Alzheimer/Velhice

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Uma cidade na memória



Existem livros que ficam entranhados na gente e a eles sempre voltamos porque nos encantam de maneira diferente a cada retorno. Hoje, quando o corpo gritou por descanso e os gatos me impediram de trabalhar, me fiz ficar na rede, balançando e re-lendo coisas boas. Um desses livros é o que foi produzido por um jovem jornalista chamado James Dadam. Na verdade, os textos foram feitos para o seu trabalho de conclusão do curso de jornalismo e eram tão belos, tão belos, que a gente (eu e minha amiga Raquel Moysés) decidiu criar uma editora: a Companhia dos Loucos. E tudo isso só para fazer circular as belezas que os alunos de então criavam todos os semestres.  O livro do James foi o primeiro de uma série que andamos por aí a colocar na roda da vida.

Pois o livro chama-se “Uma cidade na memória” e conta a história da cidade de Balneário Camboriú/SC através de pequenos textos, quase poesias. É uma coisa tão bonita, tão simples, tão singela, que nos leva a mais profunda emoção. James consegue, de maneira magistral, fazer aquilo que Adelmo Genro ensinou: a partir do singular, transitar pelo particular e atingir o universal. Essa é a viagem que fazemos ao sorver as histórias que brotam das páginas. Coisas que fazem parte da vida de Camboriú, mas que poderiam ter acontecido em qualquer outra cidade do mundo. Um desses textos sempre me tira o fôlego, até porque vivo metida na luta contra a especulação imobiliária aqui na ilha de Santa Catarina. É o “paredes de pitanga”. Espia... “Todos os dias, Jorge e sua mãe iam caminhando para o trabalho. Ali pertinho, também na Brasil, entre as ruas 951 e 971, ficava o local preferido da criançada da época. Era um terreno cheio de pitangueiras e goiabeiras”... O restante vocês precisam conhecer, lendo o livro....

E assim vai o James narrando a história a partir de pequenos momentos do cotidiano das gentes. O pescador, o vendedor do mercado, a bruxa, os políticos, os namorados, todos vão passeando pelas páginas e a gente vai se enredando no colorido das imagens que as palavras evocam. Dá uma alegria por ver textos tão bem feitos e uma tristeza por saber de tanta destruição, em nome do progresso. Camboriú já é outra cidade, cheia de prédios altos e baladas barulhentas. Mas, no livro do James vive ainda o velho lugar que era só pura beleza. “A canoa, que outrora dormia no quintal de casa, agora se deita sobre o monte de areia, esperando que seu dono venha de longe para lança-la ao mar”.

Está na hora de uma segunda edição...

Dia do índio - levanta nação originária


Desocupação da Aldeia Maracanã

Os povos indígenas do Brasil estão de pé. No dia do índio e em todos os dias. Enfrentaram a ocupação de seu território, a escravidão, a servidão, o extermínio, o saque de suas riquezas, e seguem resistindo. Diz a história que não foram poucos aqueles, que nos primeiros tempos da invasão, se deixaram morrer. Preferiram o horizonte de sua mítica "terra sem males" que viver num mundo no qual lhes obrigavam a ter uma fé estranha e a trabalhar obrigado para gente que nem conheciam.  Outros fugiram para longe do litoral, abandonando suas raízes, mas nem assim escaparam. A sanha bandeirante adentrou o território e iniciou uma caçada sem precedentes. Tinham a força das armas de fogo. Os poucos que sobreviveram à "pacificação" foram jogados em reservas, sem direitos, tutelados como crianças ou como animais.

Depois, no começo do século XX, também a região amazônica, ainda intocada, foi sendo conquistada e as comunidades chamadas a se "integrarem" ao mundo branco. Mesmo aqueles que permaneceram aldeados não conseguiram fugir da intrusão.  Aos poucos, as doenças, os hábitos e os vícios do mundo branco, capitalista e opressor, foi se imiscuindo e provocando dor e destruição. Aqueles que optaram por integrar-se nunca o conseguiram. Trazem na pele a marca e o preconceito os persegue, vivo, cada dia mais.

