Já virou uma tradição no Campeche. Todo primeiro de maio
tem festa comunitária. As pessoas se reúnem na praia, em frente ao rancho da
canoa do seu Getúlio para juntar energias e pedir bênçãos. O desejo é de que as
tainhas cheguem e possam ser colhidas na força do braço dos remadores de canoa
artesanal, coisa que ainda sobrevive por aqui. Desde as primeiras horas do dia,
o cheirinho de café assoma de dentro do rancho e as gentes vêm com seus
pratinhos. Cada um traz um tipo de bolo, uma cuca, um melado, um doce de leite
e ao final, todos podem comer e se preparar para o dia de atividades.
Às nove e meia começa a procissão. Como o povo do Campeche
é bem religioso, as pessoas preparam as imagens de São Sebastião, padroeiro do
bairro, São José, o carpinteiro, que representa todos os trabalhadores, São Pedro,
o protetor dos pescadores e Nossa Senhora dos Navegantes. A caminhada sai da
estátua do pescador, na entrada da praia, percorre uma parte da areia e chega
no rancho onde já está preparada a missa. Rezas, oferendas, cantorias. Tudo
representa o desejo de que a pesca seja farta.
Depois, terminada a parte religiosa é chegada a hora da
festa. Quem principia é a Dona Bilica, personagem de Vanderleia Will, que é
adorado no Campeche. Fazendo uma típica moradora da ilha ela encanta todo mundo
com seu jeito de falar, suas histórias e suas críticas. “Esses políticos vêm
aqui dizer que a pesca só começa dia 15. É dia 15 para os artesanais. Enquanto isso
os atuneiros estão aí arrastando os peixes”. Bilica é puro encantamento, recuperando de
forma divertida a cultura desse lugar tão aviltado pela especulação.
A roda de capoeira, um projeto que viceja no rancho de
canoa, prepara seus berimbaus e tambores e o ritmo malemolente invade a praia,
enquanto as crianças arriscam passos da dança/luta. A banda de música, outro
projeto do rancho, entoa os acordes dos aprendizes e mostra que a música pode
vingar em qualquer lugar, mesmo num rústico rancho de pescadores.
A surpresa do ano foi a apresentação do grupo ilhéu “Gente
da Terra”, que deu um show de cultura. Com sua música animada, cheia de
elementos da vida da ilha, do tempo passado e do presente, colocou todo mundo
para dançar. O almoço forrou as barrigas e o arrasta-pé se estendeu até o final
do dia com a junção de vários músicos da região e de cidades vizinhas que
vieram para a festa. Foi um rico dia de festa comunitária...
Dessas coisas que só parecem possíveis por aqui pelo Campeche.