Alzheimer/Velhice

sábado, 1 de outubro de 2011

Comunidade do Campeche faz ouvir sua voz: cai a passarela


De repente, no meio das dunas, entre o verde da mata e o amarelo da areia começou a crescer um monstro de pau. Misteriosamente vinha de um condomínio de luxo, construído na beira da praia. Por dias, o que se via da areia era uma profusão de madeiras, pregos e homens. A comunidade espiava, no seu jeito ilhéu, cismando. E o monstro vindo.

Então, numa manhã, aquela língua de madeira chegou à praia, destacando-se nas dunas como uma ferida aberta, uma grotesca chaga, um manifesto separatista. Desembocava cinicamente, e sem pudor, no exato lugar onde por anos vicejou o bar do Chico, espaço solidário da comunidade do Campeche, lugar das conspirações, das lutas e das festas populares. O bar que foi derrubado numa manhã chuvosa e gris, sem que as gentes do lugar pudessem fazer nada, depois de levar anos em luta para mantê-lo onde estava. Vieram as máquinas e os homens do poder. “Está sobre as dunas, tem que cair”, diziam.

Agora, o Condomínio Essence, um pequeno monstrengo moderno, de dezenas de apartamentos espremidos entre si, mas de alto padrão, reafirmava seu poder, tripudiando da comunidade na qual pretende incluir mais de mil moradores. O monstro de madeira era uma passarela que ia desde a saída dos prédios até a beira da praia, serpenteando por entre as dunas. Um refúgio seguro para os privilegiados moradores. Uma caminhada de 300 metros sem colocar o pé no chão. A natureza servindo utilitariamente apenas como paisagem.

A comunidade que cismava, decidiu agir. Vieram reuniões, idas aos órgãos ambientais, prefeitura, secretarias. Se o bar do Chico caíra, porque a passarela haveria de ficar nas dunas? “Vai proteger”, alardeavam alguns defensores da natureza. Mas, quem vive no Campeche sabe muito bem o que é que protege as dunas e a natureza. É a gente do Campeche, pessoas que amam o lugar e que amam viver num bairro jardim, onde a natureza não é coisa, é parte de cada um. Esse povo não protege a natureza porque é bonito ver o verde, as dunas e a praia. Protege porque o verde, as dunas, a praia estão entranhados no modo de ser de quem vive nesse lugar, nativo ou não.

Todos os caminhos institucionais foram trilhados, mas ninguém ouviu o clamor. O secretário do “desenvolvimento” ainda ameaçou: “Isso é o futuro. Virão outras”. Isso porque o projeto dessa gente que administra a cidade é fazer uma Florianópolis só para quem pode pagar bem caro por ela. E isso inclui a natureza. Nos enormes cartazes das construtoras, a praia, a areia, o sol, tudo está à venda, incluído no preço. E com um sabor a mais. A pessoa ainda não precisará viver o incômodo de sujar o pé. Pode pegar sua cadeirinha na porta de casa e ir até a beira do mar protegida pela passarela. Haverão de banhar-se?

Na última sexta-feira (30) o povo protestou. Nada aconteceu. No dia seguinte, voltaram as gentes. Desta vem em maior número. Sábado de sol. Praia bonita. Passarela terminada, bem nos destroços do bar do Chico. Era coisa demais. Uma instalação artística re-construiu o velho bar, com uma foto do seu Chico. Alguns choravam. Outros reclamavam, indignados. Então alguém gritou: “ao chão”. O mesmo grito dos homens do poder ao histórico bar numa manhã chuvosa. Mas, nesse sábado, não teve máquina. Teve gente. Teve comunidade. Uma a uma, unidas em pequenos grupos, as pessoas foram arrancando os paus, na mão mesmo, puxando, quebrando, libertando a duna do monstro de pau. Em pouco tempo já havia uma montanha de madeira e o malfadado “deck” já era. Ouvia-se o riso, corriam as lágrimas, palmas. “Foi um dia histórico. A comunidade mostrou que, unida, pode fazer valer a sua voz”.

A passarela foi arrancada da duna, mas a luta não acabou. Essa é uma queda de braço entre dois projetos muito claros: um deles prega o desenvolvimento predador, ainda que só de alguns, os clientes. O outro insiste em manter um modo de vida que avança com o tempo, mas que não destrói. Que preserva cultura, jeito de ser, simplicidade e harmonia com a natureza. É uma batalha titânica que cabe agora ao sul da ilha. O norte já passou por isso e perdeu. Aqui no Campeche, agora que é noite e cai uma chuva fina, as pessoas estão em casa, cismando e fazendo planos. Conheço meus vizinhos e sei: se depender de cada um, a passarela não volta mais.

O Bar do Chico vira filme...