Ao final do último século, por todas as partes desse lindo continente (Abya Yala), desde o Alasca até a Patagônia, as comunidades indígenas começaram a se levantar. Não mais a tutela, não mais o silêncio, não mais o absurdo extermínio. Se tivessem de morrer que fosse peleando como já haviam ensinado suas lideranças mais importantes como o cacique taino Hatuey, no início da colonização, o caraíba Guaicaipuro, o asteca Cuauhtémoc , o quechua Tupac Amaru, o aymara Tupac  Katari, o mapuche Lautaro, o tamoio Tibiriça, o guarani Sepé Tiaraju, o charrua Vaimaca e tantos outros.

E é o que se tem visto desde as ocupações das igrejas de Quito em 1990, o levante armado dos zapatistas, a revolução cultural do povo aymara, a luta dos kichwa no Equador e de todos os povos que vivem no território brasileiro. As comunidades lutam pelo direito a viver na sua terra originária, de vivenciar sua cultura, seus deuses, seus rituais. Querem também tudo aquilo que a humanidade conquistou ao longo desses anos. Querem se apropriar das tecnologias, sem perder seus conhecimentos ancestrais. Querem estar no facebook, mas para divulgar suas propostas de modelos de organização da vida. Os indígenas têm uma história, uma cultura e também têm sonhos e perspectivas de futuro. Querem e vão abrir os caminhos para o lá-na-frente sonhado, a partir de suas referências culturais. Se são boas ou ruins, cabe a eles definirem. Aos que aqui estão e que são fruto de toda essa triste história de invasão e de mescla étnica cabe compreender e respeitar.

É certo que os "brancos" não precisam temer aos índios, como se viu na corrida desesperada dos deputados essa semana. A menos que tenham motivos para isso. Se não, não há o que preocupar. Basta que se conheça a história e se entenda as demandas dos povos. Li, entre tantos textos divulgados essa semana, a frase: "Os índios não são assim tão bonzinhos". E é a mais  pura verdade. Não são e nem têm porque ser. Enquanto foram "bonzinhos" a sociedade os prendeu, matou, sufocou, destruiu, matou de fome. Agora é hora de assomar com a dignidade rebelde. Basta de ser "bonzinho" e aceitar a opressão. É tempo de reforçar ainda mais a luta, porque ela de fato nunca deixou de existir. Ocorre que as batalhas sempre foram travadas de forma pontual, em algum lugar específico. Mas, agora, não. Os povos estão unidos e atuam em uníssono. Levam com eles também aqueles que compreendem a história, que conhecem a dívida que o país tem com os povos antigos, que se comprometem e se sabem também indígenas já que o nosso sangue contém ainda que uma grama do sangue originário.  

Não dá para dar ouvidos às bobagens que a mídia diz, sobre índios querendo tomar as cidades, as casas das pessoas e tudo mais. Isso nada mais do que o bom e velho terrorismo da elite assustada que precisa encontrar aliados na maioria da população. Os índios exigem muito pouco. Um pedaço de terra que permita vivenciar sua cultura e o direito de construir seu futuro do jeito que querem e sabem, autônomos e livres.

Nesse dia do índio fica o convite para que todos se debrucem sobre a história e conheçam os povos antigos, antes de atirarem pedras e julgarem pela cabeça de outros. Sim, os índios não são bonzinhos, bem como não o são os brancos. É tempo de todos se olharem com respeito e respeitarem as opções de cada um. Mas é sempre bom lembrar que não dá para zerar acriticamente tudo que já passou. Essa terra foi invadida e os donos dela foram roubados. A coisa tem de começar daí.  

