O ecologista Gert Shinke lançou, no último dia 4 de junho, um livro no qual desvenda a farsa do capitalismo verde. Revela como muitas entidades e pessoas acabam caindo no conto do "ambientalismo sustentável" que nada mais é do que o sistema capitalista agitando bandeiras do movimento, sempre a seu favor. Vale a pena conferir a obra.
Alzheimer/Velhice
▼
quinta-feira, 6 de junho de 2013
quarta-feira, 5 de junho de 2013
Para entender porque matam os índios
No início do século XX o Brasil decidiu expandir suas fronteiras agrícolas, fortalecendo a sua posição de país dependente, exportador de matérias primas. Era necessário então avançar pelo interior, abrir caminhos para a pecuária e a agricultura. Aí entrou em cena o Marechal Rondon, que sonhava com uma convivência pacífica entre índios e brancos: "morrer sim, matar, jamais". Mas, esse legado de humanidade se perdeu no tempo. "Pacificados," os indígenas chamados a se "civilizar", a entrar no ritmo da sociedade branca, foram perdendo sua identidade, suas raízes, sua cultura. Outros, renitentes, foram alojados em reservas, como se fossem bichos exóticos, com suas terras diminuídas e tutelados pelo estado. O território "pacificado" ganhou escrituras, donos, cercas. E aos verdadeiros donos do território restou a nostalgia de um tempo em que eles podiam viver à sua maneira.
Agora, durante o mais novo ciclo de desenvolvimento dependente brasileiro, que teve início no governo Lula, é justamente essa dita fronteira agrícola que busca se expandir outra vez e, de novo, às custas dos povos originários ou dos camponeses sem terra. Mas, quando falamos em agricultura não está em questão aquela que produz comida para a mesa dos brasileiros, e sim a de exportação, que na linguagem empresarial ganhou o pomposo nome de agronegócio. Pois esse negócio (o agrobussines) representa mais de 22% da riqueza total produzida no país, o que não é pouca coisa. Só a China tem importado mais de 380 milhões de dólares em produtos agrícolas, bem como os Estados Unidos que encosta nessa mesma cifra.
Segundo informações do governo federal, dados de 2011, os produtos de maior destaque que saem do país são as carnes (US$ 1,14 bilhão); os produtos florestais (US$ 702 milhões); o complexo soja - grão, farelo e óleo (US$ 685 milhões); o café (US$ 605 milhões) e o complexo sucroalcooleiro - álcool e açúcar (US$ 372 milhões). Nota-se que a maior parte da exportação diz respeito a grãos (que no geral servem para alimentar animais) e madeira, dois legítimos representantes da monocultura destruidora de terra.
Cálculos do governo apontam para o sucessivo crescimento da produção de grãos, principalmente a soja, que tem aumentado a área plantada em 2,3% ao ano. Não é por acaso, então, que o Mato Grosso do Sul seja o principal foco de disputa de terra e de violência contra os indígenas. É justamente a região centro-oeste a responsável por 45% da produção de soja. E é lá também onde existe uma grande parcela do povo autóctone, esperando demarcação de suas terras.
A partir do ano de 2003 outra fronteira começou a se alargar na plantação de soja, atualmente outro espaço de violentas disputas, a da região da caatinga e a parte nordestina da Amazônia. Também não é sem razão que o governo esteja levando adiante obras gigantescas como as Hidrelétricas na Amazônia e a transposição do Rio São Francisco. Tudo isso é para atender a demanda dessas plantações. E é sempre bom frisar: não é comida para o povo, é produto de exportação. Vai para fora do país.
Não bastassem os projeto mirabolantes para beneficiar o agronegócio, o governo também disponibiliza, através do Plano Safra, crédito a juros abaixo do mercado. Ou seja, os mais ricos pagam menos pelos empréstimos, enquanto os pequenos, que plantam a comida que vai para a mesa da população, amargam juros altos e falta de apoio. Também está em andamento o Plano Estratégico do Setor Sucroalcooeiro, que visa ampliar a área de cana-de-açúcar para a produção do etanol. mais uma vez, não é comida o que essa gente produz.
A lógica é a de sempre: garantir rentabilidade para poucos donos de terra, reforçar o sistema agroexportador, apoiar a ação de multinacionais predadoras, e seguir o caminho de dependência econômica, já que produtos agrícolas de baixo valor agregado tornam a economia bastante vulnerável. Mas, ao que parece isso não importa. O que vale é seguir investindo nos grandes produtores para manter a balança em superávit, mesmo que isso precise custar soberania, destruição ambiental e morte daqueles que ousam "atrapalhar" o esquema.