O Todd e o Ivan são duas criaturas lindas que estão fazendo um filme sobre o bar do Chico e as lutas do Campeche. O trabalho já está quase pronto... Aqui vai um pedacinho do que está por vir... será um longa, com uma hora e meia... A gente vê esse pedacinho e já se emociona..Imaginem o que será o trabalho final.... Valeu Todd, valeu Ivan...

The Dirty Little War Over Chico's Bar from Isabelle Gasparini on Vimeo.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

As enchentes em Blumenau

Foto: Catarina Gewehr

A imagem fala. Cercado pela água, um dos mais importantes cientistas de Blumenau, Fritz Müller, deve se perguntar: o que é que os homens fizeram dessa cidade? Primeiro comentador da polêmica obra de Charles Darwin, Müller, que vivia em Blumenau desde 1855, mandou para o cientista britânico uma pesquisa com crustáceos da ilha de Santa Catarina, na qual comprovava a idéia evolucionista do colega. Fritz Müller foi também o primeiro cientista a apresentar modelos matemáticos para elucidar a chamada “seleção natural”. Chamado por Darwin de “o príncipe dos observadores”, o cientista, que atuava como professor na cidade catarinense, acabou citado mais de dezessete vezes nas edições posteriores do “Origem das Espécies”, e manteve correspondência por longo tempo com Darwin. Mas, naquela primeira semana de setembro ali estava ele, em bronze, ilhado, impotente, vendo a cidade encher mais uma vez.

Quem também esteve ilhada por alguns dias foi a professora Catarina Gewehr. Morando no quarto andar ela não teve nada de seus pertences tocado pelas águas, mas, do alto da janela, sem luz, sem água, viveu o que descreve como um sentimento de “total desolação”. Catarina conta que para onde quer que olhasse ali estava a água, tomando toda a região próxima à FURB. “Foi a primeira vez que vivi uma enchente aqui em Blumenau. Não dá medo, não dá pavor, o que dá isso mesmo, uma profunda desolação. E é o que a gente vê nos olhos das pessoas por toda a cidade. Quando a água baixou e eu saí para a rua, tentando ajudar, esse era o sentimento que eu via em toda a gente. Desolação e resignação. Como se aquilo tudo fosse coisa natural, triste, mas natural”.

Na região de Blumenau, antes de chegarem os colonizadores alemães, viviam os Xokleng e os Kaigangs. Eram comunidades coletoras, de cultura simples, mas conhecedoras dos segredos da natureza da região. Como era comum aos indígenas da época, nos tempos de chuva eles se moviam para longe dos rios, pois sabiam que as divindades das águas avançariam pela terra afora, tornando fértil o vale e fazendo com que nascessem mais bonitos os frutos locais. A relação com a natureza era de conhecimento profundo e harmonia. Mas, todo esse equilíbrio se quebrou com a chegada dos primeiros imigrantes, trazidos para o Brasil com o objetivo de colonizar os “lugares vazios”. Só que esses lugares não estavam vazios e o processo que introduziu o homem branco – a maioria de famílias alemãs e italianas – foi de violenta destruição dos povos autóctones. Não bastasse o genocídio, as famílias que chegavam, no sonho de uma vida melhor, foram fincando raízes nas margens dos rios, expondo-se elas mesmas aos caprichos das divindades aquáticas.

Quando em 1850, o doutor Hermann Blumenau chegou ao vale para fundar uma comunidade, ninguém imaginava que o lugar iria protagonizar, sistematicamente, longas batalhas com o grande rio (Itajaí-açu). A primeira delas já foi no ano de 1852, quando, no mês de novembro, o rio passou dos 16 metros (a maior cheia até agora), segundo dados do Centro de Operação do Sistema de Alerta (CEOPS), da FURB (Universidade de Blumenau). Desde aí, até o ano de 2005 foram contabilizadas 68 enchentes, ficando de fora a tremenda tragédia de 2008, quando a cidade praticamente ruiu, e a última, do mês de setembro de 2011.

O que parece intrigante é que, se desde os primeiros anos da colonização até hoje, as enchentes se sucedem, por que não houve e nem há uma prevenção efetiva, de não ocupação das margens, para que as famílias não tenham de viver cotidianamente os horrores do alagamento? Ainda segundo o CEOPS, historicamente, sempre que acontecia um grande desastre por conta das águas, como nos anos de 1911, 1927, 1957 e 1983, o poder público discutia com mais afinco a questão, inclusive propondo medidas de prevenção. Mais isso só fervilhava no pequeno período pós-enchente, arrefecendo na medida em que a cidade voltava à vida normal. Assim, o que os pesquisadores da FURB observam é que, apesar do impacto das tragédias, a população e o poder público tendem a manter inalterada a disposição de usufruir das medidas de defesa contra as enchentes, porque, afinal, não querem arcar com os ônus políticos/econômicos/culturais que isso acarreta.

