é aquele espaço entre o casulo e a teia. Não deixo ninguém mexer. A aranha me faz pensar na vida da gente. E sempre que me aperta a angústia dos dias que passam quase sem propósito, na rotina do prosaico, eu vou ali bater um papo com ela. Aconteça o que acontecer ela tece sua teia. Todos os dias ela vai ali e remenda. Por vezes a teia está maior, outras menor, mas está ali, o seu universo.
Então eu penso que com a gente pode ser assim também. Mesmo quando nada parece fazer sentido, é preciso percorrer os caminhos da nossa teia, remendar, costurar, agrandar. Talvez esse seja o sentido mesmo: simplesmente viver. Sei que não sou uma aranha, mas dias há em que me consola pensar que sou como ela, apenas tecendo, tecendo e tecendo...