Assim, na mesma semana em que indígenas são assassinados no Mato Grosso do Sul, o governo anuncia mais um pacote de 136 bilhões de reais para a agricultura empresarial (o agronegócio). É a completa rendição.
O caso da demarcação das terras indígenas no Mato Grosso do Sul ou em qualquer outro estado do país não está fora do contexto desse avanço e fortalecimento do agronegócio. Os fazendeiros querem mais terras e não estão dispostos a permitir que seres que eles consideram "inúteis" vivam sua cultura de equilíbrio ambiental e desenvolvimento fora do ritmo capitalista. Para aqueles que apenas conseguem enxergar os números da bolsa de Nova Iorque, a população indígena é um entrave que precisa ser retirado do caminho a qualquer custo. Para isso contratam jagunços e mandam bala. Fazem ouvidos moucos ao clamor que se levanta.
Ajudados pela mídia comercial, dominada pela elite que verdadeiramente governa o país, esses empresários rurais conseguem também entrar na cabeça das gentes, fertilizando um discurso racista, preconceituoso e violento. Pessoas simples, trabalhadores, gente que deveria ser solidária aos indígenas na sua luta pelo direito de viverem em suas terras, acabam reproduzindo o mantra diariamente veiculado na televisão: que os índios são vagabundos, que não querem trabalhar, que não precisam de terra, que vão vender os terrenos, que vão explorar a madeira, e assim por diante. "Compram" a mentira diuturnamente produzida e tornam-se cúmplices de mais um massacre da população originária, verdadeira dona desse lugar.
Não bastasse isso o governo federal se curva aos interesses da classe dominante e emprega a força bruta para atacar manifestações legítimas dos povos indígenas e das gentes que apoiam a causa originária.
O conflito que temos visto se explicitar nas estradas do Mato Grosso do Sul, na Amazônia e até aqui, no Morro dos Cavalos, nada mais é do que a luta de classe, típica do capitalismo. De um lado, o latifúndio defendendo seus interesses, do outro, os explorados, buscando vida digna. E, no meio disso tudo uma nação alienada pela constante deformação informativa da mídia comercial que transforma em inimigo aqueles que são as vítimas do sistema.
A saída para esse imbróglio é a luta mesma. Nada será concedido pelo governo, que já se ajoelhou diante do agronegócio. Agora, o desafio é tirar o véu do conflito, escancarar as causas, abrir os olhos dos entorpecidos pela mídia. E isso, sabemos, é coisa difícil demais. Mas, também não é coisa que deva nos imobilizar. Pelo contrário. Nessa hora em que os irmãos indígenas enfrentam as balas e a morte, é preciso apoio concreto e efetivo. O bom mesmo seria que as gentes saíssem para a rua em solidariedade à luta indígena. Enquanto isso não acontece vamos fazendo o trabalho de formiga, levando outra informação, para que as cabeças possam compreender o direito dos indígenas.
Não é possível que os sindicatos e os movimentos sociais não se levantem em apoio. Não é possível que as gentes brasileiras não se co/movam com o drama de uma gente que perdeu tudo o que era seu e que hoje vive confinada em reservas. O que fizeram para serem prisioneiros do estado e da sociedade? Que crime cometeram além de estarem aqui, criando suas famílias, quando os invasores chegaram? Por que precisam pagar pelo fato de existirem e quererem seguir vivendo sua cultura?
O que farias tu se alguém chegasse na tua casa e te arrancasse dali sob o pretexto de que é preciso passar por ali o progresso - mas não de todos, apenas de alguns? Porque o direito do agronegócio é maior do que o de uma comunidade inteira?
Essas são perguntas que não querem e não podem calar. Todo apoio aos irmãos indígenas!
Agora, durante o mais novo ciclo de desenvolvimento dependente brasileiro, que teve início no governo Lula, é justamente essa dita fronteira agrícola que busca se expandir outra vez e, de novo, às custas dos povos originários ou dos camponeses sem terra. Mas, quando falamos em agricultura não está em questão aquela que produz comida para a mesa dos brasileiros, e sim a de exportação, que na linguagem empresarial ganhou o pomposo nome de agronegócio. Pois esse negócio (o agrobussines) representa mais de 22% da riqueza total produzida no país, o que não é pouca coisa. Só a China tem importado mais de 380 milhões de dólares em produtos agrícolas, bem como os Estados Unidos que encosta nessa mesma cifra.