No que diz respeito aos morros também já existem dezenas de estudos que comprovam a fragilidade destes espaços na região – com alguns deles propensos a deslizar mesmo sem ocupação humana - e ainda assim os morros seguem sendo ocupados, com as pessoas sequer sabendo desse “detalhe”, uma vez que a própria mídia acaba não cumprindo o seu papel de divulgar esses estudos. Se houvesse uma política de informação, muitas famílias desistiram de comprar uma casa ou um sítio em lugares vulneráveis, ou ainda, lugares vulneráveis não seriam vendidos. Mas, os estudos feitos sobre enchentes ou deslizamentos só aparecem, re-nascidos das gavetas empoeiradas, sempre depois dos desastres, e para as gavetas voltam assim que a população vai retomando seu cotidiano.

Segundo o engenheiro florestal, e pesquisador do CEOPS/FURB, Julio Refosco, a cidade tem a seu dispor soluções estruturais, tais como canalizações, reflorestamento, recuperação das matas ciliares nas margens do rio. Mas estas são consideradas muito caras. Para se ter uma idéia, tão logo a cidade se recuperou da enchente de 1983, em 1986 foi finalizado um mapa, chamado de primeira carta-enchente, no qual estão bem delimitadas as áreas que são atingidas assim que o rio chega aos 8 metros. Esse seria um instrumento que deveria nortear as políticas públicas de longo prazo, mas acaba não sendo levado em conta. Julio lembra o exemplo de Curitiba que decidiu criar parques ciliares nas margens dos rios, fazendo assim um trabalho de longo prazo, mas verdadeiramente preventivo.

No caso de Blumenau sabe-se que esse tipo de ação seria bastante complicado. Há muita gente morando nas áreas próximas ao rio, seriam necessárias muitas desapropriações e, numa cidade onde o poder público não tem um plano bem claro para o desalojo, fica bem difícil para as famílias aceitarem sair do lugar onde vivem desde há gerações. Mas a pergunta que não cala é: o que acaba sendo mais caro, realocar as famílias ou viver essa tragédia a cada dois, três anos? Julio Refosco concorda que talvez fosse mais vantajoso para a sociedade blumenauense apostar numa solução de longo prazo, com uma mudança radical na estrutura da própria cidade, mas também argumenta o quanto isso pode ser difícil considerando a realidade concreta das pessoas.

Na enchente desse mês de setembro, quando o rio chegou a 12 metros, as áreas atingidas foram bem maiores do que as da carta-enchente de 1986 e novos instrumentos deverão ser construídos a partir dessa realidade. Mas, outros problemas se avolumam na margem ocupada do rio, como é o caso da margem esquerda. Ali, além da invasão das águas, quando o rio cresce, está acontecendo o problema da instabilidade do terreno. Quando em 1990 a região passou por obras paliativas da enchente, houve uma canalização do rio. Isso fez com que as águas aumentassem de velocidade, retirando sedimentos das margens e causando instabilidade. Um exemplo típico de uma intervenção emocional, sem visão de longo prazo. “Medidas como muro de contenção, por exemplo, não são indicadas, porque acabam provocando problemas ainda maiores” diz Refosco. Ele também avalia que proteger as margens do rio com vegetação seria o mais adequado. “É certo que isso não é coisa para se fazer num ano, precisaria de um programa de no mínimo 50 anos, para retirada gradual de casas e construção de parques. Isso teria de ser um programa que envolvesse educação ambiental, reordenamento geral da vida, uma coisa muito mais ampla do que tomar medidas emergenciais”.

O fato é que, como ensina a escritora canadense Naomi Klein, existe sempre um grupo bem pequeno de pessoas que lucra muito com a “política do desastre”. Quando ocorrem catástrofes de destruição de cidades, logo vêm as empresas de reconstrução que movimento milhares de reais em materiais, cimento, etc... Há gente que lucra muito com a desgraça alheia. Talvez seja por isso que os instrumentos de conhecimento que a cidade já produziu através de seus cientistas e pesquisadores permaneçam escondidos nas gavetas. Ou isso ou os administradores estão falhando, como bem lembra a professora Catarina. “Não dá para a gente viver acreditando que isso é natural. O poder público tem que se responsabilizar por essa situação. Tem que propor saídas concretas e não paliativas. Os estudos existem. Há todo um contingente de pesquisadores que produzem informação de qualidade, que propõe soluções. Mas não são levados em conta”. Ela lembra a própria Universidade de Blumenau, que tem uma histórica produção sobre as enchentes. Se as soluções definitivas requerem um redesenho na cidade isso deveria ser encarado como uma possibilidade, senão de agora, pelo menos do futuro. Um bom planejamento e vontade política podem mudar essa dinâmica de tragédia atrás de tragédia.