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Os grandes eventos esportivos e a destruição da vida



 Foto do Rio sem pobreza - propaganda da Petrobras

A fala do jornalista mexicano Maurício Mejía, durante a nona edição das Jornadas Bolivarianas, deu o tom acerca do que se transformou o esporte, não só no Brasil, mas em quase todos os países do mundo, principalmente os chamados subdesenvolvidos: negócio, espetáculo, mercadoria. Segundo ele, no México, que hoje conta com pouco mais de 110 milhões de habitantes, grande parte da população pode dizer como está o Barcelona, quem são os melhores no basquete, os campeões da natação, mas, de fato, 72% dos maiores de 12 anos não praticam e nunca praticarão esportes. No geral, os mexicanos se deixam ficar à frente da televisão assistindo e consumindo o que incita a propaganda. "O México é um país que não joga, tem 7% de analfabetos e mais de 52 milhões na linha da pobreza. Por outro lado, quase 95% das casas tem uma televisão. Os mexicanos leem um média de meio livro por ano, e toda a informação que lhes chega é pela televisão. A considerar a qualidade da televisão do país, o resultado em alienação e consumo sem crítica é assustador". Mejía lembra que apesar de ser um país no qual a população não pratica esporte, o México já sediou duas Copas do Mundo e uma Olimpíadas. Assim, pode-se observar que o legado desses eventos que tanto consomem de dinheiro público é praticamente nenhum.

Para Jaime Breilh, médico e epidemiologista equatoriano que discute a relação saúde e esporte, isso não é novidade. Segundo ele, no sistema capitalista o esporte, como tudo, está ligado a uma lógica de morte, e não de vida. É que o sistema orienta toda a sua força para a produção de mercadorias e isso implica na consolidação de um modelo específico de civilização. Dentro do capitalismo, portanto, o esporte assume essa condição também e a vida assim como a saúde das pessoas é o que menos importa. O que vale é saber como conseguir mais acumulação de capital. Se nesse movimento for necessário sacrificar pessoas, espaços, natureza, o que for, não tem problema.

Essa afirmação encontra concretude na narrativa de Renato Cosentino, do Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas. Embasado em documentos e vídeos de propaganda do próprio governo, ele mostrou como a cidade está sendo preparada para os grandes eventos esportivos, sem que sejam levadas em conta as preocupações da população. Obras faraônicas estão sendo feitas, comunidades inteiras estão sendo destruídas, vidas aniquiladas e tudo em nome da beleza do espetáculo. Até o velho Maracanã será privatizado, com tudo a sua volta sendo arrasado. Assim foi eliminada uma histórica pista de atletismo que ficava ao lado do estádio, bem como um dos melhores colégios públicos do Rio, que deverá ir abaixo até a Copa de 2014. As peças de propaganda do novo estádio mostram o mesmo como um lugar de executivos, no qual os torcedores ocuparão cadeiras estofadas e vibrarão de terno e gravata. Um lugar para a elite e não para o povo. Também foi possível ver as explicações dos governantes do Rio de janeiro, mostrando em vídeos promocionais, como construirão estradas que passam por cima de comunidades inteiras, sem que a vida das pessoas seja respeitada.

Essa lógica do esporte como um mero espetáculo, como mercadoria, é coisa dos tempos modernos, do sistema capitalista. Desde que as Olimpíadas surgiram na Grécia, o elemento principal do encontro era justamente o amadorismo. A proposta era incentivar aqueles e aquelas que praticavam esporte a um convívio saudável de troca de experiência e de propagação da ideia de que o esporte produz uma vida plena. Segundo Marcelo Proni, da Universidade de Campinas, esse tipo de consciência sobre o esporte só existiu até os anos 30, quando então também a política passou a se imiscuir no processo. As Olimpíadas de Berlim, comandadas por Hitler, já assumiam um caráter de doutrinação e depois da segunda mundial, a disputa política da chamada guerra frio passou também a se misturar com o evento. As competições passaram a ser também entre as nações. Nos anos 60 do século passado, com a entrada da televisão e os direitos de transmissão, o dinheiro passou a mandar e o esporte assumiu a sua condição de mercadoria.

