Alzheimer/Velhice

sábado, 1 de dezembro de 2012

O México em luta


O México viveu hoje momentos de grande conflito durante a posse, no congresso, do novo presidente, Enrique Peña Nieto, que recebeu a faixa presidencial numa insólita cerimônia, no primeiro minuto do dia, meia noite e um. Segundo os manifestantes que foram às ruas e cercaram o palácio legislativo, o presidente, ao qual chamam de “narcotraficante”, não é legítimo, portanto não pode tomar posse.

O palácio legislativo amanheceu cercado e a polícia se preparou para receber os manifestantes. Houve confronto e pelo menos uma pessoa morreu, ferida na cabeça como mostra a foto que já circula pela internet. O manifestante morto seria Carlos Valdívia.
 
mais informações no sitio Ocupa San Lázaro -

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A saúde em Santa Catarina



As mulheres falavam alto, porque, afinal, o ônibus é espaço pedagógico. Discutiam a greve dos trabalhadores da  saúde que, em Santa Catarina, já passa dos 30 dias. No dia anterior trabalhadores do transporte público e os bancários haviam feito uma paralisação em apoio aos grevistas, provocando horas de filas e ansiedade, tendo o apoio de estudantes, sindicalistas e militantes sociais. E, no dia seguinte, a imprensa catarinense tocava o pau em todo mundo, alegando que o "pobre" governador Raimundo Colombo, não tinha como dar o aumento "absurdo" que os trabalhadores pediam. Não bastasse isso, ainda vinham os "baderneiros" dos motoristas e cobradores fazer confusão.

O tema era esse. As mulheres discutiam a eterna capacidade da imprensa de distorcer os fatos. Ao longo da greve, passa para a população a ideia de que o "absurdo" é os trabalhadores quererem aumento, e não o fato de um governo deixar a população sem atendimento de saúde simplesmente porque não quer se render à luta. Algumas pessoas viravam o rosto com um olhar fulminante até as mulheres, numa clara atitude de discordância. Certamente acreditavam na imprensa e nas inverdades que cria.

Mas, no banco da frente, uma outra mulher espiava com o rabo do olho, até que não se conteve. "As pessoas não sabem o que a gente passa". Explicou que era trabalhadora da saúde, aposentada há alguns anos. "O que faz os trabalhadores entrarem em greve agora é que foi tirada do salário a hora-plantão, E é isso que dá alguma dignidade ao que a gente ganha. Sem isso, o meu salário, por exemplo, fica 800 reais. Como é que uma família vai se sustentar assim?".

Então, enquanto partilhavam o trajeto, as mulheres foram ouvindo aquela cuidadora de gente. Ela contou que a maioria dos trabalhadores da saúde é obrigada a ter dois e até três empregos para  garantir um salário digno. E que isso se reflete no trabalho. "Imagine a gente passar duas, três noites sem  dormir, nos plantões. Quanto erros não são cometidos? O perigo que isso é? Não porque a gente seja incompetente, é o cansaço. Fico pensando porque as pessoas não se indignam com isso. Amanhã ou depois elas vão parar num hospital e vão ser cuidadas por nós, trabalhadores esgotados, cansados, aturdidos. Isso sim deveria ser discutido".

A greve na saúde é de fato um transtorno e uma fonte de dor. Os empobrecidos, que sofrem tanto no dia-a-dia, sem médico, sem atendimento digno, sem acesso aos equipamentos modernos de diagnósticos, sem opções de tratamento nas cidades do interior, submetidos a ambulancioterapia, acabam enfrentando mais um obstáculo. Mas, se formos observar bem, nada muito diferente do cotidiano, o qual só é vencido por conta desses mesmos trabalhadores, alguns deles verdadeiros heróis, que conseguem tirar leite de pedra.  

O governador Raimundo Colombo, que não precisa de atendimento público, prefere ignorar o grito dos trabalhadores. Faz queda de braço e se mantém inflexível. A imprensa reproduz os argumentos dizendo que o Estado não tem condições de dar a gratificação que substituiria a hora-plantão. Observem que a reivindicação dos trabalhadores ainda é modesta: apenas uma gratificação, que viria para substituir a hora-plantão, diminuída ou retirada. Ainda assim, o governador manda corta salários, humilha, recebe com gás de pimenta. Ora, não tem condições de dar a gratificação? Segundo dados do governo, no Portal da Transparência, só em recursos próprios o estado arrecada por mês 12 milhões para a saúde, gastando apenas 1,5 com pessoal. Do total do orçamento anual a saúde representa 15% de gasto. Que tal então cortar os comissionados que têm salários variando de 5 a 12 mil? Ou a publicidade, que consome 110 milhões ao ano? Dinheiro o estado tem, o fato que não quer investir na saúde. É, porque salário é investimento.