Por outro lado há que haver também um compromisso dos sindicatos e movimentos sociais da cidade em fazer esse debate de maneira mais profundo. O sistema capitalista de exploração da natureza já deu mostras do seu esgotamento. Ou se pensa a cidade de forma a atuar em harmonia com a natureza, ou ela vai seguir seu curso. E aí não será possível chamar a tragédia de uma desgraça natural. Ela é fruto da forma de ocupação pela qual se optou desde os tempos do Dr. Blumenau. A cidade está então colocada entre a cruz e a caldeirinha. Ou aceita a lógica de destruição/reconstrução permanente, ou se repensa, assentada em outra lógica, de uma vida segura em relação harmônica com o grande rio.

Segundo informações da CEOPS a prefeitura já chamou os pesquisadores para a feitura de uma nova carta-enchente, para saber quais espaços da cidade são alagados a 8, 9, e 12 metros. E o que se espera é que, em posse desses dados, a comunidade blumenauense, informada, possa decidir sobre seu futuro.

Agora vem aí mais uma Oktoberfest, a famosa festa que recebe turistas de todo o país. E, por conta dela, as ruas do centro e da região dos pavilhões já estão como novas, limpas e belas. As pessoas da cidade, conhecidas por sua fortaleza, se colocam em pé. Isso é bom, movimenta o turismo, traz dinheiro para a cidade, levanta a auto-estima. Mas, lá na frente, novas chuvas cairão, e o rio seguirá seu curso. Talvez fosse hora também de reinventar a cidade para que ali, sua gente pudesse bem-viver, sempre, e não só nos dias de festa.

Jornalistas demitidos no Paraná


26 de setembro – dia de passaralho!
Por Aniela de Almeida

O Sindicato de Jornalistas do Paraná tem em seu histórico bater insistentemente na tecla de que os meios de comunicação paranaenses estão, a cada dia, a depreciar a profissão em troca de ‘benefícios’ obscuros, que prejudicam a prática do bom jornalismo. Pode parecer pesado, mas o que explicar a demissão do profissional Dary Junior, âncora do RIC Notícias Paraná, que em menos de um ano de casa, cresce de uma forma relâmpago e, ‘do nada’, é demitido sem justa causa? (Dary chegou em novembro de 2010 para cobrir férias e, devido ao seu trabalho sério, tornou-se âncora e chefe de reportagem do principal jornal da emissora).

A desconsideração para com os jornalistas no Paraná não para por aí. A Band Curitiba demitiu oito profissionais (repórter, editor de imagem, pauteiro, repórter-cinematográfico – profissionais os quais eles insistem em denominar operador de câmera) também ontem. Os motivos, segundo um profissional que buscou o Sindijor hoje, pasmem, não lhe foi informado. A direção da entidade entrou em contato com o diretor de jornalismo da Band, Fabrício Binder, e a resposta dele para esse número excessivo de desligamentos foi que “a empresa está passando por um momento de readequação orçamentária”.

Mas para piorar a situação do drama humano vivenciado por aquele que perde o emprego vai além para esse profissional que veio até a entidade. Ele estava empregado em outra emissora e decidiu dedicar-se exclusivamente à Band. “Trabalhei um mês e me mandaram embora com a carteira em branco. Entrei no primeiro dia deste mês, meus documentos foram encaminhados ao RH. Eu pensei que estava efetivado e agora me sinto um lixo”, revela o profissional que prefere não se identificar por temer retaliação.

Demissão por competência não é mera coincidência!

No caso da RIC/Record, de acordo com o que o Sindijor apurou, a demissão de Dary Junior se deu “por readequação de equipe”, segundo nota da assessoria de imprensa do Grupo, seja lá o que isso queira dizer. Mas Dary tinha uma postura opinativa sobre questões do cotidiano, temas pontuais e que, muitas vezes, batiam de frente com a administração do município de Curitiba e do Governo do Estado. A boa audiência do programa do início da noite, ancorado por Dary e a atuação dele como âncora e chefe de reportagem era destacada entre os colegas de profissão. E o programa ganhava (não sabemos se continuará a ganhar) espaço entre os telespectadores paranaenses. Quem substitui Dary Junior é a jornalista Thayse Leonardi no RIC Notícias.

Outra questão polêmica é a readmissão do deputado estadual Gilberto Ribeiro (PSB), que voltou a apresentar o programa Balanço Geral da RIC. Coincidência ou não, Ribeiro faz parte da base do governo Beto Richa e é do mesmo partido do atual prefeito de Curitiba. O afastamento de Ribeiro está ligado ao atropelamento (segundo o Boletim de Ocorrência – embriagado) de um adolescente em Piraquara, em março deste ano. Há rumores de que a emissora prefere alguém ligado ao governo dentro da sua emissora, já que ano que vem tem eleição.