Segundo informações do governo federal, dados de 2011, os produtos de maior destaque que saem do país são as carnes (US$ 1,14 bilhão); os produtos florestais (US$ 702 milhões); o complexo soja - grão, farelo e óleo (US$ 685 milhões); o café (US$ 605 milhões) e o complexo sucroalcooleiro - álcool e açúcar (US$ 372 milhões). Nota-se que a maior parte da exportação diz respeito a grãos (que no geral servem para alimentar animais) e madeira, dois legítimos representantes da monocultura destruidora de terra.
Cálculos do governo apontam para o sucessivo crescimento da produção de grãos, principalmente a soja, que tem aumentado a área plantada em 2,3% ao ano. Não é por acaso, então, que o Mato Grosso do Sul seja o principal foco de disputa de terra e de violência contra os indígenas. É justamente a região centro-oeste a responsável por 45% da produção de soja. E é lá também onde existe uma grande parcela do povo autóctone, esperando demarcação de suas terras.
A partir do ano de 2003 outra fronteira começou a se alargar na plantação de soja, atualmente outro espaço de violentas disputas, a da região da caatinga e a parte nordestina da Amazônia. Também não é sem razão que o governo esteja levando adiante obras gigantescas como as Hidrelétricas na Amazônia e a transposição do Rio São Francisco. Tudo isso é para atender a demanda dessas plantações. E é sempre bom frisar: não é comida para o povo, é produto de exportação. Vai para fora do país.
Não bastassem os projeto mirabolantes para beneficiar o agronegócio, o governo também disponibiliza, através do Plano Safra, crédito a juros abaixo do mercado. Ou seja, os mais ricos pagam menos pelos empréstimos, enquanto os pequenos, que plantam a comida que vai para a mesa da população, amargam juros altos e falta de apoio. Também está em andamento o Plano Estratégico do Setor Sucroalcooeiro, que visa ampliar a área de cana-de-açúcar para a produção do etanol. mais uma vez, não é comida o que essa gente produz.
A lógica é a de sempre: garantir rentabilidade para poucos donos de terra, reforçar o sistema agroexportador, apoiar a ação de multinacionais predadoras, e seguir o caminho de dependência econômica, já que produtos agrícolas de baixo valor agregado tornam a economia bastante vulnerável. Mas, ao que parece isso não importa. O que vale é seguir investindo nos grandes produtores para manter a balança em superávit, mesmo que isso precise custar soberania, destruição ambiental e morte daqueles que ousam "atrapalhar" o esquema.
Assim, na mesma semana em que indígenas são assassinados no Mato Grosso do Sul, o governo anuncia mais um pacote de 136 bilhões de reais para a agricultura empresarial (o agronegócio). É a completa rendição.
O caso da demarcação das terras indígenas no Mato Grosso do Sul ou em qualquer outro estado do país não está fora do contexto desse avanço e fortalecimento do agronegócio. Os fazendeiros querem mais terras e não estão dispostos a permitir que seres que eles consideram "inúteis" vivam sua cultura de equilíbrio ambiental e desenvolvimento fora do ritmo capitalista. Para aqueles que apenas conseguem enxergar os números da bolsa de Nova Iorque, a população indígena é um entrave que precisa ser retirado do caminho a qualquer custo. Para isso contratam jagunços e mandam bala. Fazem ouvidos moucos ao clamor que se levanta.
Ajudados pela mídia comercial, dominada pela elite que verdadeiramente governa o país, esses empresários rurais conseguem também entrar na cabeça das gentes, fertilizando um discurso racista, preconceituoso e violento. Pessoas simples, trabalhadores, gente que deveria ser solidária aos indígenas na sua luta pelo direito de viverem em suas terras, acabam reproduzindo o mantra diariamente veiculado na televisão: que os índios são vagabundos, que não querem trabalhar, que não precisam de terra, que vão vender os terrenos, que vão explorar a madeira, e assim por diante. "Compram" a mentira diuturnamente produzida e tornam-se cúmplices de mais um massacre da população originária, verdadeira dona desse lugar.
Não bastasse isso o governo federal se curva aos interesses da classe dominante e emprega a força bruta para atacar manifestações legítimas dos povos indígenas e das gentes que apoiam a causa originária.
O conflito que temos visto se explicitar nas estradas do Mato Grosso do Sul, na Amazônia e até aqui, no Morro dos Cavalos, nada mais é do que a luta de classe, típica do capitalismo. De um lado, o latifúndio defendendo seus interesses, do outro, os explorados, buscando vida digna. E, no meio disso tudo uma nação alienada pela constante deformação informativa da mídia comercial que transforma em inimigo aqueles que são as vítimas do sistema.
