Então veio o sete de abril, incensado como o dia do
jornalista. Passou meio batido em meio a um dia estressante de trabalho. Mas,
no final do dia, desavisada, acabei assistindo o RBS Notícias, da rede RBS,
para dar uma espiada sobre como estava se fazendo o jornalismo, naquele dia tão
especial. Foi como um balde de água fervente no cangote.
Uma reportagem em particular tirou-me o chão dos pés. Era
sobre a superlotação dos hospitais em Joinville. O repórter mostrou o problema de
falta de leitos, gente nos corredores, aquele drama de sempre. Mas, o
surpreendente veio ao final. Quando enfim pensei que viriam em destaque os
motivos daquilo ali, assomam os entrevistados. Um deles, representando o
hospital, dizia que a superlotação era devido ao fato de que as pessoas estavam
com medo da gripe A e, portanto, procuravam o hospital para consulta. Ora, por
favor!
Depois, o ápice. Aparece uma mulher, não sei se da
secretaria de saúde, alguma coisa assim. E a pérola maior. “As pessoas não
devem procurar o hospital. Devem procurar o posto de saúde mais próximo da sua
casa”. SEM OR!!!! Quem no mundo, ao sentir-se doente, procurou um posto e
encontrou um médico na hora? Creio que é algo raro de acontecer.
Certa vez, em 2008, eu quase morri por septicemia. Estava
com uma infecção generalizada e já tinha
passado por 12 médicos - entre posto de saúde e UPA . Quando enfim, vencida,
tive de ir a um médico particular, ele me disse, com todas as letras: quando
estiver doente mesmo, procura o hospital, lá pelo menos tu vai ser atendida e
fazer exames. É uma técnica de sobrevivência nesse mundo de caos que é a saúde.
O sistema de Posto de Saúde funciona bem se a gente consegue se agendar, fazer
consultas preventivas. Mas, na hora da doença mesmo, não dá pra contar.
Qualquer um sabe disso. Que fique claro, o SUS é o melhor sistema do mundo, mas que tem problemas, tem. No geral, é por que não há o investimento necessário. Coisa complexa...
Mas, a reportagem da RBS encerrou aí. Então, o que fica é o
seguinte. Os hospitais estão lotados porque as pessoas são histéricas e
procuram o hospital por qualquer coisinha. Que elas devem ir ao posto de saúde,
que lá haverá alguém para atender. Pode?
Desliguei a Tv e fui acender um incenso para Saraswati e São
Francisco de Sales, respectivamente a deusa indiana, protetora da escrita e do
conhecimento e o santo cristão, padroeiro dos jornalistas. Ó deuses e deusas, protejam os bons
jornalistas.. Eles devem andar por aí....