Mais mudanças

Segundo o blog Terceiro Caderno – do jornalista Paulo Galvez da Silva –, outras mudanças aconteceram. O apresentador Paulo Roberto saiu do programa Balanço Geral, da RIC/Record e já estréia no “Tribuna da Massa”, da Rede Massa/SBT, canal do Ratinho. Já o apresentador Adilson Arantes, que apresentava o “Tribuna”, agora, pelo que parece, ficará na geladeira.


Efeito dominó


O Sindijor-PR, infelizmente, espera para esta semana mais demissões ou profissionais indo para geladeira das redações. Isso porque segundo informações vindas da Rede Massa, dois programas caíram – Destaque e Tribuna da Massa 1ª Edição.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Calle 13 - Latinoamérica

Você não pode comprar o sol...


terça-feira, 27 de setembro de 2011

HAITI: “Aba Minustah”

Foto: Hansel Herz

Às vésperas de mais uma renovação da permanência da missão de paz, protestantes pedem a saída das tropas da ONU comandadas pelo Brasil; documentos do Wikileaks confirmam rumores sobre golpe contra Aristide

Por Marina Amaral e Natalia Viana -

Publicado originalmente em www.apublica.org

Três soldados uniformizados seguram com força um rapaz moreno sobre um colchão. Com os braços torcidos por trás das costas, ele recebe um soco e tem sua calça abaixada entre as risadas estridentes do grupo. Um quarto soldado, de pé e sem camisa, abre a braguilha da sua calça camuflada e aproxima o seu pênis do menino, deitado de costas. Ele faz uma expressão de terror; pouco depois, os soldados o soltam, ainda entre gargalhadas.

O vídeo que expõe a tortura e suposto estupro do jovem haitiano por parte de quatro soldados uruguaios, integrantes da força da ONU no Haiti (MINUSTAH), vazou no começo de setembro pela internet, provocando comoção nacional. O presidente Michel Martelly, condenou veementemente o ato que “revoltou a consciência da nação’, e a porta-voz da missão de paz, Eliane Nabaa, expressou a preocupação de que o “lamentável” episódio possa “impactar nossa relação com os haitianos”. O ministro brasileiro da Defesa, Celso Amorim, ressalvou: “Não se pode contaminar toda a missão de paz por um episódio
específico”.

Para a maioria da população haitiana, porém, o humilhante vídeo é apenas mais um motivo de revolta contra a missão militar da ONU, há tempo demais no país. Enquanto a discussão segue a passos lentos da ONU – na semana passada, o secretário-geral Ban Ki-Moon recomendou a redução de 12 mil soldados e policiais para cerca de 9 mil, voltando à quantidade anterior ao terremoto de 2010, mas uma decisão só vai sair em outubro – as ruas de Porto Príncipe têm sido palco de vigorosos protestos que são difíceis de ignorar.

No dia 14 de setembro deste ano, um protesto contra a presença das tropas da ONU teve início em frente à base militar comandada pelo Brasil em Bel Air. Os cerca de 400 manifestantes que pediam o fim da Minustah foram até a frente do Palácio Presidencial foram dispersados por diversas bombas de gás lacrimogêneo atiradas pela Polícia Nacional Haitiana (PNH). Outros protestos estão sendo articulados para as próximas semanas.

Na última sexta-feira, falando na ONU, Martelly afirmou sobre os protestos: “Muita gente está fazendo política, pedindo a saída da Minustah porque eles querem criar instabilidade. A Minustah só pode sair quando houver uma alternativa”.

Porém, muito antes do assombro causado pelo vídeo, já era comum ver pelas ruas de Porto Príncipe pichações com os dizeres “abaixo a Minustah” ou “abaixo a ocupação”; e a população se referia desdenhosamente à força comandada pelos brasileiros, apelidada de “pepe blanc”, ou “estrangeiros de segunda mão” – em referência à etnia das tropas composta por nove países latino-americanos, quatro países asiáticos, além das Filipinas e Jordânia, que se juntaram aos “estrangeiros de primeira mão” – Canadá, Estados Unidos e França.

Depois de sete anos no Haiti, com a participação de mais de 13 mil soldados brasileiros, 1 bilhão de reais de gastos do governo, o sentimento dos haitianos é bem diferente do entusiasmo demonstrado no jogo da seleção do Brasil, em agosto de 2004, o marco midiático da missão.“A verdade é que, em geral, a Minustah é vista como uma força de ocupação”, diz Michèle Montas, jornalista haitiana que foi porta-voz do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon.

