Alzheimer/Velhice
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quarta-feira, 28 de setembro de 2016
Paraguai: ataque à liberdade de expressão
Desirée Esquivel tem apenas 21 anos, mas desde os 14 trabalha com comunicação. Tanto que seu caminho natural foi o jornalismo. Hoje está no terceiro ano do Curso de Ciência da Comunicação. Há oito meses foi contratada pelo Grupo Nación Comunicación, de propriedade de Sara Cartes, irmã do presidente do Paraguai. Na rádio 970 AM tinha um programa informativo, aos sábados, junto com Rubén Montiel. Mas, a parte esse trabalho mantém um blog onde escreve sobre as lutas populares, e sobre a política do Paraguai.
Por conta disso, ela acabou sumariamente demitida da rádio. Os motivos não foram apresentados, mas, depois, em conversa com seu chefe imediato descobriu que a demissão fora causada justamente por sua mirada crítica, exposta no blog. (https://desiesquivel.wordpress.com)
No Paraguai, que sofreu um golpe em 2012, a situação da comunicação é de indigência. Há que “fazer propaganda” do governo. Coisa que Desirée não está disposta a conceder. Além de ter o seu blog, onde segue escrevendo sobre as chagas abertas do Paraguai, ela faz parte da direção do Fórum de Jornalistas do Paraguai, bem como do Sindicato de Jornalistas.
Aqui, nessa entrevista, ela conta o que aconteceu e mostra como a comunicação crítica está sendo sufocada no país, inclusive com ataques à rádios comunitárias.
segunda-feira, 26 de setembro de 2016
O voto e a mãe de todas as batalhas
Com Lino e com Elson, na esperança...
Hoje um amigo muito amado me questionou privadamente no face
sobre o que ele considera uma “grande incoerência” da minha parte. Não queria
me expor, disse, por isso, falou no privado. Sua questão era: como podia eu
votar para prefeito num partido (PSOL) que não se posicionou claramente contra
o golpe, e que ainda tinha coligado com partidos golpistas (PV e Rede). E como
podia também eu votar num vereador do PT, sendo eu tão crítica do PT. “Isso não
te parece loucura”, perguntou.
Achei muito pertinente a sua questão e expliquei que já
havia exposto minhas razões. Mas sempre se pode voltar ao tema, até porque sei
de muita gente que está perdida nessas eleições por conta da fragilidade dos
partidos políticos e das alianças esdrúxulas que estão sendo construídas.
Respondi a ele que se tem algo que eu amo de paixão é essa
minha cidade. Um lugar que eu escolhi para viver e lutar, e que me acolheu. Por
isso, sinto que tenho responsabilidade para com esse espaço geográfico e essa
gente que comigo constrói a realidade local.
Vivemos um tempo em que os partidos políticos perderam sua
força. O campo da esquerda está confuso e esgarçado, seja pelo processo de
domesticação vivenciado no governo petista, seja pela incapacidade de
constituir uma proposta classista, radical e revolucionária. Isso faz com que o
velho hábito de votar em um programa partidário se perca.
Se formos peneirar as alianças dos partidos, vamos perceber
que apenas o PCO, PCB e o PSTU, do campo da esquerda, mantém um programa mais
próximo daquilo que se poderia chamar de classista. O PCB é um partido que vem
se re-constituindo e pode vir a ser uma opção de militância, mas não tem
candidatos em Floripa. Tampouco o PCO existe por aqui.
No caso da capital catarinense, apenas o PSTU tem
candidatura para prefeito e vereadores, mas confesso que por conta de suas
práticas cotidianas há muito deixei de ver nele uma possibilidade. Falta
conexão com a realidade.
Sendo assim, decidi votar em pessoas que tivessem propostas
que mais se aproximassem das minhas convicções e dos meus desejos de cidade.
Escolhi para prefeito o Elson porque ele congrega nas suas propostas – ainda que
coligado com pequenos partidos que apoiaram o golpe – as propostas que temos
construído coletivamente para Florianópolis no processo do Plano Diretor. E ele
mesmo é uma pessoa que participou ativamente desses momentos, formulando
propostas concretas para esse nosso lugar. Vou com ele, acreditando que, caso
ganhe a prefeitura, possa avançar na construção de uma cidade para as pessoas e
não para os carros ou a especulação. Acredito que ele possa cumprir com as
propostas que vem apresentando, mesmo com os aliados que tem, partidos
praticamente sem expressão na cidade, com pouca força de barganha. É um cálculo
pragmático.
Já o voto no Lino Peres vai pelo mesmo caminho. O Lino é um
vereador do PT e carrega com ele todas as mazelas causadas por esse governo em
nível nacional. Mas, alguém pode colocar algum defeito na atuação parlamentar
do Lino nesse mandato que passou? Ele cumpriu todas as propostas que fez,
atuando em sintonia completa com as lutas sociais e com as demandas da cidade
real. Foi um guerreiro no processo do Plano Diretor, é presença segura nos
movimentos sociais, cotidianamente, e não apenas nos “bons momentos”. Reuniu gente
que nunca participou de política, criou espaços de debate, de organização
popular, levou para dentro da Câmara os mais variados grupos e temas,
impulsionando a luta popular. Não tenho reparos ao trabalho que fez. Respeito demais
o Lino, pela sua força e pela dedicação com a cidade. Ele respira
Florianópolis, conhece cada canto e sabe que seu trabalho parlamentar é só uma
gotinha no oceano da luta. Ainda assim, cumpre suas tarefas como se delas
dependesse a vida de todos. É puro compromisso. Isso não é pouca coisa.
Assim, em nome do amor que eu tenho por essa velha Meiembipe,
eu mergulho de cabeça no nojo que pode me causar algumas coligações e mesmo
algumas posturas. Afinal, a vida real não é um reino encantado. Ela precisa que
a gente caminhe em meio ao desgosto, para chegar num lugar melhor.
Ademais, a eleição municipal não é a mãe de todas as
batalhas. É um pequeno e quase inútil combate. Só que precisa ser travado.
Gostaria de lutar por dentro de um partido revolucionário, cujo elemento
suleador fosse a consciência de classe. Mas, essa é uma opção ainda em
construção. Enquanto isso, pragmaticamente, darei meu voto a essas duas
criaturas, nas quais – a despeito de seus partidos - eu confio. Não nego que isso me frustra,
mas, a vida não é um carrossel colorido. Ela é feita de contradições e de
opções duras, por vezes indigestas.
Não me sinto mal por tomar essa decisão. Ela é consciente,
como tudo que faço. Espero que meus candidatos sejam eleitos e eu possa ver que
acertei.
E, se forem eleitos e defraudarem minhas esperanças, ali
estarei, na trincheira, batalhando contra eles.
O Lino já se provou. Fez bonito. E tenho confiança de que o
Elson também cumprirá, caso seja sua hora.