A saída para esse imbróglio é a luta mesma. Nada será concedido pelo governo, que já se ajoelhou diante do agronegócio. Agora, o desafio é tirar o véu do conflito, escancarar as causas, abrir os olhos dos entorpecidos pela mídia. E isso, sabemos, é coisa difícil demais. Mas, também não é coisa que deva nos imobilizar. Pelo contrário. Nessa hora em que os irmãos indígenas enfrentam as balas e a morte, é preciso apoio concreto e efetivo. O bom mesmo seria que as gentes saíssem para a rua em solidariedade à luta indígena. Enquanto isso não acontece vamos fazendo o trabalho de formiga, levando outra informação, para que as cabeças possam compreender o direito dos indígenas.
Não é possível que os sindicatos e os movimentos sociais não se levantem em apoio. Não é possível que as gentes brasileiras não se co/movam com o drama de uma gente que perdeu tudo o que era seu e que hoje vive confinada em reservas. O que fizeram para serem prisioneiros do estado e da sociedade? Que crime cometeram além de estarem aqui, criando suas famílias, quando os invasores chegaram? Por que precisam pagar pelo fato de existirem e quererem seguir vivendo sua cultura?
O que farias tu se alguém chegasse na tua casa e te arrancasse dali sob o pretexto de que é preciso passar por ali o progresso - mas não de todos, apenas de alguns? Porque o direito do agronegócio é maior do que o de uma comunidade inteira?
Essas são perguntas que não querem e não podem calar. Todo apoio aos irmãos indígenas!
terça-feira, 4 de junho de 2013
No olho da rua
Num tempo em que a música popular está reduzida ao ostracismo por conta da
imposição comercial das gravadoras, a Escola de Música Compasso Aberto, de
Florianópolis, abre espaço para a discussão da cultura das ruas, da criação
popular, da música de qualidade. Para isso, realiza nessa quarta-feira, dia 05
de junho, uma conversa aberta com o pianista e professor Márcio da Costa
Ferreira Pinto. Márcio, que é formado na UDESC, tem pautado a sua vida no estudo
da música popular brasileira, das antigas canções tradicionais, do universo
popular. Na palestra, que acontece na sede da Compasso, às 19h30min, ele vai
falar sobre essa trajetória e sobre como a música e o lugar onde ela é
produzida podem se articular, abrindo possibilidades para o trabalho independente.
Para quem gosta de música e de saber da história da música brasileira, aí
está uma pedida imperdível.
Compasso Aberto - Avenida Rio Branco, 223 - Centro.
19h30min - Dia 05/06/2013
segunda-feira, 3 de junho de 2013
Sou Luta Fenaj - Chapa 2
Já é hora de todo e qualquer jornalista saber da importância
da Fenaj. Uma federação de luta, que tenha papel destacado nas batalhas
específicas da categoria, e que efetivamente fortaleça cada sindicato de base.
Muitas são as peleias que precisam ser travadas contra os patrões da mídia
nacional, contra o oligopólio que impede não só o trabalho do jornalista, mas
também a real informação da sociedade. Com o grupo do Luta Fenaj isso será
feito, porque é uma gente comprometida com as demandas dos jornalistas,
principalmente daqueles que estão na base da pirâmide, atrelados às empresas
comerciais.