Uma das promessas de campanha de Martelly, eleito no início desse ano, foi a retirada das forças da ONU no país. Cinco meses depois da posse, porém, o presidente haitiano ainda não conseguiu nem montar o governo – dois nomes propostos para primeiro-ministro foram rechaçados pelo parlamento –, que dirá mandar as tropas embora.

O ministro da Defesa, Celso Amorim, antes de assumir a pasta, também afirmou em um programa de TV que “não fazia sentido” manter as tropas brasileiras no país. Recentemente, já como ministro da Defesa, ponderou: “Não podemos ter uma saída desorganizada que gere uma situação de caos”.

O início de tudo: circunstâncias nebulosas

A ocupação da ONU no Haiti começou assim que o avião militar americano partiu na madrugada de 29 de fevereiro de 2004 levando o presidente Jean-Bertrand Aristide em direção ao exílio. Desestabilizado por meses de greves e protestos, que degeneraram em rebelião armada, Aristide assinou a carta de renúncia em uma reunião, na noite do dia 28, com representantes diplomáticos da França e dos Estados Unidos.

Até hoje não se sabe exatamente o que aconteceu nesse encontro.

Três dias depois, em uma comunicação por celular de Bangui, a capital da República Centro-Africana, a um amigo em Washington, Aristide afirmou ter sido forçado a renunciar e a deixar o país, “sequestrado por soldados americanos armados”, o que contribuiu, desde o começo, para o ceticismo da população em relação as forças da ONU no país.

O desfile vitorioso dos rebeldes em Porto Príncipe, “vestindo uniformes novos, bem armados e equipados”, também despertou, além de aplausos, desconfiança, como relata um integrante de uma respeitada organização humanitária, que presenciou o espetáculo. “Acho um insulto à nossa inteligência os Estados Unidos dizerem que não sabiam de nada, enquanto os rebeldes treinavam do lado dominicano da fronteira, encostado em Miami”, diz o observador.

O contingente da Força Multinacional Provisória (Multinational Interim Force – MIF), formado por franceses, americanos e chilenos chegou na capital haitiana logo depois dos rebeldes. A criação da MIF pela resolução 1529 foi aprovada no mesmo dia 29, assim que o Conselho de Segurança, do qual o Brasil participava como membro provisório, recebeu uma cópia da carta de renúncia de Aristide do Representante Permanente do Haiti junto às Nações Unidas.

Horas depois de entrar em Porto Príncipe, as tropas da MIF já dividiam o controle militar do país – os americanos ficaram com as favelas e os franceses no alto do morro, nas áreas mais ricas, que abrigavam as famílias franco-haitianas. “Os franceses andavam sem capacete, com camisas de mangas enroladas, e os americanos com blindados, capacetes, atirando muito, mas sempre para cima. Dois dias depois, os chimères (defensores armados de Aristide) desapareceram”, conta a mesma testemunha.

O embaixador americano protesta

Do lado civil, os preparativos para a deposição de Aristide começaram antes, como comprovam documentos, entre eles um relatório interno da USAID de julho de 2002 obtido pelo repórter Joshua Kurlantzick, da revista americana Mother Jones.

Nele, o então embaixador americano no Haiti, Brian Dean Curran, faz um protesto formal contra Lucas Stanley, coordenador do IRI – International Republican Institute – no Haiti.

Durante os anos de 2002 e 2003, o IRI, ligado ao Partido Republicano dos EUA e financiado pela USAID, ministrou “cursos de treinamento político” para 600 líderes da oposição haitiana na República Dominicana, o que configuraria ingerência na política interna do país, proibida pelas regras da agência de desenvolvimento americano.

Investigado pelo Congresso dos Estados Unidos, o IRI foi acusado de estar por trás de duas organizações que conspiraram para derrubar Aristide: o Grupo 184 – coalizão de 184 ONGs, capitaneada por André Apaid, empresário que participou do primeiro golpe contra Aristide, em 1991; e a Convergence Démocratique, frente oposicionista formada em 2000 por diversas facções da elite do país.

Segundo a imprensa haitiana, os líderes da oposição eram responsáveis pela ligação das forças estrangeiras com os rebeldes armados,
liderados pelos ex-militares do exército (dissolvido por Aristide em seu primeiro mandato, em 1994, depois de sofrer um golpe militar).

A rebelião ganhou corpo com a violência da política haitiana na repressão aos protestos e as ações criminosas dos chimères (“matadores” em créole), fortalendo os clamores da oposição por intervenção internacional. Em 16 de janeiro de 2004, o grupo 184
promoveu uma grande manifestação diante dos escritórios da ONU com essa reivindicação.

Como disse o embaixador Curran, em seu discurso de despedida na Câmara de Comércio Haitiana, ainda em 2003: “Muitos no Haiti, em vez de me ouvir, preferem ouvir seus amigos em Washington”. E acrescentou: “Eu os chamo de chimères de Washington”. Curran, diplomata de carreira, sempre se opôs à derrubada de Aristide.