Proni também acredita que até a Copa do México esse tipo de evento não seria considerado algo que obrigatoriamente deixasse um legado. As exigências com relação aos equipamentos e espaços não eram tão grandes. Foi depois do ano de 1986, com achegada de Havelange na Fifa e sua ligação visceral com a Adidas que o futebol passou a ser um negócio a mais. Nos anos 90, esse tipo de evento ficou restrito aos países mais ricos, mas, depois, com o chamado processo de crescimento de algumas nações até então subdesenvolvidas, o foco mudou. O capital precisava se expandir e nada melhor do que entrar nesses países que principiavam a crescer. É o caso da China, África do Sul e agora o Brasil. Como se pode ver, tudo está ligado às necessidades da acumulação do capital.

O jornalista Juca Kfouri, que acompanha o esporte brasileiro desde há anos, não teve pudores em afirmar que por aqui tudo está "podre". Segundo ele, o Brasil não tem uma política esportiva, logo eventos como a Copa e as Olimpíadas não podem deixar qualquer legado. Conta que chegou a acreditar que com o governo Lula as coisas pudessem começar a mudar, mas, aos poucos, também Lula foi se deixando seduzir e nada avançou. Para Juca, o esporte no Brasil acaba sendo apenas um escoadouro de lavagem de dinheiro e máquina de lucro para muito poucos.  A chamada "década dos esportes", como os governantes tem chamado esses anos em que vão realizar os dois grandes eventos esportivos, deixará dívidas para o país e sofrimento para grandes fatias da população que estão sendo removidas ou violentadas, como é o caso das comunidades "pacificadas". Juca lembrou que não tem o menor cabimento construir "arenas" gigantescas em lugares como Manaus ou Natal, onde não haverá demanda para ocupação. O destino desses lugares, que consumirão milhões de reais certamente será o mesmo dos grandes estádios construídos em outros países que acabaram sendo sucateados, demolidos ou abandonados. É o caso do famoso Ninho de Pássaro, da China, que há anos não vê um jogo de futebol. 

Eddie Cottle, sindicalista sul-africano, mostrou claramente o que aconteceu no seu país por conta da realização da última Copa. Uma espécie de repetição de tudo aquilo que temos visto acontecer por aqui. Obras faraônicas, comunidades inteiras removidas, lugares "higienizados", e exploração dos trabalhadores. Segundo ele, um grande estádio, construído na cidade do cabo, agora está para ser implodido, pois não há como manter uma estrutura tão gigantesca. Ou seja, dinheiro público jogado às traças. Eddie conta que durante todo o processo de preparação para a Copa, muitas foram as lutas do povo, capitaneadas principalmente pelos sindicatos, que foram muito atuantes. "Conseguimos alguns avanços no que diz respeito a direitos, mas foi tudo". As centenas de famílias desalojadas continuam vagando pela capital e os que foram levados para a tristemente famosa "cidade de lata", seguem vivendo nos contêineres, sem  perspectivas de terem suas casas de verdade. Eddie ainda contou que os sindicatos descobriram um documento, assinado entre o estado e as empresas que "fizeram" a Copa, no qual o estado dava todas as garantias para exploração e venda de serviços e mercadorias. Ao final, os que ganharam com a Copa foram as empresas multinacionais e as elites locais. Nada mais que isso.

No Brasil, o envolvimento dos sindicatos é praticamente nulo diante de todas as mazelas que já se concretizaram e das que se anunciam. Segundo o professor Fernando Mascarenhas, da UNB, mesmo os movimentos sociais mais combativos não estão dando atenção para o processo que envolve toda a construção da Copa e das Olimpíadas. "Não se vê o MST falando no assunto, nem os sindicatos". Para ele, sem o envolvimento dessas forças, a "patrola" dos megaeventos vai passar e apenas os atingidos de primeiro turno se mobilizarão, como é o caso das famílias desalojadas que hoje, no Rio de janeiro, principalmente, travam uma luta renhida. O fato é que há uma ignorância completa sobre o tema e, no geral, a esquerda sempre se mostrou bastante avessa a qualquer coisa ligada ao esporte. Juca Kfouri lembrou que quando era mais jovem e militava na esquerda, várias vezes foi chamado de alienado por gostar de futebol. O professor Nilso Ouriques, da Unoesc, também fez referência a esse preconceito, o que mostra o tanto que o tema não encontra eco nas cabeças mais "revolucionárias".