Dentre os grandes desafios que estão colocados para a Fenaj
e que ainda não foram cumpridos por esse grupo que se perpetua no poder estão
os seguintes pontos, que pretendemos atacar e transformar:
1 - Coordenação nacional das campanhas salariais
2 - Assistência
técnica, jurídica, política e material se for preciso, aos sindicatos filiados
3 - Campanha nacional de filiação dos jornalistas aos
sindicatos
4 - Coordenação dos
esforços de unificação com os demais trabalhadores do setor de comunicação,
especialmente os radialistas e os gráficos
5 - Fortalecer a atuação junto ao poder público para
combater as fraudes rotineiras nas relações de trabalho — até mesmo alterando a
legislação para proteger os jornalistas — e para ampliar o mercado de trabalho
6 - Combate ao
oligopólio dos meios de comunicação social
7 - Defesa da
expansão e qualificação da mídia pública — emissoras educativas, legislativas,
universitárias, comunitárias, além de jornais e outras mídias mantidas pelo
poder público e submetidas ao controle social — gerando empregos e informação
plural e regionalizada
8 - Defesa dos jornalistas que no Brasil e nos demais países
da América Latina e do mundo estejam sendo ameaçados, perseguidos ou mortos por
conta de suas atividades
Venha para a luta
também. É hora de mudar a Fenaj - Chapa 2
- Luta Fenaj
Na eleição, dias 16,17 e 18 de julho, vote Chapa 2
domingo, 2 de junho de 2013
Encantou Bautista Vidal
Encantou no último sábado, o paladino da biomassa: José Walter Bautista
Vidal. Um nacionalista, apaixonado e apaixonante. Impossível ficar
impassível diante do profundo amor que tinha pelo país e pelo pensamento
próprio, autóctone, original. Cientista, professor universitário,
físico de renome, ele foi, juntamente com Urbano Ernesto Stumpf
(1916-1998), o idealizador do motor à álcool, que hoje move a maioria
dos carros brasileiros. Fez da sua vida uma peregrinação incansável
pela soberania energética, dando conferências por todo o país, nos
recantos mais inauditos, e escrevendo livros. Conseguiu editar 12
títulos entre os quais estão : De Estado Servil à Nação Soberana;
Civilização Solitária dos Trópicos; Soberania e Dignidade, Raízes da
Sobrevivência; O Esfacelamento da Nação; e A Reconquista do Brasil.
O último trabalho foi a "Economia dos Trópicos", no qual martela pesada
crítica ao pensamento cepalino do desenvolvimento e manifesta seu desejo
de ver o Brasil saindo da dependência, rompendo com o sistema de
dominação global. Bautista acreditava que o sol, a água e a mata eram as
maiores riquezas do país e que com esses dois elementos o Brasil
poderia ser auto suficiente em energia. Fez dessa ideia o seu discurso
itinerante e defendeu até o fim dos seus dias a proposta da biomassa
como substituta do petróleo e dos outros sistemas poluentes e
destruidores.
Bautista Vidal era chamado para discutir energia em todos os lugares do
Brasil, mas foi muito pouco escutado por aqueles que tinham o poder de
fazer acontecer as suas idéias. Sonhava com um encontro íntimo com
Fidel. Acreditava que o gigante cubano iria entender a sua proposta e
ser cúmplice dos seus desejos. O encontro nunca se deu. Quando Chávez
assomou no cenário latino-americano, voltou seus olhos para o
venezuelano sonhando também trazê-lo para sua proposta de energia limpa.
Com esse teve muitas conversas mas, ao que parece, não teve tempo de
fazer brotar uma outra proposta de matriz energética para a Venezuela.
Foi-se o comandante, e agora Vidal.
Lembro dele, numa noite amena em Campina Grande, falando alto, as
bochechas vermelhas na excitação das palavras que jorravam aos
borbotões. Tudo o que queria era que o Brasil acreditasse nos seus
jovens, que os governos criassem laboratórios, centros de pesquisa, e
criassem a ciência nova, descolonizada. Vidal se mudava em menino quando
defendia esse sonho. Ele acreditou nisso até o fim dos seus dias.
Crítico feroz do neoliberalismo e das privatizações efetuadas por FHC,
Bautista não poupava imprecações contra aqueles que chamada de
vende-pátria. Amava o Brasil, amava a ciência.
Enquanto vivo, suas ideias mofaram nas prateleiras. Agora, encantado,
haverá de brotar outra vez, descoberto por um ou outro. E, dos livros
agora heréticos, haverão de repercutir seus sonhos de um país autônomo,
soberano. Porque é sempre assim que acontece. Existem pessoas que são
póstumas, com suas ideias reconhecidas só bem depois de deixarem o
mundo. Espero que não demore.
De minha parte, tive a alegria de ter convivido com esse "quixote" por
várias ocasiões, sentada a seus pés, ouvindo seus ensinamentos, seus
palavrões, suas indignações. O Brasil fica mais pobre sem esse homem
especial. Mas, Bautista Vidal é um desses seres eternos, que deixam sua
marca indelével. Agora, transformado ele mesmo em energia, retornará, na
íntima fusão a qual tanto amava, de sol, verde a água. E nós, que o
conhecemos e o amamos, o receberemos como merece: estudando seus livros,
defendendo nossa soberania, criando pensamento próprio.
Bautista Vidal, nacionalista, tropical, homem de paixão. Nunca nos deixe
em paz. Tua voz troante, indignada e profética seguirá ecoando. Tu
vives.