Uma rosa é uma rosa

Os documentos diplomáticos publicados integralmente pelo Wikileaks na semana passada também revelam o desejo americano de reorganizar o Haiti sem Aristide.

Embora apenas cinco desses telegramas com informações relevantes sobre o Haiti sejam anteriores à queda, eles mostram que os EUA estavam sondando os países caribenhos, e até o Vaticano, sobre essa possibilidade, afastada por todos pelo grande apoio popular de que ainda desfrutava Aristide. Um bom exemplo é o telegrama de 17 de abril de 2003, em que o primeiro-ministro das Bahamas mostra-se “pouco disposto” a pressionar Aristide.

A partir de 31 de janeiro de 2004, porém, enquanto o Caricom – Comunidade do Caribe – negociava com Aristide um plano de estabilização – e a crise se agravava -, os telegramas passam a refletir a preocupação crescente dos países do Caribe com a possibilidade de uma imigração em massa dos haitianos, compartilhada com os Estados Unidos, como revelam os títulos: “Um ansioso primeiro-ministro solicita encontro sobre Haiti “, “Governo das Bahamas busca apoio para convocar Conselho de Segurança sobre o Haiti”.

O pragmatismo atingiu o auge após a queda de Aristide, seguida por uma manifestação pública do Caricom questionando as circunstâncias da renúncia.

Um telegrama de 9 de março de 2004, relata o encontro em Nassau entre o embaixador americano e o embaixador das Bahamas no Haiti, Eugene Newry. Segundo o representante dos Estados Unidos, Newry confirmou que houve “irritação “ no Caricom pelo fato de o órgão não ter sido consultado “sobre a saída repentina de Aristide”, mas afirmou que os governos caribenhos estavam satisfeitos com as medidas adotadas pelos Estados Unidos e França na constituição do governo provisório.

E afirmou: “Uma rosa, ainda que com outro nome, será sempre uma rosa. Deixo aos historiadores a tarefa de descobrir exatamente o que aconteceu na noite que Aristide voou do Haiti”.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Trabalhadores das universidades voltam ao trabalho


A greve dos técnico-administrativos das universidades inaugurou uma nova prática no governo Dilma: ignorar olimpicamente as demandas dos trabalhadores que não se renderem à lógica da “mesa de negociação permanente”. Essa proposta, numa primeira vista, parece a mais democrática possível. O governo se coloca diante da opinião pública como aquele que, permanentemente, está aberto ao diálogo, não havendo, portanto, razão alguma para que qualquer categoria precise usar do instrumento da greve. Mas, uma boa análise da prática da negociação permanente mostra que ela é exatamente isso que quer dizer: permanente, ou seja, sem finalização.

Foi por isso que os trabalhadores das universidades entraram em greve. Durante mais de dois anos estiveram em mesas de conversa. Cada uma delas marcava nova reunião, que marcava outra. E os problemas se acumulando. Nas universidades seguia a passos largos a privatização, sem novas contratações, os salários congelados, estagiários avolumando-se, fazendo serviço de técnico, trabalhadores sem perspectiva de carreira, cargos iguais com vencimentos diferentes e outros cargos importantes sendo extintos. Problemas demais, solução de menos, ou melhor, nenhuma. E, para piorar o governo ainda acenava com a privatização dos hospitais universitários, lançamento de fundo de pensão privado e um congelamento de salários por 10 anos. Tudo isso em nome do “ajuste” e da “crise”.

Mas, qualquer pessoa bem informada sabe que o “ajuste” só aperta o cinto dos trabalhadores. O governo cortou 50 bilhões do orçamento para redirecioná-lo para o pagamento da dívida, que hoje consome 47% do orçamento nacional. Paga 12% de juros ao mês aos especuladores de dinheiro podre e tira o pão da boca dos pais e mães de família. Empresta grana para o FMI e para o Abílio Diniz, enquanto corta saúde e educação do povo. A coisa acabou insustentável. Daí veio a greve. Não havia mais qualquer alternativa.

O movimento foi intenso e muito rapidamente a quase totalidade das 51 instituições federais aderiu. Já era tempo demais esperando pela boa vontade do governo que, em vez de acenar com propostas concretas, só anunciava retirada de direitos. E a greve, como sempre, por ser num setor que não tem “produção” aparente, começou a se arrastar. Já é histórico as greves da educação serem sempre muito longas, passando dos três meses. Ainda mais quando são levadas pelos técnico-administrativos. No geral esses trabalhadores parecem invisíveis e leva algum tempo para que estudantes e professores sintam a sua falta. No primeiro mês, a vida segue sem sobressaltos, causando desconforto apenas para quem usa o Restaurante Universitário e a Biblioteca. No segundo mês, já final de semestre, é hora da ação das coordenadorias, que passam as notas que definem matrículas. Aí o rombo começa a aparecer. Quando reinicia o semestre então vem o caos. Mas, até chegar a esse momento já se passaram três meses. É quando o governo começa a se mexer para fechar um acordo.