A questão é simples. Um trabalhador como o da saúde, que atua diretamente na sustentação da vida, precisa estar bem pago e bem descansado. O certo seria ter um único emprego, descansar o suficiente para poder cuidar bem de si e dos outros. Mas, o que se vê é um trabalhador desesperado, esgotado pelo excesso de trabalho, tendo de atuar com uma estrutura sucateada, um sistema desmontado, equilibrando-se no milagre. É esse o que cuida do doente, que pode ser o teu filho ou tua mãe. Aí está o ponto que deveria ser discutido pela imprensa.

O ódio da população deveria voltar-se para isso. Para o descaso com a saúde pública, com os trabalhadores, com a estrutura dos postos e dos hospitais. Mas, a maioria das gentes prefere odiar o trabalhador que luta. E mais, quando um trabalhador, esgotado pela exploração, comete um erro que custa a vida de alguém, todos os holofotes se voltam contra ele, apontado como o monstro, o assassino, o irresponsável. Lembram da enfermeira que injetou café na veia de uma pessoa? Pois é. Essa é crucificada! Não há nenhum dedo apontando para o Estado, para o governador, o prefeito ou para o diretor do hospital. A culpa é sempre individual, e do mais fraco.

O fato é que o desmonte da saúde é responsabilidade de quem governa, de quem gere os recursos, de quem decide para onde vai cada centavo. A negativa da gratificação aos trabalhadores é só uma ponta do problema. Há que pagar os trabalhadores, garantir a sua dignidade, há que garantir atendimento à população nos postos de saúde, nos hospitais, há que modernizar a estrutura, garantir os melhores equipamentos. E as pessoas também precisam se mobilizar para que isso aconteça de fato. Não basta choramingar. Há que lutar. Mas, para isso seria necessária uma articulação estadual e nacional, para além do sindical, que pudesse avançar para uma mudança radical do Estado brasileiro. Esse é o desafio da esquerda nacional. Ser capaz de gestar no meio das gentes o desejo de um mundo outro, que não esse, no qual os direitos precisam ser diuturnamente lembrados, na esgrima com o poder. Resta saber se isso é possível num país onde as lideranças sindicais e sociais estão - na maioria - domesticadas  e cooptadas. 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Chegou a Pobres 29

Escrita a favor da vida

Moradia, cidade, sistema prisional... vida...



Ao chegar na marca de 29 edições, a revista Pobres & Nojentas, que circula a partir desta semana, traz reportagens que, de um modo ou de outro, se relacionam com temas sobre os quais tratamos nas 28 outras edições. São temas que também aparecem nos grandes meios de comunicação, mas que aqui são contados de outra forma, sob outro olhar. E é bom terminar 2012 com mais uma edição, porque a equipe da revista bem que gostaria de garantir a periodicidade da publicação, de dois em dois meses. Mas não dá para prometer isso.

Assunto é o que não falta, mas a Pobres sai quando é possível. E, como escreve a jornalista Elaine Tavares, procuramos oferecer um conteúdo que leve à crítica desta sociedade e à transformação. Está também visceralmente vinculada à nossa proposta editorial a ideia de que a palavra rebelde, criadora, subversiva precisa de espaço para se expressar. Por isso a revista se faz de um jeito aparentemente errático. Não é que a linha editorial seja confusa ou amadora. É porque faz parte do conceito editorial ser um espaço livre das palavras de quem não tem ainda onde clamar.

Em novembro, a revista Veja publicou reportagem racista e preconceituosa sobre o povo Kaiowá e Guarani. A Aty Guasu Guarani e Kaiowá e a Comissão de Professores Guarani e Kaiowá estão exigindo direito de resposta aos Guarani e Kaiowá. Vale conhecer um trecho da carta escrita pela Comissão:

“Os jornalistas precisam estudar mais um pouco. Conhecer o que é índio, o que é cultura, o que é tradição, o que é história, o que é língua, o que é Bem-Viver. A terra, para nós, é o nosso maior bem viver, coisa que ainda a imprensa não entendeu muito bem. Não entendeu que é possível escrever coisa boa sem prejudicar.

O povo pobre não tem acesso à imprensa, quem tem são os latifundiários e os empresários. São eles que comandam. Nós somos brasileiros, somos filhos da terra. É preciso valorizar todas as culturas, o que a imprensa não faz. Mas precisava fazer.

O direito à terra é um direito conquistado pelo povo brasileiro que precisa ser cumprido. E é possível fazer essa luta com solidariedade, com amor, com carinho, que é a competência do ser humano. Não é com maldade, como fez essa reportagem.

A matéria quer colocar um povo contra outro povo. Quer colocar os não-índios contra os índios. Essa matéria não educa e desmotiva. Ao invés de dar vida, ela traz a morte. Porque a escrita, quando você escreve errado, também mata um povo”.

Aqui na Pobres & Nojentas, é isso o que esperamos: que a escrita esteja sempre a favor da vida.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Cultura mexicana

A maravilhosa cantora mexicana, de Oaxaca, Lila Downs