Nada mais equivocado do que abandonar o país a própria sorte nesse universo de megaeventos. O esporte - e principalmente o futebol - permeia a vida cotidiana de grande parte da população e as consequência para o país de toda a essa maquiagem que se está produzindo nas chamadas cidades-sede  repercutirão em toda a sociedade. A "lógica da morte" avança a passos largos, os acordos com as grandes empresas se fazem às claras. O país corre o risco de construir uma estrutura gigantesca - com grandes quantias de dinheiro público - que mais tarde serão abandonadas e não servirão para a democratização do esporte. Pelo contrário. Por suas características grandiosas, gerarão despesas demais e os atletas amadores não encontrarão abrigo em seus muros.

Assim como no México, onde a realização de duas Copas e uma Olimpíada não gerou nenhum avanço na prática de esporte, a tendência é de que no Brasil, a situação até piore. Com a destruição dos campinhos, com a derrubada das comunidades e o avanço da especulação imobiliária é mais provável que a prática de esporte diminua.
A nota dissonante durante as Jornadas Bolivarianas foi a realidade cubana. Na ilha socialista o esporte está submetido a uma política de estado e está incorporado a prática cotidiana da população. Vive não apenas nas escolas, onde a prática da educação física é obrigatória, mas se democratiza na proliferação de centros de esportes, praças, campos de futebol, de basquete, de basebol, de atletismo, em cada pequena cidade. A lógica é de pequenas estruturas para atender a todos. A performance que os atletas cubanos conseguem nas competições vem justamente dessa política que investe na saúde bem como no esporte de rendimento, mas só o consegue porque tem o esporte encarnado na vida das gentes. Para um cubano, a realidade do atleta que se vende a patrocínios, que é comprado por outros países para aumentar o número de medalhas, é totalmente incompreensível. O esporte em Cuba não é mercadoria, está intimamente ligado à saúde da população e no campo competitivo se vincula ao sentimento de profundo amor pela pátria. Jogar numa olimpíada é defender Cuba.

E já que falamos em medalhas, Jaime Breilh, do Equador, também desmistificou esse tal quadro de medalhas que tanto é divulgado durante os jogos olímpicos e que parece deixar patente o fato de que só os países ricos, como os Estados Unidos ou a China, estão no topo do mundo do esporte. Jaime chama a atenção para que as pessoas façam as contas pelo número de habitantes dos países. Assim, ele chega a um quadro diferente sobre os "melhores do mundo". No ano de 1998, por exemplo, o quadro de medalhas ficou assim:  Em primeiro lugar os estados Unidos, depois Rússia, depois China. Mas confrontados com o número de habitantes, a coisa muda: em primeiro fica a Nova Zelândia, depois Cuba, seguida da Dinamarca. Os Estados Unidos cairiam para vigésimo primeiro e China para trigésimo. Então, é tudo uma questão de perspectiva.

