Conselho de Unidade do CSE vota proposta esdrúxula e antidemocrática para as próximas eleições.
O golpe dado no Brasil, a revelia de todas as leis e
práticas históricas já começa a se reproduzir em efeito dominó. Liberados pelo
exemplo dos “impolutos” políticos nacionais, professores do Centro
Socioeconômico da UFSC decidiram também legislar sobre a vida das gentes
abrindo mão do processo democrático. Pegando a trilha da ponte para o passado
de Temer, apresentaram proposta de retroceder e realizar eleições para direção
no sistema 70/30, que dá o peso de 70% para o voto dos professores. Segundo o professor
Armando Lisboa, um dos defensores da proposta, isso se justifica pela
meritocracia: os professores sabem mais que técnicos e estudantes.
Informados pelo representante dos técnico-administrativos –
os TAEs tem apenas um representante no Conselho da Unidade - sobre o golpe que seria dado sem o
conhecimento da comunidade, estudantes, técnicos e professores se mobilizaram e
realizaram debates. Desses debates surgiu a reivindicação de que o Conselho não
votasse mudança de regras nesse momento em que o processo eleitoral já estava
dado. Não houve jeito.
A direção do Conselho marcou reunião para essa quinta-feira,
dia 22, dia de greve geral, no qual a universidade estava bem esvaziada, para
realizar a votação, mesmo sendo solicitado que a reunião fosse adiada. De novo,
ouvidos moucos. Ainda assim, estudantes, técnicos e professores foram para a gente
da Sala dos Conselhos solicitar reunião aberta, para acompanhar o debate. Mas,
o que esperar de golpistas? Mais uma vez os professores – que conformam a
maioria do Conselho na proporção de 70% - negaram a participação democrática.
Seguiram a portas fechadas, buscando decidir sobre a vida de todos, sem
qualquer espaço de debate.
Informados pelos conselheiros estudantes, os que estavam do
lado de fora iam acompanhando o debate. Como a comissão formada pelo Conselho
não chegou a uma decisão, ficando empatada entre o voto paritário e o 70/30, o
professor Helton Ouriques apresentou uma proposta ainda mais absurda: dividir os
segmentos em 2/3 e 1/3. Com isso deixava os estudantes sem nenhum poder de
decisão e incorporava os técnicos na urna dos professores, com peso ainda menor.
O suprassumo do golpismo.
Nessa hora os manifestantes decidiram entrar e acompanhar a
votação, uma vez que havia ainda o risco de a votação ser secreta, com os
professores se escondendo sob o anonimato. Então foi a vez do festival de
bobagens, com os mais exaltados dando de dedo no rosto de todo mundo chamando
os colegas e estudantes de mal-educados. “Isso é que não é democracia”, diziam,
quando eles mesmos haviam negado o direito de todos acompanharem o debate.
Democracia, para os professores, é apenas aquilo que eles querem. A visão grega: direitos para alguns, exclusão da maioria.
O fato é que ninguém arredou pé e a reunião seguiu com a
realização da votação. O professor Wagner, da Economia, provocou os
manifestantes dizendo que ele era um homem de muita coragem, pois iria votar
sem ligar para as pressões. No fundão, alguns professores mais jovens, com
caras assustadas, e outros desafiadores, preparavam-se para seguir o líder. Um
momento patético.
A votação foi, enfim, nominal. Uma a um os conselheiros
foram dando seu voto na primeira votação. Deveriam dizer se eram a favor ou
contra o voto paritário. Todos os representantes dos estudantes, de todos os
cursos do Centro votaram a favor do paritário, o representante dos técnicos
também e, entre os professores, apenas a valente representação do Curso de
Serviço Social – Beatriz, Jaime e Dilceane – votou pelo paritário, conformando
oito votos no total. Os demais professores dos Cursos de Contábeis, Administração,
Economia e Relações Internacionais votaram contra o paritário, decidindo que os
professores do CSE são “mais iguais” que os técnicos e estudantes.
Depois dessa votação passaram a outra votação, ainda mais
vergonhosa, decidir se a eleição seria no 70/30, ou a partir da proposta do
Helton, de 2/3 – professores e técnicos juntos, e 1/3 para os professores. Venceu a proposta do Helton, com os
professores “concedendo” aos técnicos a honra de dividir a urna, colocando os
estudantes na posição de maior inferioridade. A universidade do mérito e o
golpismo vencia a batalha. Os manifestantes se retiraram e não acompanharam a
hora patética.
Agora, como os técnicos não foram consultados sobre a
proposta de Helton Ouriques - que resolveu decidir pelos mesmos – a reação
virá. É certo que o momento brasileiro, de trevas democráticas, é bastante
propício para o levantes de figuras medíocres e ideias atrasadas, mas a batalha
se fará.
O que fica como rescaldo da triste tarde de greve, na qual
os professores do CSE dos cursos de Economia, Contábeis, Administração e
Relações Internacionais fizeram o centro regredir, é a certeza de que a
universidade segue sendo o espaço do atraso. Mas, apesar disso, também se pode
perceber que os estudantes seguem vivos e rebeldes, que ainda há técnicos que
se importam com a vida da instituição e professores que lutam para que a
universidade seja livre e democrática. São tempos sombrios, mas a luta segue.