Só que desta vez, no governo de Dilma, não foi assim. Os meses foram passando e os representantes dos ministérios da Educação e do Planejamento repetiam o mesmo mantra: “Não negociaremos em greve”. O propósito era quebrar as pernas do movimento, vencer pelo cansaço, ao melhor estilo da dama de ferro inglesa, Margareth Thatcher, que colocou no chão uma greve de mineiros, no início de seu governo neoliberal. E, enquanto se negavam a receber a representação dos técnico-administrativos, foram fazendo acordos salariais com as demais categorias. Cantavam de galo, tripudiavam.

Nas universidades, com a greve instalada, o conflito foi crescendo. Estudantes queriam condições de estudo, professores, condições de ensino – e para isso são necessários os técnicos. Algumas reitorias pressionaram o governo, outras nem tanto. Assomaram com mais força os velhos conflitos entre professores e técnicos, tão comuns em dias “normais”. Mesmo nas universidades com pouca ação de luta, a paralisação foi grande, suficiente para entravar a máquina universitária. Mas, ao governo, universidade parada pareceu não incomodar. Nenhum clamor foi ouvido.

Os trabalhadores fizeram o bom combate. Fecharam universidades, realizaram marchas em Brasília, infernizaram em frente aos ministérios, peregrinaram pelos corredores do Congresso. Deputados pediram para abrir negociação, não foram ouvidos. Centrais sindicais tentaram negociar, foram enxotadas. Não haveria conversa. Era a primeira vez na história das greves que um governo se recusava à negociação e ao diálogo. Os dias passaram, os prazos de inclusão de reajuste salarial no orçamento passaram, os projetos entreguistas passaram - tais como o da privatização dos hospitais universitários - e não houve chance de negociação.

Então, passados mais de 115 dias, os trabalhadores decidiram que era hora de voltar ao trabalho. Não se dobraram ao governo. Não cederam às chantagens. Saem porque decidiram. Sem nada, sem promessas. A luta foi dura, as derrotas sangraram. Não haverá reajuste salarial, os HUs foram privatizados e as universidades ficaram mais vulneráveis diante da sanha do capital que quer transformar educação em mercadoria, da mesma forma como está fazendo com a saúde. A história, como sempre, mostrará quem estava certo nessa queda de braço.

A volta ao trabalho é um recuo no campo de batalha. Um recuo tático. Que ninguém se iluda. Quem conhece a história de luta da base da Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Universidades sabe que perder uma batalha não é perder a guerra. Afinal, é essa gente guerreira que vem servindo de escudo contra os ataques neoliberais iniciados ainda nos anos 80. Um a um eles foram rechaçados e, se algumas perdas aconteceram, a grande batalha contra a privatização total sempre foi vencida, no mais das vezes na união com professores e estudantes comprometidos. A universidade segue sendo pública, sem pagamento de mensalidades, com a garantia de certa qualidade. Não é a universidade perfeita, todos sabem, mas ainda assim é melhor do que as conhecidas fábricas de diplomas, e há vida e luta em suas entranhas.

115 dias de greve não é coisa pouca. Os estudantes sofrem, mas os trabalhadores também. Que ninguém pense que os grevistas dormem em paz. Fazer greve é subverter a ordem e isso cobra um preço alto demais. Quem entra numa batalha assim sabe que haverá incompreensões, ódios, revoltas. Mas, ainda assim, vale a pena viver isso na pele se for para continuar garantindo a universidade pública. Os trabalhadores lutam por salários, e isso é legítimo, e também lutam pela universidade sonhada. Os que vivenciam a greve na sua inteireza têm isso bem claro. Cada um desses que são acusados de “vagabundos” por alguns estudantes e professores sabem que sob seus corpos em luta se ampara essa instituição.

Por isso, ao voltar para o trabalho nesse 26 de setembro, ninguém entrará de cabeça baixa, derrotado. Porque ali na frente ainda há batalhas a travar. E, a despeito dos ódios de alunos e professores que só conseguem enxergar o hoje, eles seguirão, abrindo portas, dirigindo carros, cuidando dos laboratórios, das coordenadorias, das secretarias, do patrimônio, da segurança, vigiando os governos que buscam entregar a universidade nas garras privadas. E ainda, tal qual Jeremias, no alto da montanha a vigiar a tormenta, eles voltarão quando tiver de ser. Porque a universidade haverá se seguir pública, gratuita e de qualidade.