Para os conferencistas que fizeram as Jornadas Bolivarianas desse ano o esporte é algo que deve ser levado a sério, pois ele não é mercadoria. Está ligado intimamente ligado com a saúde, com a qualidade de vida, com a soberania de um povo.  E, no caso do Brasil, ainda há tempo de caminhar para uma política que atue no sentido de garantir a prática esportiva com qualidade, com espaços adequados, de caráter popular. Assim, em vez de construir "arenas" gigantescas e inúteis, o Ministério dos Esportes deveria se preocupar em definir uma política nacional de esporte comunitário, para produzir vida e saúde e não consumidores de produtos tão inúteis quanto as propaladas arenas. É preciso que o ministro Aldo Rabelo defenda mais o povo brasileiro do que a Nike. Se isso não mudar, a tendência é caminharmos para um país em que pessoas obesas se postarão diante da TV para falar de esporte, sem vivê-lo. E, no que diz respeito aos grandes eventos, corremos o risco de inventar um país que não existe, apenas para entrar no jogo do negócio. Renato Cosentino, do Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas, mostrou uma propaganda da Petrobrás no exterior, falando sobre o pré-sal, que exibe uma foto aérea do Rio de Janeiro, na qual as favelas e todos os sinais de pobreza foram apagados pelo fotoshop. Essa é a dura realidade do Brasil. Está sendo preparado para a Copa, e haverá de eliminar os pobres, custe o que custar. Tudo em nome de alguns dias de entretenimento para muito poucos e de lucros estratosféricos para muito poucos também.  


Eddie Cottle - sindicalista da África do Sul



terça-feira, 16 de abril de 2013

Atentado em Boston

Entrevista com o historiador Waldir Rampinelli.


Madrugada violenta na Venezuela

Manifestantes da MUD 

O candidato derrotado nas eleições venezuelanas Henrique Capriles convocou seus aliados para se manifestarem,  o que gerou uma série de manifestações de violência e morte na noite de ontem. Vários espaços bolivarianos foram atacados, sedes de governo, carros oficiais, inclusive as casas de parentes de dirigentes governamentais. Também foram atacados os Centros de Diagnóstico Integral, onde atuam os médicos cubanos, com alguns deles sendo incendiados. Muitos dirigentes do PSUV foram agredidos, dois morreram. Algumas sedes do PSUV foram queimadas, tudo desencadeado pelo apelo do candidato derrotado e a mídia de tradição golpista.

 Por outro lado, a MUD, apesar de vociferar nas redes de televisão que não aceita o resultado,  sequer solicitou formalmente ao CNE o pedido de auditoria dos votos. Segundo a jornalista Eva Golinder a auditoria dos 54% dos votos foi feita sob as vistas de todos os observadores, e isso é praxe. Para auditar os 46% restantes, é necessário que se formalize o pedido, coisa que a MUD ainda não fez. Por outro lado, incita à violência, prenunciando golpes.

Os moradores do bairro 23 de janeiro cercaram o Palácio Miraflores, protegendo o presidente. 

A direita golpista não vai dar trégua. 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

15 de abril de 1961 – primeira derrota do imperialismo em América Latina


Cuba havia vencido a ditadura de Fulgêncio Batista em 1959 e começava sua caminhada rumo a outra forma de organizar a vida. Fidel Castro dava sinais de que se acercava do socialismo. Assim, poucos meses depois da posse de John F. Kennedy, o governo estadunidense, apoiado na estratégia da CIA e aliado a exilados cubanos que queriam depor o governo revolucionário da ilha, decidiu invadir Cuba através da Baia dos Porcos. Treinados pelo exército estadunidense cerca de 1.200 exilados cubanos acabaram vivendo um fragoroso fracasso.

A operação, montada nos Estados Unidos, era chamada de “operação Mangusto” e tinha por objetivo assassinar o líder Fidel Castro. Ocorre que uma ação dessa natureza já era esperada pelos revolucionários, sobretudo por Che Guevara, que já tinha vivido situação semelhante quando estava na Guatemala e viu a ação da CIA contra o governo de Jacobo Arbenz.  


A batalha que ficou conhecida como “A batalha de Girón”, durou três dias e terminou com a maior parte dos agressores capturados  pelo exército revolucionário cubano. É que John Kennedy acabou não enviando  seus marines para ajudar na batalha, temendo envolver o seu governo de forma muito visível. Depois dessa descarada agressão, Fidel Castro anunciou no dia 16 de abril, num discurso histórico, a vitória sobre o imperialismo e o caráter socialista da revolução.